Wednesday, 19 December 2018

Good Reading: "A Contrição perfeita - uma chave de ouro do Céu" by Fr. Agostinho Lehmkuhl, S.J. (in Portuguese)



NIHIL OBSTAT.
Fr. Benigno Randebrock, O.F.M. Cens. Dioc.

IMPRIMATUR.
Bahia, 11 de Março de 1913.
Mons. Castro,
Vigário Geral


PRÓLOGO
                Tanto pela importância da matéria, de certo bem pouco conhecida da maioria dos cristãos, como pela abundância de doutrina e o interesse com que ela é tratada no que diz respeito à sua utilidade prática, bem pode dizer­se que este livrinho encerra em suas poucas páginas o valor de muitos volumes.
                O grande meio de salvação chamou Santo Afonso Maria de Ligório a um livrinho que, entre muitos outros, compôs sobre a oração; e diz dele que queria vê-lo nas mãos de todos, por tratar de um meio tão principal e de tanta eficácia para assegurar o Céu às almas. Pois, com não menos verdade, ainda que em sentido algum tanto distinto, devemos dizer outro tanto da prática do amor e contrição perfeita, como sendo o grande meio de salvação, pois que está em conexão ainda mais imediata com a consecução da vida eterna do que somente a oração.
                Por isso, queria eu, como Santo Afonso com o seu, ver este livrinho nas mãos de todos, persuadido de que a sua atenta leitura e a execução prática das doutrinas que nele se ensinam, abrirão as portas do céu a muitíssimas almas, para quem, sem ele, estariam eternamente cerradas, e de que hão de acrescentar de uma maneira inesperada o direito ao Céu e à eterna bem­aventurança a muitas outras que, pela guarda da graça santificante, já são credores dele.
                Não devia haver cristão algum que não estivesse solidamente instruído sobre a transcendência que tem um ato de contrição e caridade perfeita, pois que é de incalculável importância tanto para a hora da morte própria como para a dos outros, a quem talvez tenha de assistir.
                Assim, pois, ninguém deveria esquecer-se desta verdade em tempo de saúde; porém, para o tempo de enfermidade e de perigo sobretudo, é sumamente para desejar-se que a conheçam a fundo e profundamente a gravem na alma os que a têm esquecido ou só imperfeitamente a conhecem.
                Oxalá, pois, se difunda o mais possível esta obrazinha, e não duvido de que a sua leitura será acompanhada de inumeráveis bênçãos do céu.

Pe. Agostinho Lehmkuhl, S.J.
Valkenburg, Colégio de Santo Inácio, outubro de 1903.


INTRODUÇÃO.
                Ao ver o título de Chave de ouro do Céu, parece-me, amado leitor, que estarás ansioso por ver se este livrinho corresponde por dentro ao que promete por fora. Mas, pode ser que te ocorram algumas suspeitas. Talvez que, nas práticas dominicais, o teu zeloso pároco te tenha prevenido contra certas folhas e publicações supersticiosas, contra as Chaves do Céu, os Ferrolhos do Inferno, as Orações maravilhosas autênticas e contra todas as mercadorias parecidas, chamem-lhe como quiserem.
                “Porém, se este livrinho é o que deve e promete ser — dirás, de ti para ti — seria ditoso, teria uma chave do Céu, de que poderia muito bem aproveitar­me”. E verdadeiramente de ouro e digna, portanto, de todo o apreço deve ser a chave que este autor me apresenta reluzente diante dos olhos. Se é de verdadeiro ouro, e não só de ouropel, estou feliz.
                Sim, amado leitor, sólida e legítima é a chave e bem fácil de manejar por certo: é a contrição perfeita. Ela te abrirá, em cada dia e a cada momento, o Céu se o fechaste com o ferrolho do pecado mortal; e, sobretudo se, no fim da tua vida, como pode suceder, não tiveres nem puderes ter a teu lado o sacerdote, que é o depositário das chaves da divina misericórdia, a contrição perfeita será a última e suprema chave com que, ajudado da graça de Deus, poderás franquear-te o Céu. Porém, para isso, é preciso que te acostumes a manejá-la em vida.
                Pela contrição perfeita, estão salvas no Céu inumeráveis almas que, de outro modo, se teriam perdido para sempre. Já vês, pois, que é importante, e sumamente importante, o que te recomendo neste livrinho. Por isso, dizia o douto e piedoso cardeal Franzelin: “Se eu pudesse percorrer os campos pregando a palavra divina, nenhuma outra coisa pregaria com mais freqüência do que a contrição perfeita”.
                Mais adiante, no capítulo V, te direi como vim a escrever este livrinho e a percorrer assim os campos pregando a contrição perfeita. Deus Nosso Senhor, por seu amor e misericórdia, te assista com sua graça para que o compreendas, e, sobretudo, para que o pratiques, que é o que importa, conforme a sua doutrina.
                Posto isto, começo em nome do Senhor.

QUE É A CONTRIÇÃO PERFEITA?
                Contrição é uma dor da alma e uma detestação dos pecados cometidos. Deve acompanhá-la o propósito, quer dizer, uma firme vontade de emendar a vida e de não mais pecar. Para que a contrição seja legítima, deve ser interna e estar na alma, isto é‚ que não seja uma mera expressão feita com os lábios e sem reflexão: isto seria apenas contrição de boca.
                Não é necessário manifestar exteriormente a contrição interna por meio de suspiros, lágrimas, etc... tudo isto pode ser sinal de contrição, não é, porém, sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus.
                Além disto, a contrição deve ser geral, quer dizer, deve estender-se a todos os pecados cometidos ou, pelo menos, a todos os mortais. Deve, finalmente, ser sobrenatural e não meramente natural, pois esta nada aproveita.
                Segue-se que a contrição, como todo o bem, deve proceder de Deus e da sua graça, e, com a graça de Deus, desenvolver-se na alma. Porém, não tenhas receio; basta que a peças, basta que tenhas boa vontade e te arrependas por algum motivo legítimo, sobrenatural, e Deus te dará a graça necessária.
                Se o motivo se funda na natureza ou somente na razão (por exemplo, nos danos temporais, na vergonha, doença, etc.), é muito fácil que a dor seja puramente natural e sem mérito; porém, se o motivo da contrição é alguma verdade da Fé, por exemplo: o inferno, o purgatório, o céu, Deus, etc., então a contrição é legítima, sobrenatural.
                E esta contrição legítima e sobrenatural pode, por sua vez, ser de duas classes: perfeita e imperfeita; e com isto temos chegado a nossa matéria da contrição perfeita. Em poucas palavras, contrição perfeita é a contrição que procede de amor; imperfeita, a que procede do temor de Deus.
                É contrição perfeita quando procede de amor perfeito a Deus. Pois bem, o nosso amor a Deus é perfeito quando o amamos porque Ele é em Si infinitamente perfeito, formoso e bom (amor de benevolência), e porque nos mostrou de uma maneira tão admirável o seu amor (amor de agradecimento).
                É imperfeito o amor de Deus quando o amamos porque esperamos alguma coisa dEle. De modo que, com o amor imperfeito, pensamos sobretudo nos dons; com o perfeito, na bondade do doador; com o amor imperfeito, amamos mais os dons; com o perfeito amamos mais o doador, e isto não tanto pelos seus dons como pelo amor e bondade que nos dons se manifesta.
                Do amor nasce a contrição. Será, pois, perfeita a contrição se nos arrependermos dos pecados por amor perfeito de Deus, quer seja de benevolência quer de agradecimento. Será imperfeita se nos arrependermos dos pecados por temor de Deus, porque pelo pecado perdemos a recompensa de Deus, o Céu, e merecemos seu castigo, o inferno ou o purgatório.
                Na contrição imperfeita, fixamo-nos principalmente em nós e nas desgraças que, segundo a Fé nos ensina, nos acarretou o pecado. Na contrição perfeita, fixamo-nos sobretudo em Deus, na sua grandeza, na sua formosura, amor e bondade, vendo quanto o pecado O ofende, e que foi o pecado que Lhe ocasionou tantos sofrimentos e dores para nos redimir. Na contrição perfeita, não queremos unicamente o nosso bem, senão o bem de Deus.
                Com um exemplo o verás melhor. Quando São Pedro negou o Divino Salvador, saiu fora e “chorou amargamente” (Lc. 22,62).
                — Por que chora São Pedro?
                É, porventura, pensando na vergonha que vai ter diante dos outros apóstolos? Se assim fosse, a sua dor teria sido puramente natural e sem mérito. É porque receia que seu Divino Mestre lhe tire, como ele merece, o cargo de Apóstolo e Superior e o expulse do seu reino? Então seria boa contrição, mas somente imperfeita. Mas, não; Pedro arrepende-se e chora, antes de tudo, porque ofendeu a seu amado Mestre, tão bom, tão santo, tão digno de ser amado e por ser tão desagradecido ao seu imenso amor por ele. Tem, pois, verdadeira e perfeita contrição.
                Agora dize-me: tens tu também, cristão de minha alma, algum fundamento, algum motivo, parecido com o de São Pedro, para te arrependeres dos teus pecados por amor, e por amor perfeito e agradecido? Sim, certamente, pois os benefícios que Deus te tem feito são mais que os cabelos da tua cabeça, e, considerando-os, podes dizer, em cada um deles, o que dizia São João: “Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,19). E como te amou? “... amo-te com eterno amor, e por isso a ti estendi o meu favor.” (Jer 31,3).
                Sim, com amor eterno te amou. Desde toda a eternidade, desde quando ainda não havia nem um átomo de ti sobre a terra, te olhou com aqueles seus olhos amorosos e que tudo penetram, e te preparou alma e corpo, céu e terra, com o amor com que uma mãe prepara todo o necessário para o filhinho que ainda não nasceu.
                Ele deu-te a saúde e a vida, Ele te deu e te dá, em cada dia, todos os bens naturais. Consideração esta que até aos pagãos pode fazê-los chegar ao conhecimento e amor perfeito de Deus; quanto mais a ti, cristão, que conheces outro gênero muito diferente de amor e de bondade, o amor e bondade sobrenatural de Deus para contigo; porque Deus se compadeceu de ti; e quando, com todo o gênero humano, estavas condenado pela culpa original, Deus enviou o seu Unigênito Filho, e Ele se fez teu Salvador e te remiu com seu sangue, morrendo na Cruz.
                E em ti pensava com entranhado amor quando agonizava no horto das Oliveiras, e quando derramava o seu sangue com os açoites e os espinhos, e quando subia arrastando a pesada Cruz pelo longo e áspero caminho do Calvário; e quando, cravado nela, se desfazia em sangue entre indizíveis tormentos. Em ti pensava com entranhado amor, como se tu foras o único homem da terra.
                Que tens a concluir daqui?
                “Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,19).
                E Deus te atraiu a Ele pelo batismo, graça capital e primeira da tua vida, e pela Igreja, em cujo seio foste então admitido. Quantos há que, só a força de trabalhos e canseiras, conseguem encontrar a verdadeira Fé, e a ti te a ofereceu Deus desde o berço, por puro amor. Atraiu-te a Ele e te atrai sempre pelos sacramentos e pelas inumeráveis graças interiores e exteriores de que te enche todos os dias, pois, em verdade, estás nadando, como em imenso mar, na bondade e amor de Deus. E este amor, quer ainda coroá-lo colocando-te consigo no Céu e fazendo-te eternamente feliz. Que lhe deves por tanto amor? Não é verdade que deves corresponder a ele? Amemos também a Deus já que Ele nos amou primeiro.
                Pois, vamos a contas e dize-me: Como tens pago a Deus, tão bom e amoroso, o seu amor e bondade para contigo? Dir-me-ás, sem dúvida, que com ingratidão e pecados. E pesa-te essa ingratidão? Sem dúvida que sim e queres ressarcir a tua pesada ingratidão, amando quanto possas tão grande e amoroso benfeitor. Pois, olha, se assim é, já tens contrição perfeita, contrição de amor de Deus. Para facilitar, chama-se a esta contrição de amor de Deus, contrição de amor ou de caridade.
                Na mesma contrição de caridade, há uma mais levantada, que é quando alguém ama a Deus porque Ele é em si infinitamente formoso, glorioso, perfeito e digno de amor, prescindindo do seu amor e misericórdia para conosco. Há estrelas — e com esta comparação julgo que entenderás melhor — que, por estarem muito longe de nós, não as podemos distinguir, e, contudo, são tão grandes e formosas como o sol, que tão prodigamente nos dá o calor e a vida.
                Pois assim, ainda quando o homem não tivesse visto nem gozado nunca do amor de Deus, eterna estrela do céu, ainda quando Deus não tivesse criado o mundo nem criatura alguma, seria apesar disso grande, formoso, glorioso e digno de ser amado, porque é em si mesmo e para si, o bem mais excelente, o mais perfeito e digno de amor. Isto e não outra coisa quer dizer essa expressão que, mais de uma vez, terás encontrado nos devocionários e nas fórmulas do ato de contrição e te terá parecido talvez algum tanto obscura.
                Detém-te, pois, agora e contempla o amor de Deus; contempla-o, sobretudo, nos amargos sofrimentos do Salvador, a cuja luz o compreenderás tão facilmente como facilmente te arrebatará o coração.
                Eis aqui o modo de alcançar praticamente a contrição perfeita.


