From Mystic #6 (cover-dated January 1952).
Sunday 20 October 2013
Friday 18 October 2013
"O Navio Negreiro ou Tragédia em Alto Mar" by Castro Alves (in Portuguese)
I
'Stamos em pleno
mar... Doudo no espaço
Brinca o luar —
dourada borboleta;
E as vagas após
ele correm... cansam
Como turba de
infantes inquieta.
'Stamos em pleno
mar... Do firmamento
Os astros saltam
como espumas de ouro...
O mar em troca
acende as ardentias,
— Constelações do
líquido tesouro...
'Stamos em pleno
mar... Dois infinitos
Ali se estreitam
num abraço insano,
Azuis, dourados,
plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o
céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno
mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar
das virações marinhas,
Veleiro brigue
corre à flor dos mares,
Como roçam na
vaga as andorinhas...
Donde vem? onde
vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo
se é tão grande o espaço?
Neste saara os
corcéis o pó levantam,
Galopam, voam,
mas não deixam traço.
Bem feliz quem
ali pode nest'hora
Sentir deste
painel a majestade!
Embaixo — o mar
em cima — o firmamento...
E no mar e no céu
— a imensidade!
Oh! que doce
harmonia traz-me a brisa!
Que música suave
ao longe soa!
Meu Deus! como é
sublime um canto ardente
Pelas vagas sem
fim boiando à toa!
Homens do mar! ó
rudes marinheiros,
Tostados pelo sol
dos quatro mundos!
Crianças que a
procela acalentara
No berço destes
pélagos profundos!
Esperai! esperai!
deixai que eu beba
Esta selvagem,
livre poesia
Orquestra — é o
mar, que ruge pela proa,
E o vento, que
nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges
assim, barco ligeiro?
Por que foges do
pávido poeta?
Oh! quem me dera
acompanhar-te a esteira
Que semelha no
mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das
nuvens entre as gazas,
Sacode as penas,
Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do
nauta o berço,
Donde é filho,
qual seu lar?
Ama a cadência do
verso
Que lhe ensina o
velho mar!
Cantai! que a
morte é divina!
Resvala o brigue
à bolina
Como golfinho
veloz.
Presa ao mastro
da mezena
Saudosa bandeira
acena
As vagas que
deixa após.
Do Espanhol as
cantilenas
Requebradas de
langor,
Lembram as moças
morenas,
As andaluzas em
flor!
Da Itália o filho
indolente
Canta Veneza
dormente,
— Terra de amor e
traição,
Ou do golfo no
regaço
Relembra os
versos de Tasso,
Junto às lavas do
vulcão!
O Inglês —
marinheiro frio,
Que ao nascer no
mar se achou,
(Porque a
Inglaterra é um navio,
Que Deus na
Mancha ancorou),
Rijo entoa
pátrias glórias,
Lembrando,
orgulhoso, histórias
De Nelson e de
Aboukir.. .
O Francês —
predestinado —
Canta os louros
do passado
E os loureiros do
porvir!
Os marinheiros
Helenos,
Que a vaga jônia
criou,
Belos piratas
morenos
Do mar que
Ulisses cortou,
Homens que Fídias
talhara,
Vão cantando em
noite clara
Versos que Homero
gemeu ...
Nautas de todas
as plagas,
Vós sabeis achar
nas vagas
As melodias do
céu! ...
III
Desce do espaço
imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ...
inda mais... não pode olhar humano
Como o teu
mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu
aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral!
... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e
vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho
dantesco... o tombadilho
Que das luzernas
avermelha o brilho.
Em sangue a se
banhar.
Tinir de
ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens
negros como a noite,
Horrendos a
dançar...
Negras mulheres,
suspendendo às tetas
Magras crianças,
cujas bocas pretas
Rega o sangue das
mães:
Outras moças, mas
nuas e espantadas,
No turbilhão de
espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa
vãs!
E ri-se a
orquestra irônica, estridente...
E da ronda
fantástica a serpente
Faz doudas espirais
...
Se o velho
arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se
gritos... o chicote estala.
