Wednesday, 5 June 2019

Oath Against Modernism by Pope St. Pius X (translated into English)


Given on the 1st of September, 1910.

To be sworn to by all clergy, pastors, confessors, preachers, religious superiors, and professors in philosophical-theological seminaries.

I … firmly embrace and accept each and every definition that has been set forth and declared by the unerring teaching authority of the Church, especially those principal truths which are directly opposed to the errors of this day. And first of all, I profess that God, the origin and end of all things, can be known with certainty by the natural light of reason from the created world (see Rom. 1:90), that is, from the visible works of creation, as a cause from its effects, and that, therefore, his existence can also be demonstrated: Secondly, I accept and acknowledge the external proofs of revelation, that is, divine acts and especially miracles and prophecies as the surest signs of the divine origin of the Christian religion and I hold that these same proofs are well adapted to the understanding of all eras and all men, even of this time. Thirdly, I believe with equally firm faith that the Church, the guardian and teacher of the revealed word, was personally instituted by the real and historical Christ when he lived among us, and that the Church was built upon Peter, the prince of the apostolic hierarchy, and his successors for the duration of time. Fourthly, I sincerely hold that the doctrine of faith was handed down to us from the apostles through the orthodox Fathers in exactly the same meaning and always in the same purport. Therefore, I entirely reject the heretical' misrepresentation that dogmas evolve and change from one meaning to another different from the one which the Church held previously. I also condemn every error according to which, in place of the divine deposit which has been given to the spouse of Christ to be carefully guarded by her, there is put a philosophical figment or product of a human conscience that has gradually been developed by human effort and will continue to develop indefinitely. Fifthly, I hold with certainty and sincerely confess that faith is not a blind sentiment of religion welling up from the depths of the subconscious under the impulse of the heart and the motion of a will trained to morality; but faith is a genuine assent of the intellect to truth received by hearing from an external source. By this assent, because of the authority of the supremely truthful God, we believe to be true that which has been revealed and attested to by a personal God, our creator and lord.
                Furthermore, with due reverence, I submit and adhere with my whole heart to the condemnations, declarations, and all the prescripts contained in the encyclical Pascendi and in the decree Lamentabili, especially those concerning what is known as the history of dogmas. I also reject the error of those who say that the faith held by the Church can contradict history, and that Catholic dogmas, in the sense in which they are now understood, are irreconcilable with a more realistic view of the origins of the Christian religion. I also condemn and reject the opinion of those who say that a well-educated Christian assumes a dual personality-that of a believer and at the same time of a historian, as if it were permissible for a historian to hold things that contradict the faith of the believer, or to establish premises which, provided there be no direct denial of dogmas, would lead to the conclusion that dogmas are either false or doubtful. Likewise, I reject that method of judging and interpreting Sacred Scripture which, departing from the tradition of the Church, the analogy of faith, and the norms of the Apostolic See, embraces the misrepresentations of the rationalists and with no prudence or restraint adopts textual criticism as the one and supreme norm. Furthermore, I reject the opinion of those who hold that a professor lecturing or writing on a historico-theological subject should first put aside any preconceived opinion about the supernatural origin of Catholic tradition or about the divine promise of help to preserve all revealed truth forever; and that they should then interpret the writings of each of the Fathers solely by scientific principles, excluding all sacred authority, and with the same liberty of judgment that is common in the investigation of all ordinary historical documents.
                Finally, I declare that I am completely opposed to the error of the modernists who hold that there is nothing divine in sacred tradition; or what is far worse, say that there is, but in a pantheistic sense, with the result that there would remain nothing but this plain simple fact-one to be put on a par with the ordinary facts of history-the fact, namely, that a group of men by their own labor, skill, and talent have continued through subsequent ages a school begun by Christ and his apostles. I firmly hold, then, and shall hold to my dying breath the belief of the Fathers in the charism of truth, which certainly is, was, and always will be in the succession of the episcopacy from the apostles. The purpose of this is, then, not that dogma may be tailored according to what seems better and more suited to the culture of each age; rather, that the absolute and immutable truth preached by the apostles from the beginning may never be believed to be different, may never be understood in any other way.
I promise that I shall keep all these articles faithfully, entirely, and sincerely, and guard them inviolate, in no way deviating from them in teaching or in any way in word or in writing. Thus I promise, this I swear, so help me God.