COMO SE EXCITA A CONTRIÇÃO PERFEITA?
Hás de pressupor que a contrição perfeita é graça e grande graça do amor e misericórdia de Deus; e, se assim é, hás, portanto, de pedi-la com instância. Porém, não te contentes com fazê-lo somente quanto trates de excitar a contrição, porque o desejo de alcançá-la deve ser um dos mais ardentes anseios de tua alma. Pede-a, pois, dizendo: Senhor, dai-me a graça do perfeito arrependimento, da perfeita contrição dos meus pecados. E Deus não te faltará com a sua graça, se tiveres boa vontade.
Posto isto, repara como poderás facilmente conseguir a contrição perfeita. Põe-te diante de um crucifixo, na igreja ou na casa de tua habitação, ou senão imagina que o tens diante de ti, e, chorando de compaixão à vista das feridas do Senhor, pensa uns momentos com fervor: Quem é este que está pendente da Cruz e sofrendo nela?
                — É Jesus, meu Deus e Salvador.
                — Que sofre?
                — As mais terríveis dores no corpo, tem-no ensangüentado e coberto de feridas; a alma, tem-na lacerada pelas dores e afrontas. Por que sofre tudo isso?
                — Pelos pecados dos homens e... também pelos meus pecados; em meio de suas amarguradas dores, também pensa em mim, também sofre por mim, também quer expiar os meus pecados.
                — Entretanto, deixa que o sangue redentor do Salvador, quente ainda, caia sobre ti, gota a gota, e pergunta a ti mesmo como tens correspondido ao teu Salvador, tão atormentado por ti.
                Pensa um momento, recorda teus pecados, e esquece-te, se quiseres, do Céu, do inferno, e arrepende-te principalmente porque são eles que a tão miserando estado reduziram o teu Salvador; promete-lhe que não tornarás a crucificá-Lo com mais pecados e, por fim, reza, pausadamente e com fervor, acompanhando com sentimento interno, as palavras, a fórmula da contrição.
Esta oração ou fórmula pode ser diversa e ainda pode cada um servir-se para ela de suas próprias palavras. No fim do livrinho, encontrarás algumas; contudo juntarei aqui uma bastante vulgar:
                “Senhor meu e Deus meu: pesa-me, do mais íntimo do coração, de todos os pecados de minha vida, porque com eles tenho merecido que a vossa divina Justiça me castigasse na vida e na eternidade; porque tenho correspondido ao vosso amor com tanta ingratidão, sendo como Sois o meu maior benfeitor; porém, sobretudo, porque com eles Vos tenho ofendido a Vós, meu bem supremo e digno de todo o amor. Proponho firmemente emendar-me e não mais pecar. Dai-me, meu Jesus, a graça para cumpri-lo. Amém.”
Três porquês contém esta oração, e a cada porquê acompanha um motivo de contrição, primeiro da imperfeita, depois da perfeita; pois, da imperfeita se passa mais facilmente para a perfeita e é por isto conveniente unir as duas espécies de contrição. Em outras palavras, convém que se excite em primeiro lugar a contrição imperfeita e depois a perfeita. Dize, pois:
1— “porque com eles, tenho merecido...” Isto é ainda contrição imperfeita.
                2— “porque tenho correspondido...” Esta vai já se aproximando da contrição perfeita e até se reduz a ela; porque, se deveras sinto ter correspondido com ingratidão e com pecados ao amor e bondade de Deus, necessariamente hei de querer ressarcir com amor esta ingratidão; e o sentir por amor a ofensa do benfeitor, a quem até agora se desconhecia, é já contrição perfeita, contrição de caridade para com Deus.
                3— “porém, sobretudo, porque com eles Vos tenho ofendido...”
Se voltares a ler o capítulo I, entenderás o que isto significa e, entendendo-o, verás mais claramente expressado aqui o amor perfeito e a contrição perfeita. Para consegui-lo mais facilmente, podes acrescentar, mentalmente ou por palavras, o que segue: “porém, sobretudo, porque com eles Vos tenho ofendido a Vós, meu bem supremo e digno de todo o amor. Salvador meu que, por meus pecados, morrestes na Cruz”.
Depois vem o propósito: “Proponho...” — Porém, padre, dir-me-ás talvez — para outros, será isso muito fácil, mas para mim, é coisa muito difícil, quase impossível.
                — Parece-te isso? Pois não o julgues tal.