E voam mais e
mais...
Presa nos elos de
uma só cadeia,
A multidão
faminta cambaleia,
E chora e dança
ali!
Um de raiva
delira, outro enlouquece,
Outro, que
martírios embrutece,
Cantando, geme e
ri!
No entanto o
capitão manda a manobra,
E após fitando o
céu que se desdobra,
Tão puro sobre o
mar,
Diz do fumo entre
os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo
o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais
dançar!..."
E ri-se a
orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda
fantástica a serpente
Faz doudas
espirais...
Qual um sonho
dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais,
maldições, preces ressoam!
E ri-se
Satanás!...
V
Senhor Deus dos
desgraçados!
Dizei-me vós,
Senhor Deus!
Se é loucura...
se é verdade
Tanto horror
perante os céus?!
Ó mar, por que
não apagas
Co'a esponja de
tuas vagas
De teu manto este
borrão?...
Astros! noites!
tempestades!
Rolai das
imensidades!
Varrei os mares,
tufão!
Quem são estes
desgraçados
Que não encontram
em vós
Mais que o rir
calmo da turba
Que excita a
fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à
pressa resvala
Como um cúmplice
fugaz,
Perante a noite
confusa...
Dize-o tu, severa
Musa,
Musa libérrima,
audaz!...
São os filhos do
deserto,
Onde a terra
esposa a luz.
Onde vive em
campo aberto
A tribo dos
homens nus...
São os guerreiros
ousados
Que com os tigres
mosqueados
Combatem na
solidão.
Ontem simples,
fortes, bravos.
Hoje míseros
escravos,
Sem luz, sem ar,
sem razão. . .
São mulheres
desgraçadas,
Como Agar o foi
também.
Que sedentas,
alquebradas,
De longe... bem
longe vêm...
Trazendo com
tíbios passos,
Filhos e algemas
nos braços,
N'alma — lágrimas
e fel...
Como Agar
sofrendo tanto,
Que nem o leite
de pranto
Têm que dar para
Ismael.
Lá nas areias
infindas,
Das palmeiras no
país,
Nasceram crianças
lindas,
Viveram moças
gentis...
Passa um dia a
caravana,
Quando a virgem
na cabana
Cisma da noite
nos véus ...
... Adeus, ó
choça do monte,
... Adeus,
palmeiras da fonte!...
... Adeus,
amores... adeus!...
Depois, o areal
extenso...
Depois, o oceano
de pó.
Depois no
horizonte imenso
Desertos...
desertos só...
E a fome, o
cansaço, a sede...
Ai! quanto
infeliz que cede,
E cai p'ra não
mais s'erguer!...
Vaga um lugar na
cadeia,
Mas o chacal
sobre a areia
Acha um corpo que
roer.
Ontem a Serra
Leoa,
A guerra, a caça
ao leão,
O sono dormido à
toa
Sob as tendas
d'amplidão!
Hoje... o porão
negro, fundo,
Infecto,
apertado, imundo,
Tendo a peste por
jaguar...
E o sono sempre
cortado
Pelo arranco de
um finado,
E o baque de um
corpo ao mar...
Ontem plena
liberdade,
A vontade por
poder...
Hoje... cúm'lo de
maldade,
Nem são livres
p'ra morrer. .
Prende-os a mesma
corrente
— Férrea, lúgubre
serpente —
Nas roscas da
escravidão.
E assim zombando
da morte,
Dança a lúgubre
coorte
Ao som do
açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos
desgraçados!
Dizei-me vós,
Senhor Deus,
Se eu deliro...
ou se é verdade
Tanto horror
perante os céus?!...
Ó mar, por que
não apagas
Co'a esponja de
tuas vagas
Do teu manto este
borrão?
Astros! noites!
tempestades!
Rolai das
imensidades!
Varrei os mares,
tufão! ...
VI
Existe um povo
que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta
infâmia e cobardia!...
E deixa-a
transformar-se nessa festa
Em manto impuro
de bacante fria!...