Tuesday, 4 June 2019

Tuesday's Serial: "História do Futuro" by Fr. António Vieira (in Portuguese) VII


Capítulo V: Propõe-se e defende-se a opinião afirmativa
                Se escrevêramos menos há de cem anos, porventura que não puséramos aqui tão confiadamente este capitulo. Mas, como disse S. Gregório, e antes dele Sábio, quanto a Igreja mais cresce, mais se alumia, e o que nos tempos passados é duvidoso, nos futuros se sabe, a opinião do Reino temporal de Cristo e da Conceição imaculada de sua Mãe se acompanharam no mesmo tempo na mesma fortuna, e ambas ao fim, se não têm ainda triunfado, já têm vencido Mitigou-se com os dias e com a consideração o horror daquele nome temporal; acabou-se de conhecer que com e1e se não davam armas, antes se tiravam ,aos inimigos (porque também na Teologia se deve entender: Omnia dat qui justa negat); sucederam àqueles teólogos de grande espírito outros de grandes espíritos, e resolveu-se que não eram menos espirituais os que admitiam no Império de Cristo o nome de temporal.
                Nem sempre é maior espiritualidade o que mais opõem ao corpo. Os Origenistas chamavam por escárnio pelusiotas aos que seguem a fé de que todos havemos de ressuscitar em nossos corpos, parecendo-lhes cousa indigna, e muito contra o decoro da bem-aventurança, que houvessem de aparecer diante de Deus as nossas almas com vestidos tão indecentes como são os corpos; e diz S. Jerônimo, com outras galantarias, que não eram os que pior tratavam seus corpos os que isto diziam. Não fazem menos santo a Cristo, nem querem fazer menos espiritual o Mundo, os que reconhecem em Cristo o domínio temporal dele. Porventura ofende a Deus, em quanto Deus, o ser senhor e criador de todas as cousas corporais, e o ter em sua própria essência eminentemente as idéias de todas elas? Antes deixava de ser Deus, se assim não fora. Pois o domínio soberano, que é perfeição em Deus Deus (digamo-lo assim), porque há-de ser menos decência em Deus Homem?
                Quando chamamos Império temporal ao de Cristo, não queremos dizer que é o seu Império sujeito às mudanças e inconstâncias do tempo, nem que receba a grandeza e majestade da pompa e aparato vão das cousas exteriores do Mundo, a que o mesmo Mundo quando fala com mais siso chama com razão temporalidades; e isto é só o que negam as Escrituras, isto o que não admitem os Padres, e isto o que explicou o mesmo Cristo, quando disse: Regnum meum non est de hoc mundo.
                O Império que dão ou reconhecem em Cristo os que admitem e veneram nele o nome de temporal, é um domínio soberano e supremo sobre todos os homens, sobre todos os reis, sobre todas as cousas criadas, com poder de dispor delas a seu arbítrio, dando e tirando reinos, fazendo e desfazendo leis castigando e premiando, com jurdição tão própria e direta sobre todo o Mundo como a que os reis particulares têm sobre seus vassalos e reinos, antes com muito maior, mais perfeito e mais excelente domínio, não dependente como eles das criaturas, mas absoluto soberano, sublime e independente de todos.
                Os teólogos que isto assentam por conclusão é S. Tomás, Soares, Vasques, e bastava ter escrito estes três grandes nomes, para dar por provada e acreditada com o Mundo uma verdade tão necessária e importante como depois veremos. Seguem a estes três lumes outros muitos que o puderam ser da Telogia, se eles não foram diante. O Cardeal Toledo, o Cardeal Lugo, Molina, Valença, Salazar, Hurtado Arriaga, Arnico, Peres, Verga, Caspense, Carçosa, Lacerda, Justiniano, Cornelio, Ludòvico Tena, e os dois Mendonças insignes de Portugal e Castela, dos quais este último já no ano de 1586, na Universidade de Salamanca, onde era catedrático de Scoto, excitou e defendeu galhardamente esta questão nos termos seguintes, que por serem tão particulares os quero referir aqui:
                Verum Jesus Christus Deus ac Salvator noster fuerit vere ac proprie Dominus et Rex totius Orbis, atque omnium rerurm creatarum, secundum quod homo est, non tantum spiritualis rex ac dominus, sed et verus ac absolutus et proprius, atque adeo tenporalis: tam vere et proprie quam Philippus 2dus temporis rex est Hispaniarum, et unusquisque hominum dominus est suarum rerum, eo quod illis in omnem usum potest citra alicujus injuriam uti.
                Este é o sentido em que falam com pouca diferença de palavras todos os teólogos referidos, como se pode ver nos lugares citados à margem, antes dos quais tinham seguido e ensinado a mesma doutrina Santo Antonino, Durando, Almaino e os três já nomeados Abulense, Scoto, Waldense, a que podemos ajuntar muitos juristas de grande nome, como o Cardeal Turrecremata, o Cardeal Hostiense, Navarro, Bacónio e outros.
                E para que demonstremos a verdade desta nossa crença, e do império temporal de Cristo, pelos mesmos princípios e fundamentos da opinião contrária, e os vamos juntamente impugnando e desfazendo, seja o primeiro o testemunho das mesmas Escrituras alegadas, em que Cristo tão repetida e expressamente é chamado Rei por boca de todos os Profetas antigos. A que podemos acrescentar o do maior Profeta da Lei da Graça, S. João Evangelista, em dois lugares do Apocalipse, em que chama a Cristo Príncipe dos reis da Terra e Rei dos reis e Senhor dos senhores, no capítulo I, Princeps regnum terrae, e no capítulo XIX, Rex regnum et Dominus dominantium. Os quais textos e todos os mais se não podem entender própria e naturalmente senão do Reino temporal de Cristo, porque o contrário devia fazer manifesta violência à significação da palavra Rei, a qual em toda a Escritura Sagrada significa Rei temporal; e se é regra certa, como ensina S. Agostinho, que as palavras da Sagrada Escritura se não hão-de interpretar em sentido metafórico e figurativo, senão quando, se se entenderem na sua significação própria e natural, se seguisse algum grande inconveniente ou absurdo contra a doutrina da mesma Escritura recebida pela Igreja, os mesmos nomes de Rei e Reino, tantas vezes celebrados e cantados pelos Profetas, falando do Império de Cristo, nos obrigam a conceder e confessar que em toda sua propriedade significam Rei e Reino temporal, pois se não segue de assim o entendermos inconveniente algum ou dissidência contra aquela grandeza e majestade de Cristo, antes muita honra, glória e autoridade, sua e da Igreja, como neste capítulo se irá vendo, quando respondermos a estas leves objeções da parte contrária.
                A esta confirmação geral da significação da palavra Rei acrescenta o Padre Soares outra, que é própria da pessoa de Cristo, e que eficazmente convence o sentido em que se deve tomar a mesma palavra. Porque o Reino espiritual de Cristo se distingue do Sacerdócio do mesmo Cristo, e consta das Sagradas Escrituras, como prova S. Agostinho no Tratado XXII sobre S. João, e nós mostraremos largamente no capítulo seguinte, que o Reino e o Sacerdócio em Cristo são dignidades e jurdições distintas. Logo, se o nome de Supremo Sacerdote significa o Reino e Império espiritual, segue-se que o de Supremo Rei significa o temporal.
                Finalmente, o mesmo Cristo, antes de subir ao Céu, deixou dito e publicado ao Mundo que seu Eterno Pai lhe tinha dado todo o poder no Céu e na Terra: Data est mihi omnis potestas in Cælo et in Terra. E quem diz todo, seguindo as regras do direito, nenhuma cousa exclui. Teve logo Cristo o império espiritual, que é o que mais propriamente se chama império no Céu, e teve juntamente o império temporal, que é o que com toda a propriedade se chama império na Terra, porque de outra maneira se não de dizer nem entender, sem manifesta implicação, que tivesse ou tenha Cristo todo o poder, pois lhe faltaria nesse caso o poder temporal, que é uma tão grande parte desse todo.