É DIFÍCIL EXCITAR A CONTRIÇÃO PERFEITA?
Antes de tudo, é verdade que, para a contrição perfeita, se requer mais do que para a imperfeita, que é a de que se necessita para a Confissão. Contudo, porém, ajudado com a graça de Deus, pode qualquer um alcançar a contrição perfeita, bastando que deveras a deseje, porque a verdadeira contrição está na vontade e não no sentimento.
Tudo se reduz a termos o devido motivo de arrependimento, quer dizer, que nos arrependamos porque amamos a Deus sobre todas as coisas e, por seu amor, detestamos os nossos pecados; nisto, e não na duração ou intensidade da dor, está a contrição perfeita. Digo isto, porque muitas vezes se confunde a contrição perfeita com certa contrição que há, altíssima e sublime, não se advertindo que a contrição perfeita tem seus graus e degraus, e que, para que o seja, não é necessário que chegue à contrição altíssima e firmíssima de São Pedro, de Madalena, de São Luiz Gonzaga e de outros santos: muito bom seria isso, mas não é necessário; um grau mais baixo de contrição perfeita e verdadeira basta para perdoar os pecados.
Além disso, advertirás uma coisa, que me parece te animará e te dará confiança para poderes alcançar a contrição perfeita. Antes de Jesus Cristo, na Lei antiga, por espaço de 4.000 anos, foi a contrição perfeita o único meio que tiveram os homens para alcançarem o perdão dos pecados e entrarem no Céu. E hoje mesmo a milhões e milhões de pagãos e hereges que só e unicamente pela contrição perfeita, podem sair do pecado.
Portanto, se é verdade, como é, que Deus não quer a morte do pecador, parece natural que não haja exigido para a contrição perfeita ato demasiadamente difícil, mas antes que esteja ao alcance de todos. Pois, se podem alcançar a perfeita contrição tantos e tantos que vivem e morrem afastados, é verdade que sem culpa sua, da corrente da graça e da Igreja Católica, ser-te-á isto a ti difícil, a ti, que tens a grande dita de ser cristão e católico, a ti, que tens muito mais graças e estás mais instruído do que eles?
E ainda te digo mais: muitas vezes, sem o saber ou sem o pensar, tens realmente contrição perfeita; quando, por exemplo, ouves piedosamente a santa Missa, quando fazes com devoção a Via-Sacra, quando meditas com fervor diante de uma imagem de Jesus crucificado ou do Sagrado Coração, ou assistes à pregação da palavra divina.
Além disso, muitas vezes pode-se exprimir com poucas palavras o amor mais ardente e a mais profunda contrição, atendendo só ao sentido e ao motivo (o amor de Deus). Por exemplo, com estas jaculatórias: “Deus meu e meu tudo!”; “Meu Jesus, misericórdia!”; “Ó meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas!”; “Meu Deus, compadecei-Vos de mim pecador!”  E...
 “Pequei, já minha alma
                Sua culpa confessa;
                Mil vezes me pesa
                De tanta maldade.
                Mil vezes me pesa
                De haver, obstinado,
                Teu peito rasgado,
                Ó suma Bondade!”
                Finalmente, se tão soberanos efeitos obra Deus pela contrição perfeita, sinal é de que quer que a excitemos e de que Ele nos ajudará para consegui-la.
— E que efeitos são estes que produz a contrição perfeita?
Efeitos verdadeiramente admiráveis!
                Se és pecador, perdoa-te imediatamente os pecados e isto de cada vez e ainda antes de receberes o sacramento da Confissão; necessário é, porém, que tenhas vontade de confessá-los mais tarde (vontade esta que já está incluída na contrição perfeita). E este efeito é produzido pela contrição perfeita e verdadeira não só em perigo de morte, mas sempre e quando a excitamos no coração; de modo que o pecador, ao mesmo tempo que lhe são remitidas as penas do inferno, recobra os méritos passados e, de inimigo de Deus, se faz seu filho e herdeiro do Céu.
Se és justo, a contrição perfeita assegura-te e aumenta-te o estado de graça, apaga-te os pecados veniais que, pelo ato de contrição de caridade, detestaste; perdoa-te, sobretudo, as penas dos pecados, firmando e robustecendo-te no verdadeiro e sólido amor de Deus.
Tais são as maravilhas que o amor e a misericórdia de Deus obram na alma do cristão pela contrição perfeita.
                Tão grandes são que, talvez, te pareçam incríveis; tratando-se do perigo de morte, já terás ouvido que se devem pedir a contrição e a dor; mas que também, em tempo de saúde e em qualquer tempo, a contrição perfeita obre tais maravilhas, mal te atreverás a acreditá-lo.
— Será, pois, certa e segura esta doutrina da contrição perfeita?
Digo-te que é tão firme e tão segura como a própria palavra de Deus.
                No Concilio ecumênico de Trento, onde a Igreja declarou e explicou os principais ensinamentos divinos que já eram correntes nela e eram combatidos por muitos hereges, diz-se na Sessão 14, cap. 4: “A contrição perfeita, a contrição que procede do amor de Deus, justifica o homem e reconcilia-o com Deus ainda antes de receber o sacramento da Confissão”.
Como o Concilio não diz que isto seja só em tempo de necessidade e em perigo de morte, segue-se que a contrição perfeita produz sempre este efeito. E, para o afirmar, apóia-se a Igreja na palavra e ensino de Jesus Cristo, que diz entre outras coisas: “Se alguém me ama (e isto só o faz o que tem verdadeira contrição no coração), meu Pai o amará e Nós viremos a ele e faremos nele morada” (I Jo 14,23).
Para que, porém, Deus possa habitar na alma, é preciso que o pecado tenha desaparecido; logo, o apagar o pecado é um dos efeitos da contrição perfeita, da contrição de caridade.
Assim também o tem declarado sempre a Igreja infalível, chegando a condenar como herege, Baio, por dizer o contrário.
O mesmo ensinam os Santos Padres e Doutores sagrados sem exceção e o mesmo confirma a razão, porque se, como já disse, tão grandes efeitos produzia a verdadeira contrição no Antigo Testamento, quando ainda imperava a lei do temor, quanto maior produzirá no Novo, em que impera a lei do amor!
— Dir-me-ás, talvez, porém, se a contrição perfeita destrói os pecados, a que vem confessá-los depois?
Sim, é verdade; a contrição perfeita faz o mesmo que a Confissão, faz com que desapareçam da alma os pecados; não o faz, porém, com independência do sacramento da Confissão, porque é necessário ter vontade de confessar mais tarde os pecados destruídos ou apagados pela contrição perfeita.
                E isto porque é lei de Jesus Cristo que se confessem todos os pecados, pelo menos todos os mortais, e esta lei, de forma alguma, se pode mudar. Verdade é que, se alguém não quisesse depois confessar os pecados que lhe foram perdoados pela contrição perfeita, não os contrairia novamente; mas é certo que perderia de novo o estado de graça, precisamente por faltar à obrigação de confessá-los.
— E devemos confessar os pecados logo que o possamos fazer depois da contrição de caridade?
Em rigor, não é necessário; porém, de todo o coração, aconselho-te e recomendo-te que o faças; assim estarás mais seguro de ter alcançado o perdão e conseguirás, por sua vez, as grandes graças que traz consigo o sacramento da Confissão e que se chamam graças sacramentais.
Talvez que alguém, tentado pelo demônio, vendo os grandes efeitos da contrição perfeita, diga: “Pois se é tão fácil alcançar o perdão dos pecados com a contrição perfeita, já não preciso mais me confessar; peco quanto quiser, arrependo-me depois com contrição perfeita, e estou pronto. Não é assim?”
Não, de forma alguma; porque quem assim pensa não tem nem sombra de contrição. Não ama a Deus sobre todas as coisas logo que não queira em tudo e por tudo romper com o pecado mortal, nem trata seriamente de emendar a sua vida, coisa que tanto se requer para a Confissão como para a contrição perfeita; em uma palavra, falta-lhe boa vontade e, faltando-lhe esta, faltar-lhe-á a graça de Deus, sem a qual a contrição perfeita é absolutamente impossível.
Poderá enganar-se a si mesmo, jamais, porém, enganará a Deus Nosso Senhor. Aquele que tem contrição perfeita, está inteiramente resolvido a romper com o pecado mortal; receberá logo que possa e com mais fervor do que dantes, os santos sacramentos, e com a sua boa vontade, ajudada da graça de Deus, conservar-se-á livre de pecado e se firmará mais e mais no feliz estado de filho de Deus.
A quem, de modo especial, a contrição perfeita auxilia, é aos que leal e sinceramente querem adquirir e conservar o estado de graça e, sobretudo, aos que pecam por costume, isto é, aos que, ainda que tenham boa vontade, a força dos maus hábitos e a própria fraqueza os fazem cair de vez em quando; porém, de forma alguma, a contrição perfeita ajuda aos que se acolhem a ela para pecarem mais à vontade. E estes convertem o celestial remédio do perfeito arrependimento em narcótico fatal e em infernal veneno.
Não sejas, pois, destes, leitor amado; não consintas, incauto, que graça tão preciosa como a contrição perfeita te sirva para o mal, senão para o bem, já que tão grandes bens produz na alma do cristão.
— E que bens são esses que produz a contrição perfeita? Por que é tão importante e até necessária a contrição perfeita?
                É importante na vida e na morte.
                I — É importante na vida
                Porque: que precioso não é o estado de graça!
                A graça não adorna somente a alma, mas invade-a e penetra-a toda, e transforma-a em uma nova criatura, em filha de Deus e herdeira do céu. Além disso, faz com que todas as obras e trabalhos do cristão sejam meritórios para o Céu; a graça é a varinha mágica que tudo converte em ouro, porém em ouro de méritos celestiais.
                Pelo contrário, que triste é o estado do cristão que jaz em pecado! Todos os seus trabalhos, todas as suas orações, todas as suas boas obras ficam inúteis e sem mérito para o Céu; é inimigo de Deus e, no momento em que o tênue fio da vida se parta, cairá precipitado no inferno. Não será, pois, importante e necessário o estado de graça para o cristão?
                Pois, se o perdeste, podes recuperá-lo, principalmente de duas maneiras:
                1º Pela Confissão.
                2º Pela contrição perfeita.
                A Confissão é o meio adequado e ordinário para alcançar a graça santificante. Como este meio, porém, nem sempre está ao nosso alcance, Deus deu-nos outro extraordinário, que é a contrição perfeita.
                Imagina que, um dia, tens a imensa desgraça de cometer um pecado mortal. Quando, passada a agitação do dia, vem o sossego da noite, a tua consciência angustiada levanta-se e clama com voz poderosa. — Confessar­se agora... não é possível.