Meu Deus! meu
Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na
gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se
lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão
de minha terra,
Que a brisa do
Brasil beija e balança,
Estandarte que a
luz do sol encerra
E as promessas
divinas da esperança...
Tu que, da
liberdade após a guerra,
Foste hasteado
dos heróis na lança
Antes te
houvessem roto na batalha,
Que servires a um
povo de mortalha!...
Fatalidade atroz
que a mente esmaga!
Extingue nesta
hora o brigue imundo
O trilho que
Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no
pélago profundo!
Mas é infâmia
demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos,
heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca
esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a
porta dos teus mares!
Thursday 17 October 2013
"Song" by Edgar Allan Poe (in English)
I saw thee on thy bridal day,
When a burning blush
came o'er thee,
Though happiness around thee lay,
The world all love
before thee;
And in thine eye a kindling light
(Whatever it might
be)
Was all on Earth my aching sight
Of loveliness could
see.
That blush, perhaps, was maiden shame:
As such it well may
pass,
Though its glow hath raised a fiercer flame
In the breast of
him, alas!
Who saw thee on that bridal day,
When that deep blush
would come o'er thee,
Though happiness around thee lay,
The world all love
before thee.
Wednesday 16 October 2013
Le Avventure di Pinocchio by Carlo Collodi (in Italian)
Capitolo 1
Come andò che maestro Ciliegia, falegname, trovò
un pezzo di legno, che piangeva e rideva come un bambino
C’era una volta...
— Un re! — diranno subito i miei
piccoli lettori.
No, ragazzi, avete sbagliato. C’era
una volta un pezzo di legno.
Non era un legno di lusso, ma un
semplice pezzo da catasta, di quelli che d’inverno si mettono nelle stufe e nei
caminetti per accendere il fuoco e per riscaldare le stanze.
Non so come andasse, ma il fatto gli
è che un bel giorno questo pezzo di legno capitò nella bottega di un vecchio
falegname, il quale aveva nome mastr’Antonio, se non che tutti lo chiamavano
maestro Ciliegia, per via della punta del suo naso, che era sempre lustra e
paonazza, come una ciliegia matura.
Appena maestro Ciliegia ebbe visto
quel pezzo di legno, si rallegrò tutto e dandosi una fregatina di mani per la
contentezza, borbottò a mezza voce:
— Questo legno è capitato a tempo:
voglio servirmene per fare una gamba di tavolino.
Detto fatto, prese subito l’ascia
arrotata per cominciare a levargli la scorza e a digrossarlo, ma quando fu lì
per lasciare andare la prima asciata, rimase col braccio sospeso in aria,
perché sentì una vocina sottile, che disse raccomandandosi:
— Non mi picchiar tanto forte!
Figuratevi come
rimase quel buon vecchio di maestro Ciliegia!
Girò gli occhi smarriti intorno alla
stanza per vedere di dove mai poteva essere uscita quella vocina, e non vide
nessuno! Guardò sotto il banco, e nessuno; guardò dentro un armadio che stava sempre
chiuso, e nessuno; guardò nel corbello dei trucioli e della segatura, e
nessuno; apri l’uscio di bottega per dare un’occhiata anche sulla strada, e
nessuno! O dunque?...
— Ho capito; — disse allora ridendo
e grattandosi la parrucca, — si vede che quella vocina me la sono figurata io.
Rimettiamoci a lavorare.
E ripresa l’ascia in mano, tirò giù
un solennissimo colpo sul pezzo di legno.
— Ohi! tu m’hai fatto male! — gridò
rammaricandosi la solita vocina.
Questa volta maestro Ciliegia resta
di stucco, cogli occhi fuori del capo per la paura, colla bocca spalancata e
colla lingua giù ciondoloni fino al mento, come un mascherone da fontana.