                Estes são os textos mais eficazes e expressos com que os teólogos costumam provar a verdade do Império temporal de Cristo. E posto que baste cada um deles, tomado na propriedade e natureza de sua significação, para ,persuadir facilmente a qualquer entendimento fácil e dócil, nós, para maior demonstração da mesma verdade, sem sair das mesmas profecias e textos fundamentais desta história, não só esperamos de a confirmar eficazmente na mesma certeza, mas de lhe acrescentar com a nova luz deles nova evidência.
                E, começando pela profecia de Zacarias, já vimos que a coroação de Jesus, filho de Josedec significa a dignidade suprema do Império de Cristo. Agora pergunto porque foi coroado não com uma senão com duas coroas, e porque uma delas foi de prata e outra de ouro?
                A razão, não mística senão literal, dizem comumente os expositores que foi porque Cristo não teve uma só coroa, senão duas: uma como Supremo Sacerdote, que pertencia ao Império espiritual; e outra como Supremo Rei, que pertencia ao temporal. E por isso não eram ambas de ouro, ou ambas de prata, senão uma de prata e outra de ouro, para significar a diferença e preço daqueles dois impérios ou jurdições; e que o império espiritual significado no ouro era mais alto, mais precioso e mais sublime que o império temporal.
                E quanto ao império temporal, em que só podia haver dúvida, que maior prova se podia desejar que a da estátua de Nabuco, cujos metais desfez a pedra em pó e em cinza? Porque, se é certo (como é de fé) que aqueles quatro metais significavam quatro impérios sucessivos, e impérios verdadeiramente temporais, bem se segue que a pedra que os derrubou e desfez, figura do Reino e Império de Cristo, não só significa Império espiritual, senão também temporal, porque só impérios temporais se derrubam, arruínam e desfazem uns aos outros, o que não faz nem pode fazer o Império espiritual.
                Para um império derrubar e desfazer a outro, é necessário que tenha oposição e contrariedade com ele acerca das mesmas cousas, e esta oposição e contrariedade só se acha nos impérios temporais entre si, e não entre o império espiritual e temporal, como bem tem mostrado a experiência no mesmo Império espiritual de Cristo, o qual, depois de comunicado a seus vigários os Sumos Pontífices, não desfez os impérios e reinos dos príncipes temporais, antes ajudou muito e se ajudou de seus aumentos, crescendo e estabelecendo-se mais a grandeza e majestade da Igreja e dos Pontífices, quanto mais se estabelecia e crescia a dos Imperadores. E este foi o erro, ignorância e engano de que sempre os fiéis notaram e motejaram a Herodes, cantando sobre sua loucura por boca da Igreja: Crudelis Herodes, Deum regem venire quid times? non eritit mortalia qui Regna dat cælestia? sendo pois certo que o Reino e Império de Cristo derrubou ou há-de derrubar todos os impérios do Mundo, que são impérios verdadeiramente temporais, e não espirituais, ocupando e enchendo toda a Terra, donde eles antes estiveram, como expressamente se colhe que o império de Cristo não é só espiritual, senão temporal!
                E tudo isto se verá mais claramente, quando adiante explicarmos o tempo da ruína desta estátua e outras circunstâncias dela. Nem menos se confirma a mesma verdade com a segunda visão de Daniel (Daniel VII) na qual lemos que, para Deus dar o Império ao Filho do Homem, mandou primeiro queimar a quarta besta das vinte pontas, em que era significado o Império Romano, e todos os reinos temporais que dela nasceram, o que de nenhuma maneira era necessário se o Reino e Império de Cristo fora somente espiritual, pois vemos que reinou antigamente Cristo espiritualmente em todo o Império Romano, e reina também hoje espiritualmente em todos os reinos que do mesmo Império Romano nasceram e se dividiram, e conservam o nome de cristãos, e nem por isso deixam de ter o mesmo domínio e soberania temporal que, antes de receberem a sujeição de Cristo, tiveram. Segue-se logo com evidência que o Império de Cristo, que lhes há-de tirar essa soberania temporal, não é ou há-de ser o Império espiritual de Cristo, a que eles já estão sujeitos, senão o Império temporal, como melhor se entenderá pelo discurso de tudo o que diremos.