                Como remediar este estado? Pois olha, Deus põe em tuas mãos a chave de ouro que te vai abrir as portas do Céu; arrepende-te de teus pecados por verdadeiro amor de Deus, protesta-lhe firmemente não tornar a cometê-los, promete confessá-los quanto antes, e podes acreditar que estás reconciliado com Deus; deita-te tranqüilo.
                Porém, se o cristão não conhece nem pratica a contrição perfeita, que triste estado o da alma! Em pecado mortal se deita e se levanta, e assim vive dois, três, quatro meses e mais, até a Confissão seguinte.
                E talvez que, neste estado, continue por anos inteiros, sem que a profunda noite do pecado seja interrompida, nem um momento sequer, na sua alma pelos raios do sol da graça depois da Confissão. Triste estado! Viver quase sempre em pecado, inimigo de Deus, sem mérito para o Céu e em perigo de eterna condenação!
                Mais; quando alguém, antes de receber um sacramento, por exemplo, o da Confirmação, o do Matrimonio, se lembra de um pecado grave não perdoado, pode, pela contrição perfeita, fazer-se digno de receber o sacramento. Somente para a Comunhão, isso não basta; é necessária a Confissão.
                Também para o cristão que está em estado de graça, é importante o uso freqüente da contrição perfeita. Antes de tudo, nunca podemos estar completamente seguros de que estamos em estado de graça. Porém, esta segurança aumenta e se confirma com cada ato de verdadeira contrição perfeita.
                Sucede, além disso, que alguém tenha dúvida sobre se consentiu em alguma tentação; estas dúvidas acovardam e desalentam a alma no caminho da virtude. Que há a fazer nestes casos? Examinar se consentimos ou não? Isso de nada aproveita. Excita-te à contrição perfeita e fica tranqüilo.
                Porém, ainda que tivéssemos toda a certeza possível de que estamos em graça, que preciosa não é a contrição perfeita!
                Por cada ato de contrição perfeita, aumentamos este estado de graça na alma, e cada grau de graça vale mais do que todas as riquezas do mundo.
                Por cada ato de contrição perfeita e caridade, destroem-se os pecados veniais e as faltas que mancham a alma, e esta fica cada vez mais formosa diante de Deus.
                Por cada ato de contrição perfeita, são perdoadas as penas temporais dos pecados (*).
                Recorda-te do que o Senhor disse à Madalena: “Perdoados lhe são muitos pecados, porque amou muito” (Lc 7,47). E se tanto apreciamos, e com razão, as indulgências, as boas obras, as esmolas, incluamos entre estas a caridade, a rainha das virtudes.
                Por cada ato de contrição perfeita vai a alma confirmando-se mais e mais no bem e robustecendo-se contra o mal, de modo que, com razão, pode esperar a suprema graça da perseverança final. Já vês, pois, que é importante a contrição perfeita na vida. Porém, de modo particular;
II — É importante na morte
                Sobretudo em perigo de morte repentina.
                Houve um grande incêndio numa cidade, e neste pereceram centenas de pessoas. Entre muitas que gemiam no pátio de uma casa, via-se um menino de doze anos que, de joelhos, pedia em voz alta a graça da contrição; explicou depois porque o fazia e suplicou que orassem com ele em voz alta.
                Talvez que, por seu intermédio, muitos daqueles infelizes se salvassem para sempre.
                Perigos como este sem conta te cercam e, quando menos o penses, podes ser vítima de uma desgraça repentina: podes, por exemplo, cair de uma árvore; podes ser atropelado por um carro na rua; podes ser surpreendido de noite, pelo fogo, na tua habitação; podes colocar mal o pé em uma escada; pode ser que, enquanto trabalhas, te falte repentinamente os sentidos e caias... levam-te moribundo à casa, vão a correr chamar o sacerdote; este, porém, tarda em chegar, e urge tanto!... Que fazer? Excita-te em seguida à contrição perfeita, arrepende-te por amor e gratidão para com Deus, e Jesus Cristo paciente salvar-te-á por toda a eternidade; a contrição perfeita terá sido para ti a chave do Céu no último momento e no último e supremo transe para a alma e para o corpo.
                Com isto, não desejo que alguém se aventure a deixar tudo para o último momento, à mercê de um ato de contrição perfeita, julgando ficar já por isso livre de pecado, pois é muito duvidoso que a contrição perfeita possa servir aos que têm pecado à sua sombra. O que deixo dito vale, antes de tudo e sobre tudo, para os que têm boa vontade.
— Porém, haverá tempo — dir-me-ás — em tais circunstâncias, para fazer um ato de contrição perfeita?
Com a ajuda de Deus, sim; porque, para a contrição perfeita não se requer muito tempo, sobretudo quando antes, em tempo de saúde, nos temos exercitado nela; em um momento a podemos excitar e penetrar na alma. E como, em casos tão extraordinários, tem mais eficácia a graça de Deus, e o espírito, mais atividade no transe tremendo da morte, dos momentos se fazem horas. Lembra-te de que falo por experiência própria.
                Uma vez, a 20 de julho de 1886, estive em grande e terrível perigo de morte, seria coisa de oito ou dez segundos, o espaço para meio Pai-Nosso. Pois, em tão curto espaço de tempo, mil pensamentos cruzaram-se em minha mente; a minha vida inteira passou diante de minha alma, com rapidez incrível, e, atrás dela, o que seria de mim depois da minha morte; tudo isto, como disse, num espaço de tempo insignificante, o suficiente para meio Pai-Nosso. Por dita minha, porém, e grande favor de Deus, a quem rendo graças, não foi aquele momento para morte, mas sim para vida; — do contrário, não teria podido escrever a Chave de ouro.
Pois, a primeira coisa que fiz, em tão terrível momento, foi o que, segundo o Catecismo, deve fazer todo o cristão em perigo de morte: excitar-se à contrição e recorrer a Deus pedindo-a e implorando-a a seu favor. E a verdade é que, naquela ocasião, creio que aprendi a amar e apreciar o valor da contrição perfeita; desde então tenho difundido, quanto me tem sido possível, o seu conhecimento e estima. E esta misericórdia, que podes exercitar na tua alma no último momento, podes exercitá-la também com os demais cristãos, teus irmãos. E quão triste é que, em tão apurado transe, não seja isto melhor compreendido!
Acode muita gente, choram e gritam desordenadamente, e, sem saber que fazer, correm à procura do médico e do sacerdote, trazem todos os remédios que têm em casa e, entretanto, o enfermo agoniza, e... Naqueles breves mas preciosos momentos, talvez não haja quem se compadeça da sua alma imortal e lhe proponha que faça um ato de contrição perfeita e o salve para sempre.
(*) Quer dizer que se perdoam sempre algumas penas e até todas, se o ato for mui intenso (N. do T.).
Se te apresentar ocasião, vai com sossego e tranqüilidade para o lado do moribundo ferido ou enfermo; se te for possível, põe-lhe o Crucifixo diante dos olhos e, com voz firme mas tranqüila, pede-lhe que pense e repita com o coração o que tu vais rezar; e, feito isto, vai dizendo compassada e claramente o ato de contrição, ainda que te pareça que ele nada ouve nem entende. Com isto, terás feito uma obra sumamente boa, e o moribundo te agradecerá eternamente no Céu. Sim, até mesmo a um herege, podes ajudar desta maneira em seus últimos momentos; não lhe fales, se queres, de Confissão, porém excita-o a que faça um ato de amor de Deus e de Jesus Crucificado e dize-lhe compassadamente o ato de contrição.
III - Quando se deve excitar a contrição perfeita?
1. Se, com fidelidade e bom desejo, me tens seguido até aqui, cristão leitor, deixa que, olhando-te afetuosamente e apertando-te a mão, te diga de todo o coração e com a maior insistência: dá este prazer a Deus e à tua alma: fase devotadamente todas as noites, com tuas orações, um ato de contrição perfeita. Não deixes passar noite alguma sem exame de consciência e contrição, como não deixes passar manhã alguma sem purificar a intenção. Não pecarás, é claro, se o deixares de fazer alguma vez; porém tem por bom e saudável o conselho que te dou.
E não me digas que isso de exame de consciência e contrição é coisa própria de sacerdotes e homens perfeitos e não para ti; não te escuses com o “não há tempo”; “está a gente tão cansado quando chega a noite...”
Quanto tempo julgas que é necessário? Meia hora? Não. Um quarto de hora? Também não; alguns poucos minutos bastam. Não costumas recitar algumas orações antes de te deitares? Pois, em seguida à tua pequena oração, pensa uns momentos nas faltas e pecados do dia que acaba de passar, e reza, pausadamente e com fervor, diante do Crucifixo, o ato de contrição. Depois podes recolher-te tranqüilo. Deste ao Senhor as boas noites, e ele te respondeu: “Boa noite, filho”. Ele perdoou-te misericordiosamente os teus pecados. Que te parece? Fá-lo desde esta noite e jamais te arrependerás.
2. Se, nesta vida, tiveres a imensa desgraça de cometeres um pecado mortal, não permaneças mergulhado em tão grande miséria; levanta-te pela contrição perfeita, levanta-te imediatamente, ou, o mais tarde, logo que faças as tuas orações da noite; depois não demores muito em confessar-te.
3. Finalmente, cristão da minha alma, mais tarde ou mais cedo, terás que morrer, e se, o que não te desejo, a morte te colhesse de improviso, já sabes onde está o remédio, já sabes onde está a chave do Céu.
Chama imediatamente por Deus com íntima e perfeita contrição, e, se em vida te exercitares nela gostosa e devidamente, não te faltarão então tempo, vontade e graça de Deus para teres firme contrição perfeita, e a contrição perfeita te salvará.
4. Porém, se antes de morrer, tens tempo para prevenir-te e preparar-te para o caminho da eternidade, que a última coisa que na terra penses e faças, com conhecimento, seja um ato de entranhado amor de Deus, teu Criador, teu Redentor, Salvador e Juiz; um ato de sincera e perfeita contrição de todos os pecados da tua vida. Feito isto, lança-te com confiança nos braços da misericórdia divina e Deus será para ti bondoso Juiz.
Com isto, me despeço de ti, amado leitor; vê e faze o que neste livrinho tens lido. Ama e pratica a contrição perfeita, meio esplêndido de graça que a divina misericórdia põe em tuas mãos para saíres do pecado mortal em qualquer momento, e não só em perigo de morte; meio fácil, que tão grandes efeitos produz; meio supremo e único que, em caso de necessidade, salvará a tua alma; fonte, enfim, de graças na vida e na morte — verdadeira chave de ouro do Céu.