Appena riebbe l’uso della parola, cominciò a dire tremando e balbettando dallo
spavento:
— Ma di dove sarà uscita questa vocina che ha detto ohi?... Eppure qui non
c’è anima viva. Che sia per caso questo pezzo di legno che abbia imparato a
piangere e a lamentarsi come un bambino? Io non lo posso credere. Questo legno
eccolo qui; è un pezzo di legno da caminetto, come tutti gli altri, e a
buttarlo sul fuoco, c’è da far bollire una pentola di fagioli... O dunque? Che
ci sia nascosto dentro qualcuno? Se c’è nascosto qualcuno, tanto peggio per
lui. Ora l’accomodo io!
Figuratevi come rimase quel buon vecchio di maestro Ciliegia!
Monday 30 September 2013
"Égalité-Fraternité" by Henri Cazalis (in French)
Zig et zig et zag, la mort en cadence
Frappant une tombe avec son talon,
La mort à minuit joue un air de danse,
Zig et zig et zag, sur son violon.
Le vent d'hiver souffle, et la nuit est sombre,
Des gémissements sortent des tilleuls ;
Les squelettes blancs vont à travers l'ombre
Courant et sautant sous leurs grands linceuls,
Zig et zig et zag, chacun se trémousse,
On entend claquer les os des danseurs,
Un couple lascif s'assoit sur la mousse
Comme pour goûter d'anciennes douceurs.
Zig et zig et zag, la mort continue
De racler sans fin son aigre instrument.
Un voile est tombé ! La danseuse est nue !
Son danseur la serre amoureusement.
La dame est, dit-on, marquise ou baronne.
Et le vert galant un pauvre charron – Horreur !
Et voilà qu'elle s'abandonne
Comme si le rustre était un baron !
Zig et zig et zig, quelle sarabande!
Quels cercles de morts se donnant la main !
Zig et zig et zag, on voit dans la bande
Le roi gambader
auprès du vilain!
Mais psit ! tout à coup on quitte la ronde,
On se pousse, on fuit, le coq a chanté
Oh ! La belle nuit pour le pauvre monde !
Et vive la mort
et l'égalité !
Sunday 29 September 2013
The Lord's Prayer (in English)
from The Gospel according to St. Matthew
The Holy Bible: King James Version.
Matt 6:5-15
5 And when
thou prayest, thou shalt not be as the hypocrites are: for they love to pray
standing in the synagogues and in the corners of the streets, that they may be
seen of men. Verily I say unto you, They have their reward.
6 But thou,
when thou prayest, enter into thy closet, and when thou hast shut thy door,
pray to thy Father which is in secret; and thy Father which seeth in secret
shall reward thee openly.
7 But when
ye pray, use not vain repetitions, as the heathen do: for they think that they
shall be heard for their much speaking.
8 Be not ye
therefore like unto them: for your Father knoweth what things ye have need of,
before ye ask him.
9 After this
manner therefore pray ye:
Our Father which art in heaven,
Hallowed be thy name.
10 Thy kingdom
come.
Thy will be done
in earth, as it is in heaven.
11 Give us this
day our daily bread.
12 And forgive
us our debts,
as we forgive our debtors.
13 And lead us
not into temptation,
but deliver us from evil:
For thine is the kingdom, and the power, and the glory, for ever. Amen.
14 For if ye
forgive men their trespasses, your heavenly Father will also forgive you:
15 but if ye
forgive not men their trespasses, neither will your Father forgive your
trespasses.
Thursday 26 September 2013
"The Shepherd's Boy" by Aesop (translated into English)
There was once a young shepherd Bboy who
tended his sheep at the foot of a mountain near a dark forest. It was
rather lonely for him all day, so he thought upon a plan by which he
could get a little company and some excitement. He rushed down towards
the village calling out "wolf, wolf," and the villagers came out to
meet him, and some of them stopped with him for a considerable time.
This pleased the boy so much that a few days afterwards he tried the
same trick, and again the villagers came to his help. But shortly after
this a wolf actually did come out from the forest, and began to worry
the sheep, and the boy of course cried out "wolf, wolf," still louder
than before. But this time the villagers, who had been fooled twice
before, thought the boy was again deceiving them, and nobody stirred to
come to his help. So the wolf made a good meal off the boy's flock,
and when the boy complained, the wise man of the village said: "A liar
will not be believed, even when he speaks the truth."
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