                Finalmente, como consta do mesmo texto de Daniel, o império do Filho do Homem ou de Cristo naquela visão é o mesmo Império universal que hão-de ter os Cristãos na Terra, no qual Império hão-de entrar e ser incorporados todos os reis e reinos do Mundo. Como se pode logo duvidar que este imenso e portentoso Império, composto de todos os impérios, de todos os reinos e de todas as repúblicas temporais, posto que seja espiritual e espiritualíssimo, não haja de ser também temporal? Este é, e este o Reino e Império de Cristo, tão cantado e celebrado nos oráculos dos Profetas, pelo qual se intitula com toda a propriedade Rex regnum et dominus dominantium; e assim como a palavra regnum e dominantium é sem dúvida que significa reis e senhores temporais, assim a palavra rex e dominus significa rei e senhor também temporal, para não admitirmos, com manifesta violência da Escritura e repugnância do entendimento, que na mesma sentença e na mesma palavra se varia o sentido e suposição dela, e que rex e dominus têm uma significação e regnum e dominantium outra. E se nos lugares da Escritura alegados pelos autores da opinião contrária, e em outros que também lhes pudéramos ajuntar, parece que o domínio real de Cristo se limita e determina ordinariamente a fins e obras espirituais, de nenhum modo se enfraquece com este indício ou argumento a verdade da nossa sentença, antes com ela se confirma e estabelece mais, porque nós não dizemos que o Reino e Império de Cristo é espiritual, senão que é espiritual e temporal juntamente, conhecendo e tendo pela maior excelência deste felicíssimo Reino, que não só em quanto espiritual, senão ainda em quanto temporal, se ordena ao fim último e sobrenatural da bem-aventurança, pois esse Reino e não outro é o que há-de ser eterno e glorioso no Céu, como dizem as palavras tão repetidas do nosso texto, e isto é ser império de Cristo e dos Cristãos; e nisto se distingue dos reinos meramente políticos e humanos, porque estes têm por fim a conservação e felicidade da Terra, e o de Cristo e dos Cristãos a do Céu.
                Vindo às autoridades (como dizem) dos Padres concedemos facilmente que são poucos os lugares de seus escritos em que se ache expressamente e em próprios termos o Reino temporal de Cristo, como também se não acha o da graça santificante do mesmo Cristo, distinta da união hipostática, e outras cousas de igual importância e dignidade, recebidas entre os teólogos; não porque os santos tivessem diferente parecer, mas porque em seu tempo não estavam em uso aqueles termos que depois inventou a Teologia, para maior clareza da doutrina escolástica, explicando muitos deles com palavras menos latinas (por não dizer bárbaras) qual é a palavra temporal. Dos quais termos se abstêm ainda hoje os que escrevem com estilo mais polido e levantado, como nos primeiros tempos da Igreja faziam aqueles santíssimos e doutíssimos Padres, para convidarem a todos a lerem de boa vontade e com gosto seus escritos, e para que nos livros dos autores cristãos se não achasse menos a propriedade e majestade da eloquência que tanto se venera nos escritores gentios.
                Desta razão, que é geral para muitas matérias, damos por testemunhas os mesmos livros dos Padres, nos quais também se acharam freqüentemente louvadas, inculcadas e persuadidas as virtudes que pertencem ao Reino espiritual de Cristo, não porque aqueles santos negassem à universalidade de seu Império o domínio temporal, mas porque deste não quis ter exercício aquele Senhor que era juntamente Senhor e Mestre, e os principais e maiores exemplos que nos quis deixar foram do desprezo dele.
                Não faltam contudo lugares muito ilustres aos Padres, em que falavam do Império temporal de Cristo com termos Não menos expressos que os que se alegam pela parte contrária, dos quais porei aqui os que bastem a responder a estes e confirmar a verdade da nossa.
