Friday, 22 November 2013

Ya se fue la ciudad by Pablo Neruda (in Spanish)



Cómo marcha el reloj sin darse prisa
con tal seguridad que se come los años:
los días son pequeñas y pasajeras uvas,
los meses se destiñen descolgados del tiempo.

Se va, se va el minuto hacia atrás, disparado
por la más inmutable artillería
y de pronto nos queda sólo un año para irnos,
un mes, un día, y llega la muerte al calendario.

Nadie pudo parar el agua que huye,
no se detuvo con amor ni pensamiento,
siguió, siguió corriendo entre el sol y los sseres,
y nos mató su estrofa pasajera.

Hasta que al fin caemos en el tiempo, tendidos,
y nos lleva, y ya nos fuimos, muertos,
arrastrados sin ser, hasta no ser ni sombra,
ni polvo, ni palabra, y allí se queda todo
y en la ciudad en donde no viviremos más
se quedaron vacíos los trajes y el orgullo.

Sonnet II by Will Shakespeare (in English)

When forty winters shall besiege thy brow,
And dig deep trenches in thy beauty's field,
Thy youth's proud livery so gazed on now,
Will be a totter'd weed of small worth held:
Then being asked, where all thy beauty lies,
Where all the treasure of thy lusty days;
To say, within thine own deep sunken eyes,
Were an all-eating shame, and thriftless praise.
How much more praise deserv'd thy beauty's use,
If thou couldst answer 'This fair child of mine
Shall sum my count, and make my old excuse,'
Proving his beauty by succession thine!
   This were to be new made when thou art old,
   And see thy blood warm when thou feel'st it cold.

Thursday, 21 November 2013

A Flor e a Fonte by Vicente de Carvalho (in Portuguese)



Deixa-me, fonte! Dizia
A flor tonta de terror
E a fonte sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

Deixa-me, deixa-me, fonte!
Dizia a flor a chorar:
Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.

E a fonte rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria
Corria levando a flor.

Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!...

Chorava a flor e gemia
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria
Rolava levando a flor.

Adeus sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do por-do-sol.

Carícia das brisas leves
Que abrem rasgões de luar..
Fonte, fonte não me leves,
Não me leves para o mar!...

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como o da fonte e da flor

"As Duas Flores" by Castro Alves (in Portuguese)



São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol;
Vivendo no mesmo galho
Da mesma gota de orvalho
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas...
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu...

Unidas, bem como os prantos
Que em parelhas descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como a estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera,
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Wednesday, 20 November 2013

"Mal Secreto" by Raimundo Correia (in Portuguese)



Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!