ATOS DE CONTRIÇÃO
1. Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem sois, e porque Vos amo sobre todas as coisas, pesa-me de todo o coração de Vos ter ofendido; proponho firmemente nunca mais pecar, confessar-me, cumprir a penitência que me for imposta, e afastar-me de todas as ocasiões de Vos ofender; ofereço-Vos a minha vida, obras e sofrimentos em satisfação de todos os meus pecados, e confio na vossa bondade e misericórdia infinitas que os perdoareis pelos merecimentos do vosso preciosíssimo Sangue, Paixão e Morte, e me dareis graça para emendar-me e perseverar em vosso santo serviço até o fim da minha vida. Amém.

2. Senhor meu e Deus meu! Do íntimo do coração, me pesa de todos os pecados da minha vida. Pesa-me porque com eles mereci o purgatório ou o inferno; porque tenho desprezado o céu e porque tenho sido tão ingrato para convosco, o meu maior benfeitor. Pesa-me, sobretudo, porque, com os meus pecados, Vos tenho açoitado e crucificado, a Vós meu amabilíssimo Salvador. Agora, porém, amo-Vos, meu maior benfeitor, meu pai amabilíssimo e misericordiosíssimo Redentor; amo-Vos de todo o coração e sobre todas as coisas, e, porque Vos amo, me pesa e me arrependo de Vos ter ofendido, Deus meu, que sois infinitamente formoso, bom e digno de ser amado. Proponho firmemente emendar a minha vida e não mais pecar. Ó meu Jesus! dai-me a vossa graça para cumpri-lo. Amém.

3. Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Vós me criastes à vossa imagem e semelhança, Vós me remistes com infinito amor, morrendo na Cruz e me quereis levar ao Céu para me fazer eternamente feliz. Eu, em troca, tenho-Vos ofendido tantas vezes com meus pecados e tenho merecido justos castigos nesta vida e na outra.
                Sim, sou culpado do vosso Sangue e de vossas feridas; tenho afligido e amargurado o vosso amantíssimo Coração de Redentor com meus pecados e minha ingratidão. Detesto esta ingratidão e, para compensá-la, amo-Vos com mais ardente amor, sobre todas as coisas. E, porque Vos amo, pesa-me de todo o coração e sobre todas as coisas, de Vos ter ofendido, Senhor meu e Deus meu. Perdoai-me, eu Vos peço. Quero desde este momento emendar-me com fervor. Dai-me, Jesus misericordioso, a vossa graça para isto. Amém.

Ato de amor perfeito e contrição perfeita, atribuído a São Francisco Xavier
Não me move meu Deus, para querer-te,
O Céu que me tens prometido,
Nem me move o inferno, tão temido,
Para deixar por isso de ofender-te.
Tu me moves, Deus meu, move-me o ver-te
Cravado em uma cruz, escarnecido;
Move-me o ver teu Corpo tão ferido,
Movem-me tuas afrontas e tua morte;
Move-me, enfim, teu amor e de tal maneira
Que, ainda que não houvesse Céu, te amaria,
E, ainda que não houvesse inferno, te temeria.
Nada tens que dar-me porque te quero;
Porque, se não esperasse o que espero,
Te queria o mesmo que te quero.

Resumo do ato de Contrição que usava o Ven. Marcos de Aviano, religioso capuchinho, morto em odor de santidade.
Eu, ruim e indigna criatura, me lanço a vossos pés, Deus meu, e, com o coração contrito e aflito, reconheço e confesso diante de Vós, Redentor de minha alma, que, desde o instante em que nasci até agora, tenho cometido inumeráveis negligências e pecados.
                Tenho-Vos ofendido, Deus meu! Pequei, Senhor! Porém, detesto os meus pecados e me arrependo do íntimo do coração. Por isso, prometo solenemente não mais pecar. Porém, se Vós, em vossa altíssima sabedoria, preveis que posso novamente ofender-Vos e cair outra vez no vosso desagrado, de todo o coração Vos peço que me leveis agora desta vida, em vossa graça.
                Oxalá a minha dor fosse tão grande que o propósito de não mais Vos ofender permanecesse sempre imutável! Porque Vos devo infinito agradecimento pela vossa divina bondade e porque mereceis que Vos ame sobre todas as coisas, arrependo-me de meus pecados, não tanto para livrar­me dos tormentos eternos que por eles mereci, nem para gozar das delicias do Céu, que tão inconsideradamente desprezei, como porque vos desagradam a Vós, Deus meu, que, por vossa bondade e infinitas perfeições, sois digno de infinito amor.
                Oxalá todas as criaturas vos mostrem sem interrupção, amor, reverência e agradecimento. Amém.

Ato de contrição usual no Brasil
Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado, e porque Vos amo e estimo sobre todas as coisas: pesa-me, Senhor, de todo o meu coração, de Vos ter ofendido; pesa-me, também, por ter perdido o Céu e merecido o inferno; e proponho firmemente, ajudado com os auxílios de vossa divina graça, emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender. Espero alcançar o perdão de minhas culpas pela vossa infinita misericórdia. Amém.

Disposição do Código de Direito Canônico sobre a contrição perfeita.
Cânon 916 — Quem está consciente de pecado grave não celebre a missa nem comungue o Corpo do Senhor, sem fazer antes a confissão sacramental, a não ser que exista causa grave e não haja oportunidade para se confessar; nesse caso, porém, lembre-se que é obrigado a fazer um ato de contrição perfeita, que inclui o propósito de se confessar quanto antes.
                A propósito deste cânon, os canonistas espanhóis da Universidade de Navarra, Pedro Lombardia e Juan Ignacio Arrieta, fazem o seguinte comentário, na edição anotada do Código de Direito Canônico promovida pela mesma Universidade:
                “Este cânon se refere ao celebrante ou ao que recebe o sacramento. Um ato de contrição perfeita, com efeito, perdoa o pecado mortal; porém — como lembra o segundo mandamento da Igreja — permanece a obrigação de confessar-se previamente à recepção da Eucaristia; obrigação que só se dispensa a iure quando coincidem, suposta a contrição perfeita, estas duas condições:
                1) causa grave: perigo de morte, ou de infâmia se não celebrar ou comungar;
                2) impossibilidade de confessar-se previamente, por falta de confessor idôneo (cfr. Concílio de Trento, Sessão 13, cap. 11).
                Naturalmente, o ato de contrição, como parte integrante de sua perfeição, exige o propósito firme de confessar-se, que deve satisfazer-se tão logo seja possível”.

Tuesday, 18 December 2018

Tuesday's Serial: "The Hill of Dreams" by Arthur Machen - V (in English)