                S. Cirilo, explicando as palavras de Cristo: Regnum meum non est de hoc mundo, no Livro XII sobre S. João, diz assim: Regem se esse non negat, sed regni Cæsaris se non esse hostem ostendit, quia -ejus regnum terrenum non est, sed caeli et terra:, ceterarunque rerum omnium. E S. Agostinho, no Tratado XIV sobre o mesmo Evangelista: Erat quidem Rex non talis qualis ab hominibus fit, sed talis ut homines reges faceret. E S. Gregório, na Homilia VIII, sobre os Evangelhos, ponderando o lugar do nascimento de Cristo, Não próprio senão alheio:Alienum, diz, non secundum potestatem sed secundum naturam; nam secundum potestatem in propria venit. E mais claramente que todos S. Bernardo, no Livro III De consideratione escrevendo ao Papa Eugénio: Dispensatio tibi super illum credita est, non data possessio; ...Non tu ille de quo Propheta: «Et erit omnis terra possessio ejus?» Christus hic est, qui possessionem sibi vindicat, et jure creaturæ et merito redemptionis et dono patris. Cui enim alteri dictum est: «Postula a me, et dabo tibi gentes hæreditatem tuam et possessionem tuem terminos terræ?»Possessionem et dominium cede huic, tu curam ilius habe.
                Outras muitas sentenças semelhantes a estas se vêem em outros Santos Padres da mesma e maior antigüidade, como S. Ireneu, no Livro IV, cap. XVII; S. Cipriano Adversus Judaeos cap. XXVI, S. Hilário sobre o Salmo II, v. V; S. Jerônimo, Lib. IV, sobre Jeremias, cap. XXII, e S. Ambrósio no Livro III, sobre S. Lucas. Aos quais com razão podemos acrescentar todos aqueles autores antigos e modernos que, a título de Mãe de Cristo, reconhecem e veneram na Virgem, Senhora nossa, o império e domínio de todo o Mundo. O mesmo S. Bernardo, no Sermão sobre as palavras do Apocalipse - signum: Maria (diz) eo quod mater Dei est, regina cælorum et domina mundi jure esse probutur. E S. Atanásio, no Sermão I De nativitate Virginis: Quandoquidem Christus rex est qui natus est ex virgine idemque et Dominus et Deus; ea propter et mater quæ eum genuit, et regira domina et deipara proprie et vere censetur. E S. Bernardino de Sena, no Tomo I, Serm. XI, cap. I: Virgo beatissima omnem hujus murdi meruit principatum et regnum, quia filius ejus in primo instanti suæ conceptionis monarchiam totius promeruit et obtinuit uriversi, sicut Propheta testatur, dicens: «Domini est terra et plenitudo ejus, orbis terrarum et universi qui habitant in eo».
                Dos quais lugares todos e muito mais claramente destes últimos se mostra quão assentada cousa era, e quão sem controvérsia, no sentir comum dos Padres, o Império e Monarquia universal de Cristo, não só quanto ao Reino espiritual e do Céu, senão quanto ao temporal e da Terra. E se alguns dos mesmos Santos Padres , principal mente em livro s apologéticos ou tratados, parece que diziam e ensinavam o contrário (como verdadeiramente parece), deve-se advertir que falavam do Reino de Cristo, não quanto ao poder, império ou domínio, senão quanto ao aparato, grandeza e majestade exterior de rei temporal, o qual os Judeus esperavam e os Gentios desejavam em Cristo, os primeiros interpretando erradamente as Escrituras, e os segundos fingindo as propriedades de Deus humanado conforme sua vaidade e apetite, como gente costumada a fazer deuses à sua vontade.
                E como a controvérsia e disputa daqueles tempos era contra este escândalo dos Judeus e contra esta estultícia dos Gentios, que são os nomes injuriosos ou gloriosos com que uns e outros afrontavam a cruz e humildade de Cristo, por isso é tão freqüente nos escritos dos Padres a diferença do seu Reino aos reinos do Mundo, não negando a Cristo Rei, como dizíamos, o domínio e império ainda temporal sobre todo e1e, mas engrandecendo esse mesmo império pelo desprezo da pompa e aparato vão em que põem os reis da Terra sua grandeza e majestade.
                Basta, por todos os Padres que pudéramos trazer em comprovação desta nossa advertência, um lugar de S. João Crisóstomo, em que, falando do Rei que vieram adorar a Belém os reis e da diferença humilde de seu estado, diz assim elegantemente:

Quonam pato magi ex stella illa Judaeorum regem illum esse didicerut, cum certe non istius regni ille rex esset... Nihil quippe tale monstravit, quale mundi hujs reges habere conspicimus. Neque enim hastas, neque clypeatas ostendit militum catervas: non equos regalibus phaleris insignes, non cunas auro ostroque fulgentes; non enim istum neque alium quempiam circa se habuit ornatum, sed vilem hanc prorsus vitam egit ac pauperem: duodecim tantummodo homines, eosque despectabiles secum circumducendo.

Esse aparato e pompa exterior de riquezas, galas, palácios, cavalos, coches, criados, exércitos, é o que os Santos negavam no Império de Cristo, e não o império e domínio dele sobre todo o Mundo, e este é o sentido próprio e germano em que Cristo disse a Pilatos: Regnum meum non est de hoc mundo. Como logo explicou na mesma razão que deu do que tinha dito: Si ex hoc mundo esset regnum meum, ministri utique mei decertarent, ut non traderer Judæis. Onde se deve notar que não disse Cristo: Regnum meum non est hujus mundi, senão de hoc mundo, porque o Reino de Cristo verdadeiramente era deste Mundo e de todo o Mundo, e só não tinha os acidentes da vaidade e falsa grandeza com que se sustentam os outros reinos do Mundo.
               

Friday, 31 May 2019

Friday's Sung Word: Hino do Bangu Atlético Clube by Lamartine Babo (in Portuguese)


O Bangu tem também a sua história, a sua glória,
Enchendo seus fãs de alegria!
De lá, pra cá, surgiu Domingos da Guia*.

Em Bangu se o clube vence
há na certa um feriado,
Comércio fechado.
A torcida reunida até
parece a do Fla-Flu*:
Bangu, Bangu, Bangu!

O Bangu tem também como divisa na camisa:
O vermelho-sangue a brilhar.
E faz cartaz, estouram foguetes no ar!


*Domingos da Guia (1912–2000) - regarded as one of the best Brazilian defenders of all time.
* Fla-Flu - traditional and more important match between cross-town rivals Flamengo and Fluminense in Rio de Janeiro. The term was coined by journalist Mário Filho. 


You can hear the Bangu Atlético Clube anthem sung by Coral e Orquestra Musika here.