V
            And he was at last in the city of the unending murmuring streets, a part of the stirring shadow, of the amber-lighted gloom.
            It seemed a long time since he had knelt before his sweetheart in the lane, the moon-fire streaming upon them from the dark circle of the fort, the air and the light and his soul full of haunting, the touch of the unimaginable thrilling his heart; and now he sat in a terrible "bed-sitting-room" in a western suburb, confronted by a heap and litter of papers on the desk of a battered old bureau.
            He had put his breakfast-tray out on the landing, and was thinking of the morning's work, and of some very dubious pages that he had blackened the night before. But when he had lit his disreputable briar, he remembered there was an unopened letter waiting for him on the table; he had recognized the vague, staggering script of Miss Deacon, his cousin. There was not much news; his father was "just the same as usual," there had been a good deal of rain, the farmers expected to make a lot of eider, and so forth. But at the close of the letter Miss Deacon became useful for reproof and admonition.
            "I was at Caermaen on Tuesday," she said, "and called on the Gervases and the Dixons. Mr. Gervase smiled when I told him you were a literary man, living in London, and said he was afraid you wouldn't find it a very practical career. Mrs. Gervase was very proud of Henry's success; he passed fifth for some examination, and will begin with nearly four hundred a year. I don't wonder the Gervases are delighted. Then I went to the Dixons, and had tea. Mrs. Dixon wanted to know if you had published anything yet, and I said I thought not. She showed me a book everybody is talking about, called the Dog and the Doctor. She says it's selling by thousands, and that one can't take up a paper without seeing the author's name. She told me to tell you that you ought to try to write something like it. Then Mr. Dixon came in from the study, and your name was mentioned again. He said he was afraid you had made rather a mistake in trying to take up literature as if it were a profession, and seemed to think that a place in a house of business would be more suitable and more practical. He pointed out that you had not had the advantages of a university training, and said that you would find men who had made good friends, and had the tone of the university, would be before you at every step. He said Edward was doing very well at Oxford. He writes to them that he knows several noblemen, and that young Philip Bullingham (son of Sir John Bullingham) is his most intimate friend; of course this is very satisfactory for the Dixons. I am afraid, my dear Lucian, you have rather overrated your powers. Wouldn't it be better, even now, to look out for some real work to do, instead of wasting your time over those silly old books? I know quite well how the Gervases and the Dixons feel; they think idleness so injurious for a young man, and likely to lead to bad habits. You know, my dear Lucian, I am only writing like this because of my affection for you, so I am sure, my dear boy, you won't be offended."
            Lucian pigeon-holed the letter solemnly in the receptacle lettered "Barbarians." He felt that he ought to ask himself some serious questions: "Why haven't I passed fifth? why isn't Philip (son of Sir John) my most intimate friend? why am I an idler, liable to fall into bad habits?" but he was eager to get to his work, a curious and intricate piece of analysis. So the battered bureau, the litter of papers, and the thick fume of his pipe, engulfed him and absorbed him for the rest of the morning. Outside were the dim October mists, the dreary and languid life of a side street, and beyond, on the main road, the hum and jangle of the gliding trains. But he heard none of the uneasy noises of the quarter, not even the shriek of the garden gates nor the yelp of the butcher on his round, for delight in his great task made him unconscious of the world outside.
            He had come by curious paths to this calm hermitage between Shepherd's Bush and Acton Vale. The golden weeks of the summer passed on in their enchanted procession, and Annie had not returned, neither had she written. Lucian, on his side, sat apart, wondering why his longing for her were not shaper. As he though of his raptures he would smile faintly to himself, and wonder whether he had not lost the world and Annie with it. In the garden of Avallaunius his sense of external things had grown dim and indistinct; the actual, material life seemed every day to become a show, a fleeting of shadows across a great white light. At last the news came that Annie Morgan had been married from her sister's house to a young farmer, to whom it appeared, she had been long engaged, and Lucian was ashamed to find himself only conscious of amusement, mingled with gratitude. She had been the key that opened the shut palace, and he was now secure on the throne of ivory and gold. A few days after he had heard the news he repeated the adventure of his boyhood; for the second time he scaled the steep hillside, and penetrated the matted brake. He expected violent disillusion, but his feeling was rather astonishment at the activity of boyish imagination. There was no terror nor amazement now in the green bulwarks, and the stunted undergrowth did not seem in any way extraordinary. Yet he did not laugh at the memory of his sensations, he was not angry at the cheat. Certainly it had been all illusion, all the heats and chills of boyhood, its thoughts of terror were without significance. But he recognized that the illusions of the child only differed from those of the man in that they were more picturesque; belief in fairies and belief in the Stock Exchange as bestowers of happiness were equally vain, but the latter form of faith was ugly as well as inept. It was better, he knew, and wiser, to wish for a fairy coach than to cherish longings for a well-appointed brougham and liveried servants.
            He turned his back on the green walls and the dark oaks without any feeling of regret or resentment. After a little while he began to think of his adventures with pleasure; the ladder by which he had mounted had disappeared, but he was safe on the height. By the chance fancy of a beautiful girl he had been redeemed from a world of misery and torture, the world of external things into which he had come a stranger by which he had been tormented. He looked back at a kind of vision of himself seen as he was a year before, a pitiable creature burning and twisting on the hot coals of the pit, crying lamentably to the laughing bystanders for but one drop of cold water wherewith to cool his tongue. He confessed to himself, with some contempt, that he had been a social being, depending for his happiness on the goodwill of others; he had tried hard to write, chiefly, it was true, from love of the art, but a little from a social motive. He had imagined that a written book and the praise of responsible journals would ensure him the respect of the county people. It was a quaint idea, and he saw the lamentable fallacies naked; in the first place, a painstaking artist in words was not respected by the respectable; secondly, books should not be written with the object of gaining the goodwill of the landed and commercial interests; thirdly and chiefly, no man should in any way depend on another.
            From this utter darkness, from danger of madness, the ever dear and sweet Annie had rescued him. Very beautifully and fitly, as Lucian thought, she had done her work without any desire to benefit him, she had simply willed to gratify her own passion, and in doing this had handed to him the priceless secret. And he, on his side, had reversed the process; merely to make himself a splendid offering for the acceptance of his sweetheart, he had cast aside the vain world, and had found the truth, which now remained with him, precious and enduring.
            And since the news of the marriage he found that his worship of her had by no means vanished; rather in his heart was the eternal treasure of a happy love, untarnished and spotless; it would be like a mirror of gold without alloy, bright and lustrous for ever. For Lucian, it was no defect in the woman that she was desirous and faithless; he had not conceived an affection for certain moral or intellectual accidents, but for the very woman. Guided by the self-evident axiom that humanity is to be judged by literature, and not literature by humanity, he detected the analogy between Lycidas and Annie. Only the dullard would object to the nauseous cant of the one, or to the indiscretions of the other. A sober critic might say that the man who could generalize Herbert and Laud, Donne and Herrick, Sanderson and Juxon, Hammond and Lancelot Andrewes into "our corrupted Clergy" must be either an imbecile or a scoundrel, or probably both. The judgment would be perfectly true, but as a criticism of Lycidas it would be a piece of folly. In the case of the woman one could imagine the attitude of the conventional lover; of the chevalier who, with his tongue in his cheek, "reverences and respects" all women, and coming home early in the morning writes a leading article on St English Girl. Lucian, on the other hand, felt profoundly grateful to the delicious Annie, because she had at precisely the right moment voluntarily removed her image from his way. He confessed to himself that, latterly, he had a little dreaded her return as an interruption; he had shivered at the thought that their relations would become what was so terribly called an "intrigue" or "affair." There would be all the threadbare and common stratagems, the vulgarity of secret assignations, and an atmosphere suggesting the period of Mr. Thomas Moore and Lord Byron an "segars." Lucian had been afraid of all this; he had feared lest love itself should destroy love.
            He considered that now, freed from the torment of the body, leaving untasted the green water that makes thirst more burning, he was perfectly initiated in the true knowledge of the splendid and glorious love. There seemed to him a monstrous paradox in the assertion that there could be no true love without a corporal presence of the beloved; even the popular sayings of "Absence makes the heart grow fonder," and "familiarity breeds contempt," witnessed to the contrary. He thought, sighing, and with compassion, of the manner in which men are continually led astray by the cheat of the senses. In order that the unborn might still be added to the born, nature had inspired men with the wild delusion that the bodily companionship of the lover and the beloved was desirable above all things, and so, by the false show of pleasure, the human race was chained to vanity, and doomed to an eternal thirst for the non-existent.
            Again and again he gave thanks for his own escape; he had been set free from a life of vice and sin and folly, from all the dangers and illusions that are most dreaded by the wise. He laughed as he remembered what would be the common view of the situation. An ordinary lover would suffer all the sting of sorrow and contempt; there would be grief for a lost mistress, and rage at her faithlessness, and hate in the heart; one foolish passion driving on another, and driving the man to ruin. For what would be commonly called the real woman he now cared nothing; if he had heard that she had died in her farm in Utter Gwent, he would have experienced only a passing sorrow, such as he might feel at the death of any one he had once known. But he did not think of the young farmer's wife as the real Annie; he did not think of the frost-bitten leaves in winter as the real rose. Indeed, the life of many reminded him of the flowers; perhaps more especially of those flowers which to all appearance are for many years but dull and dusty clumps of green, and suddenly, in one night, burst into the flame of blossom, and fill all the misty lawns with odor; till the morning. It was in that night that the flower lived, not through the long unprofitable years; and, in like manner, many human lives, he thought, were born in the evening and dead before the coming of day. But he had preserved the precious flower in all its glory, not suffering it to wither in the hard light, but keeping it in a secret place, where it could never be destroyed. Truly now, and for the first time, he possessed Annie, as a man possesses the gold which he has dug from the rock and purged of its baseness.
            He was musing over these things when a piece of news, very strange and unexpected, arrived at the rectory. A distant, almost a mythical relative, known from childhood as "Cousin Edward in the Isle of Wight," had died, and by some strange freak had left Lucian two thousand pounds. It was a pleasure to give his father five hundred pounds, and the rector on his side forgot for a couple of days to lean his head on his hand. From the rest of the capital, which was well invested, Lucian found he would derive something between sixty and seventy pounds a year, and hid old desires for literature and a refuge in the murmuring streets returned to him. He longed to be free from the incantations that surrounded him in the country, to work and live in a new atmosphere; and so, with many good wishes from his father, he came to the retreat in the waste places of London.
            He was in high spirits when he found the square, clean room, horribly furnished, in the by-street that branched from the main road, and advanced in an unlovely sweep to the mud pits and the desolation that was neither town nor country. On every side monotonous grey streets, each house the replica of its neighbor, to the east an unexplored wilderness, north and west and south the brickfields and market-gardens, everywhere the ruins of the country, the tracks where sweet lanes had been, gangrened stumps of trees, the relics of hedges, here and there an oak stripped of its bark, white and haggard and leprous, like a corpse. And the air seemed always grey, and the smoke from the brickfields was grey.
            At first he scarcely realized the quarter into which chance had led him. His only thought was of the great adventure of letters in which he proposed to engage, and his first glance round his "bed-sitting-room" showed him that there was no piece of furniture suitable for his purpose. The table, like the rest of the suite, was of bird's-eye maple; but the maker seemed to have penetrated the druidic secret of the rocking-stone, the thing was in a state of unstable equilibrium perpetually. For some days he wandered through the streets, inspecting the second-hand furniture shops, and at last, in a forlorn byway, found an old Japanese bureau, dishonored and forlorn, standing amongst rusty bedsteads, sorry china, and all the refuse of homes dead and desolate. The bureau pleased him in spite of its grime and grease and dirt. Inlaid mother-of-pearl, the gleam of lacquer dragons in red gold, and hits of curious design shone through the film of neglect and ill-usage, and when the woman of the shop showed him the drawers and well and pigeon-holes, he saw that it would be an apt instrument for his studies.
            The bureau was carried to his room and replaced the "bird's-eye" table under the gas-jet. As Lucian arranged what papers he had accumulated: the sketches of hopeless experiments, shreds and tatters of stories begun but never completed, outlines of plots, two or three notebooks scribbled through and through with impressions of the abandoned hills, he felt a thrill of exaltation at the prospect of work to be accomplished, of a new world all open before him.
            He set out on the adventure with a fury of enthusiasm; his last thought at night when all the maze of streets was empty and silent was of the problem, and his dreams ran on phrases, and when he awoke in the morning he was eager to get back to his desk. He immersed himself in a minute, almost a microscopic analysis of fine literature. It was no longer enough, as in the old days, to feel the charm and incantation of a line or a word; he wished to penetrate the secret, to understand something of the wonderful suggestion, all apart from the sense, that seemed to him the differentia of literature, as distinguished from the long follies of "character-drawing," "psychological analysis," and all the stuff that went to make the three-volume novel of commerce.
            He found himself curiously strengthened by the change from the hills to the streets. There could be no doubt, he thought, that living a lonely life, interested only in himself and his own thoughts, he had become in a measure inhuman. The form of external things, black depths in woods, pools in lonely places, those still valleys curtained by hills on every side, sounding always with the ripple of their brooks, had become to him an influence like that of a drug, giving a certain peculiar color and outline to his thoughts. And from early boyhood there had been another strange flavor in his life, the dream of the old Roman world, those curious impressions that he had gathered from the white walls of Caermaen, and from the looming bastions of the fort. It was in reality the subconscious fancies of many years that had rebuilt the golden city, and had shown him the vine-trellis and the marbles and the sunlight in the garden of Avallaunius. And the rapture of love had made it all so vivid and warm with life, that even now, when he let his pen drop, the rich noise of the tavern and the chant of the theatre sounded above the murmur of the streets. Looking back, it was as much a part of his life as his schooldays, and the tessellated pavements were as real as the square of faded carpet beneath his feet.
            But he felt that he had escaped. He could now survey those splendid and lovely visions from without, as if he read of opium dreams, and he no longer dreaded a weird suggestion that had once beset him, that his very soul was being molded into the hills, and passing into the black mirror of still waterpools. He had taken refuge in the streets, in the harbor of a modern suburb, from the vague, dreaded magic that had charmed his life. Whenever he felt inclined to listen to the old wood-whisper or to the singing of the fauns he bent more earnestly to his work, turning a deaf ear to the incantations.
            In the curious labor of the bureau he found refreshment that was continually renewed. He experienced again, and with a far more violent impulse, the enthusiasm that had attended the writing of his book a year or two before, and so, perhaps, passed from one drug to another. It was, indeed, with something of rapture that he imagined the great procession of years all to be devoted to the intimate analysis of words, to the construction of the sentence, as if it were a piece of jewelry or mosaic.
            Sometimes, in the pauses of the work, he would pace up and down his cell, looking out of the window now and again and gazing for an instant into the melancholy street. As the year advanced the days grew more and more misty, and he found himself the inhabitant of a little island wreathed about with the waves of a white and solemn sea. In the afternoon the fog would grow denser, shutting out not only sight but sound; the shriek of the garden gates, the jangling of the tram-bell echoed as if from a far way. Then there were days of heavy incessant rain; he could see a grey drifting sky and the drops plashing in the street, and the houses all dripping and saddened with wet.
            He cured himself of one great aversion. He was no longer nauseated at the sight of a story begun and left unfinished. Formerly, even when an idea rose in his mind bright and wonderful, he had always approached the paper with a feeling of sickness and dislike, remembering all the hopeless beginnings he had made. But now he understood that to begin a romance was almost a separate and special art, a thing apart from the story, to be practiced with sedulous care. Whenever an opening scene occurred to him he noted it roughly in a book, and he devoted many long winter evenings to the elaboration of these beginnings. Sometimes the first impression would yield only a paragraph or a sentence, and once or twice but a splendid and sonorous word, which seemed to Lucian all dim and rich with unsurmised adventure. But often he was able to write three or four vivid pages, studying above all things the hint and significance of the words and actions, striving to work into the lines the atmosphere of expectation and promise, and the murmur of wonderful events to come.
            In this one department of his task the labor seemed almost endless. He would finish a few pages and then rewrite them, using the same incident and nearly the same words, but altering that indefinite something which is scarcely so much style as manner, or atmosphere. He was astonished at the enormous change that was thus effected, and often, though he himself had done the work, he could scarcely describe in words how it was done. But it was clear that in this art of manner, or suggestion, lay all the chief secrets of literature, that by it all the great miracles were performed. Clearly it was not style, for style in itself was untranslatable, but it was that high theurgic magic that made the English Don Quixote, roughly traduced by some Jervas, perhaps the best of all English books. And it was the same element that made the journey of Roderick Random to London, so ostensibly a narrative of coarse jokes and common experiences and burlesque manners, told in no very choice diction, essentially a wonderful vision of the eighteenth century, carrying to one's very nostrils the aroma of the Great North Road, iron-bound under black frost, darkened beneath shuddering woods, haunted by highwaymen, with an adventure waiting beyond every turn, and great old echoing inns in the midst of lonely winter lands.
            It was this magic that Lucian sought for his opening chapters; he tried to find that quality that gives to words something beyond their sound and beyond their meaning, that in the first lines of a book should whisper things unintelligible but all significant. Often he worked for many hours without success, and the grim wet dawn once found him still searching for hieroglyphic sentences, for words mystical, symbolic. On the shelves, in the upper part of his bureau, he had placed the books which, however various as to matter, seemed to have a part in this curious quality of suggestion, and in that sphere which might almost be called supernatural. To these books he often had recourse, when further effort appeared altogether hopeless, and certain pages in Coleridge and Edgar Allan Poe had the power of holding him in a trance of delight, subject to emotions and impressions which he knew to transcend altogether the realm of the formal understanding. Such lines as:

  Bottomless vales and boundless floods,
And chasms, and caves, and Titan woods,
  With forms that no man can discover
For the dews that drip all over;

had for Lucian more than the potency of a drug, lulling him into a splendid waking-sleep, every word being a supreme incantation. And it was not only his mind that was charmed by such passages, for he felt at the same time a strange and delicious bodily languor that held him motionless, without the desire or power to stir from his seat. And there were certain phrases in Kubla Khan that had such a magic that he would sometimes wake up, as it were, to the consciousness that he had been lying on the bed or sitting in the chair by the bureau, repeating a single line over and over again for two or three hours. Yet he knew perfectly well that he had not been really asleep; a little effort recalled a constant impression of the wall-paper, with its pink flowers on a buff ground, and of the muslin-curtained window, letting in the grey winter light. He had been some seven months in London when this odd experience first occurred to him. The day opened dreary and cold and clear, with a gusty and restless wind whirling round the corner of the street, and lifting the dead leaves and scraps of paper that littered the roadway into eddying mounting circles, as if a storm of black rain were to come. Lucian had sat late the night before, and rose in the morning feeling weary and listless and heavy-headed. While he dressed, his legs dragged him as with weights, and he staggered and nearly fell in bending down to the mat outside for his tea-tray. He lit the spirit lamp on the hearth with shaking, unsteady hands, and could scarcely pour out the tea when it was ready. A delicate cup of tea was one of his few luxuries; he was fond of the strange flavor of the green leaf, and this morning he drank the straw-colored liquid eagerly, hoping it would disperse the cloud of languor. He tried his best to coerce himself into the sense of vigor and enjoyment with which he usually began the day, walking briskly up and down and arranging his papers in order. But he could not free himself from depression; even as he opened the dear bureau a wave of melancholy came upon him, and he began to ask himself whether he were not pursuing a vain dream, searching for treasures that had no existence. He drew out his cousin's letter and read it again, sadly enough. After all there was a good deal of truth in what she said; he had "overrated" his powers, he had no friends, no real education. He began to count up the months since he had come to London; he had received his two thousand pounds in March, and in May he had said good-bye to the woods and to the dear and friendly paths. May, June, July, August, September, October, November, and half of December had gone by; and what had he to show? Nothing but the experiment, the attempt, futile scribblings which had no end nor shining purpose. There was nothing in his desk that he could produce as evidence of his capacity, no fragment even of accomplishment. It was a thought of intense bitterness, but it seemed as if the barbarians were in the right - a place in a house of business would have been more suitable. He leaned his head on his desk overwhelmed with the severity of his own judgment. He tried to comfort himself again by the thought of all the hours of happy enthusiasm he had spent amongst his papers, working for a great idea with infinite patience. He recalled to mind something that he had always tried to keep in the background of his hopes, the foundation-stone of his life, which he had hidden out of sight. Deep in his heart was the hope that he might one day write a valiant book; he scarcely dared to entertain the aspiration, he felt his incapacity too deeply, but yet this longing was the foundation of all his painful and patient effort. This he had proposed in secret to himself, that if he labored without ceasing, without tiring, he might produce something which would at all events be art, which would stand wholly apart from the objects shaped like books, printed with printers' ink, and called by the name of books that he had read. Giotto, he knew, was a painter, and the man who imitated walnut-wood on the deal doors opposite was a painter, and he had wished to be a very humble pupil in the class of the former. It was better, he thought, to fail in attempting exquisite things than to succeed in the department of the utterly contemptible; he had vowed he would be the dunce of Cervantes's school rather than top-boy in the academy of A Bad Un to Beat and Millicent's Marriage. And with this purpose he had devoted himself to laborious and joyous years, so that however mean his capacity, the pains should not be wanting. He tried now to rouse himself from a growing misery by the recollection of this high aim, but it all seemed hopeless vanity. He looked out into the grey street, and it stood a symbol of his life, chill and dreary and grey and vexed with a horrible wind. There were the dull inhabitants of the quarter going about their common business; a man was crying "mackerel" in a doleful voice, slowly passing up the street, and staring into the white-curtained "parlors," searching for the face of a purchaser behind the India-rubble plants, stuffed birds, and piles of gaudy gilt books that adorned the windows. One of the blistered doors over the way banged, and a woman came scurrying out on some errand, and the garden gate shrieked two melancholy notes as she opened it and let it swing back after her. The little patches called gardens were mostly untilled, uncared for, squares of slimy moss, dotted with clumps of coarse ugly grass, but here and there were the blackened and rotting remains of sunflowers and marigolds. And beyond, he knew, stretched the labyrinth of streets more or less squalid, but all grey and dull, and behind were the mud pits and the steaming heaps of yellowish bricks, and to the north was a great wide cold waste, treeless, desolate, swept by bitter wind. It was all like his own life, he said again to himself, a maze of unprofitable dreariness and desolation, and his mind grew as black and hopeless as the winter sky. The morning went thus dismally till twelve o'clock, and he put on his hat and great-coat. He always went out for an hour every day between twelve and one; the exercise was a necessity, and the landlady made his bed in the interval. The wind blew the smoke from the chimneys into his face as he shut the door, and with the acrid smoke came the prevailing odor of the street, a blend of cabbage-water and burnt bones and the faint sickly vapor from the brickfields. Lucian walked mechanically for the hour, going eastward, along the main road. The wind pierced him, and the dust was blinding, and the dreariness of the street increased his misery. The row of common shops, full of common things, the blatant public-houses, the Independent chapel, a horrible stucco parody of a Greek temple with a façade of hideous columns that was a nightmare, villas like smug Pharisees, shops again, a church in cheap Gothic, an old garden blasted and riven by the builder, these were the pictures of the way. When he got home again he flung himself on the bed, and lay there stupidly till sheer hunger roused him. He ate a hunch of bread and drank some water, and began to pace up and down the room, wondering whether there were no escape from despair. Writing seemed quite impossible, and hardly knowing what he did he opened his bureau and took out a book from the shelves. As his eyes fell on the page the air grew dark and heavy as night, and the wind wailed suddenly, loudly, terribly.
            "By woman wailing for her Demon lover." The words were on his lips when he raised his eyes again. A broad band of pale clear light was shining into the room, and when he looked out of the window he saw the road all brightened by glittering pools of water, and as the last drops of the rain-storm starred these mirrors the sun sank into the wrack. Lucian gazed about him, perplexed, till his eyes fell on the clock above his empty hearth. He had been sitting, motionless, for nearly two hours without any sense of the passage of time, and without ceasing he had murmured those words as he dreamed an endless wonderful story. He experienced somewhat the sensations of Coleridge himself; strange, amazing, ineffable things seemed to have been presented to him, not in the form of the idea, but actually and materially, but he was less fortunate than Coleridge in that he could not, even vaguely, image to himself what he had seen. Yet when he searched his mind he knew that the consciousness of the room in which he sat had never left him; he had seen the thick darkness gather, and had heard the whirl of rain hissing through the air. Windows had been shut down with a crash, he had noted the pattering footsteps of people running to shelter, the landlady's voice crying to some one to look at the rain coming in under the door. It was like peering into some old bituminous picture, one could see at last that the mere blackness resolved itself into the likeness of trees and rocks and travelers. And against this background of his room, and the storm, and the noises of the street, his vision stood out illuminated, he felt he had descended to the very depths, into the caverns that are hollowed beneath the soul. He tried vainly to record the history of his impressions; the symbols remained in his memory, but the meaning was all conjecture.
            The next morning, when he awoke, he could scarcely understand or realize the bitter depression of the preceding day. He found it had all vanished away and had been succeeded by an intense exaltation. Afterwards, when at rare intervals he experienced the same strange possession of the consciousness, he found this to be the invariable result, the hour of vision was always succeeded by a feeling of delight, by sensations of brightened and intensified powers. On that bright December day after the storm he rose joyously, and set about the labor of the bureau with the assurance of success, almost with the hope of formidable difficulties to be overcome. He had long busied himself with those curious researches which Poe had indicated in the Philosophy of Composition, and many hours had been spent in analyzing the singular effects which may be produced by the sound and resonance of words. But he had been struck by the thought that in the finest literature there were more subtle tones than the loud and insistent music of "never more," and he endeavored to find the secret of those pages and sentences which spoke, less directly, and less obviously, to the soul rather than to the ear, being filled with a certain grave melody and the sensation of singing voices. It was admirable, no doubt, to write phrases that showed at a glance their designed rhythm, and rang with sonorous words, but he dreamed of a prose in which the music should be less explicit, of names rather than notes. He was astonished that morning at his own fortune and facility; he succeeded in covering a page of ruled paper wholly to his satisfaction, and the sentences, when he read them out, appeared to suggest a weird elusive chanting, exquisite but almost imperceptible, like the echo of the plainsong reverberated from the vault of a monastic church.
            He thought that such happy mornings well repaid him for the anguish of depression which he sometimes had to suffer, and for the strange experience of "possession" recurring at rare intervals, and usually after many weeks of severe diet. His income, he found, amounted to sixty-five pounds a year, and he lived for weeks at a time on fifteen shillings a week. During these austere periods his only food was bread, at the rate of a loaf a day; but he drank huge draughts of green tea, and smoked a black tobacco, which seemed to him a more potent mother of thought than any drug from the scented East. "I hope you go to some nice place for dinner," wrote his cousin; "there used to be some excellent eating-houses in London where one could get a good cut from the joint, with plenty of gravy, and a boiled potato, for a shilling. Aunt Mary writes that you should try Mr. Jones's in Water Street, Islington, whose father came from near Caermaen, and was always most comfortable in her day. I daresay the walk there would do you good. It is such a pity you smoke that horrid tobacco. I had a letter from Mrs. Dolly (Jane Diggs, who married your cousin John Dolly) the other day, and she said they would have been delighted to take you for only twenty-five shillings a week for the sake of the family if you had not been a smoker. She told me to ask you if you had ever seen a horse or a dog smoking tobacco. They are such nice, comfortable people, and the children would have been company for you. Johnnie, who used to be such a dear little fellow, has just gone into an office in the City, and seems to have excellent prospects. How I wish, my dear Lucian, that you could do something in the same way. Don't forget Mr. Jones's in Water Street, and you might mention your name to him."
            Lucian never troubled Mr. Jones; but these letters of his cousin's always refreshed him by the force of contrast. He tried to imagine himself a part of the Dolly family, going dutifully every morning to the City on the bus, and returning in the evening for high tea. He could conceive the fine odor of hot roast beef hanging about the decorous house on Sunday afternoons, papa asleep in the dining-room, mamma lying down, and the children quite good and happy with their "Sundays books." In the evening, after supper, one read the Quiver till bedtime. Such pictures as these were to Lucian a comfort and a help, a remedy against despair. Often when he felt overwhelmed by the difficulty of the work he had undertaken, he thought of the alternative career, and was strengthened.
            He returned again and again to that desire of a prose which should sound faintly, not so much with an audible music, but with the memory and echo of it. In the night, when the last tram had gone jangling by, and he had looked out and seen the street all wrapped about in heavy folds of the mist, he conducted some of his most delicate experiments. In that white and solitary midnight of the suburban street he experienced the curious sense of being on a tower, remote and apart and high above all the troubles of the earth. The gas lamp, which was nearly opposite, shone in a pale halo of light, and the houses themselves were merely indistinct marks and shadows amidst that palpable whiteness, shutting out the world and its noises. The knowledge of the swarming life that was so still, though it surrounded him, made the silence seem deeper than that of the mountains before the dawn; it was as if he alone stirred and looked out amidst a host sleeping at his feet. The fog came in by the open window in freezing puffs, and as Lucian watched he noticed that it shook and wavered like the sea, tossing up wreaths and drifts across the pale halo of the lamp, and, these vanishing, others succeeded. It was as if the mist passed by from the river to the north, as if it still passed by in the silence.
            He would shut his window gently, and sit down in his lighted room with all the consciousness of the white advancing shroud upon him. It was then that he found himself in the mood for curious labors, and able to handle with some touch of confidence the more exquisite instruments of the craft. He sought for that magic by which all the glory and glamour of mystic chivalry were made to shine through the burlesque and gross adventures of Don Quixote, by which Hawthorne had lit his infernal Sabbath fires, and fashioned a burning aureole about the village tragedy of the Scarlet Letter. In Hawthorne the story and the suggestion, though quite distinct and of different worlds, were rather parallel than opposed to one another; but Cervantes had done a stranger thing. One read of Don Quixote, beaten, dirty, and ridiculous, mistaking windmills for giants, sheep for an army; but the impression was of the enchanted forest, of Avalon, of the San Graal, "far in the spiritual city." And Rabelais showed him, beneath the letter, the Tourainian sun shining on the hot rock above Chinon, on the maze of narrow, climbing streets, on the high-pitched, gabled roofs, on the grey-blue tourelles, pricking upward from the fantastic labyrinth of walls. He heard the sound of sonorous plain-song from the monastic choir, of gross exuberant gaiety from the rich vineyards; he listened to the eternal mystic mirth of those that halted in the purple shadow of the sorbier by the white, steep road. The gracious and ornate châteaux on the Loire and the Vienne rose fair and shining to confront the incredible secrets of vast, dim, far-lifted Gothic naves, that seemed ready to take the great deep, and float away from the mist and dust of earthly streets to anchor in the haven of the clear city that hath foundations. The rank tale of the garderobe, of the farm-kitchen, mingled with the reasoned, endless legend of the schools, with luminous Platonic argument; the old pomp of the Middle Ages put on the robe of a fresh life. There was a smell of wine and of incense, of June meadows and of ancient books, and through it all he hearkened, intent, to the exultation of chiming bells ringing for a new feast in a new land. He would cover pages with the analysis of these marvels, tracking the suggestion concealed beneath the words, and yet glowing like the golden threads in a robe of samite, or like that device of the old binders by which a vivid picture appeared on the shut edges of a book. He tried to imitate this art, to summon even the faint shadow of the great effect, rewriting a page of Hawthorne, experimenting and changing an epithet here and there, noting how sometimes the alteration of a trifling word would plunge a whole scene into darkness, as if one of those blood-red fires had instantly been extinguished. Sometimes, for severe practice, he attempted to construct short tales in the manner of this or that master. He sighed over these desperate attempts, over the clattering pieces of mechanism which would not even simulate life; but he urged himself to an infinite perseverance. Through the white hours he worked on amidst the heap and litter of papers; books and manuscripts overflowed from the bureau to the floor; and if he looked out he saw the mist still pass by, still passing from the river to the north.
            It was not till the winter was well advanced that he began at all to explore the region in which he lived. Soon after his arrival in the grey street he had taken one or two vague walks, hardly noticing where he went or what he saw; but for all the summer he had shut himself in his room, beholding nothing but the form and color of words. For his morning walk he almost invariably chose the one direction, going along the Uxbridge Road towards Notting Hill, and returning by the same monotonous thoroughfare. Now, however, when the new year was beginning its dull days, he began to diverge occasionally to right and left, sometimes eating his luncheon in odd corners, in the bulging parlors of eighteenth-century taverns, that still fronted the surging sea of modern streets, or perhaps in brand new "publics" on the broken borders of the brickfields, smelling of the clay from which they had swollen. He found waste by-places behind railway embankments where he could smoke his pipe sheltered from the wind; sometimes there was a wooden fence by an old pear-orchard where he sat and gazed at the wet desolation of the market-gardens, munching a few currant biscuits by way of dinner. As he went farther afield a sense of immensity slowly grew upon him; it was as if, from the little island of his room, that one friendly place, he pushed out into the grey unknown, into a city that for him was uninhabited as the desert.
            He came back to his cell after these purposeless wanderings always with a sense of relief, with the thought of taking refuge from grey. As he lit the gas and opened the desk of his bureau and saw the pile of papers awaiting him, it was as if he had passed from the black skies and the stinging wind and the dull maze of the suburb into all the warmth and sunlight and violent color of the south.