Canto I
Enquanto vagava solitário por aqueles caminhos arenosos ladeados por plátanos frondosos, meditava sobre as emoções revoltas no meu coração.
Ouvia o Argento correr célere alguns metros à minha direita. Um rapaz de rosto desagradável passou por mim a pedalar bicicleta velha, rangenta.
Parei por um momento e o rosto de Cláudio dançou à minha frente.
Corri a mão por meus cabelos. Alguns garotos, filhos de camponeses, corriam para a praia.
Respirei fundo aquele ar e senti cheiro de saudade, polenta, New York, mamma Rosa e de homem. De Luciano.
Thursday, 19 December 2013
Wednesday, 18 December 2013
"The Song of Songs of Solomon" (Chapter III in English)
1 Bride: On my bed at night I sought him
whom my heart loves -
I sought him but I did not find him.
2 I will rise then and go
about the city;
in the streets and crossings I will seek
Him whom my heart loves.
I sought him but I did not find him.
3 The watchmen came upon me
as they made their rounds of the city:
Have you seen him whom my heart loves?
4 I had hardly left them
when I found him whom my heart loves.
I took hold of him and would not let him go
till I should bring him to the home of my mother,
to the room of my parent.
5 Bridegroom:I adjure you, daughters of Jerusalem,
by the gazelles and hinds of the field,
Do not arouse, do not stir up love
before its own time.
(Third Poem)
6
What is this coming up from the desert,
like a column of smoke
Laden with myrrh, with frankincense,
and with the perfume of every exotic dust?
7 Ah, it is the litter of
Solomon;
sixty valiant men surround it,
of the valiant men of Israel:
8 All of them expert with the
sword,
skilled in battle,
Each with his sword at his side
against danger in the watches of the night.
9 King Solomon made himself a
carriage
of wood from Lebanon.
10 He made its columns of
silver,
its roof of gold,
Its seat of purple cloth,
its framework inlaid with ivory.
11 Daughters of Jerusalem,
come forth
and look upon King Solomon
In the crown with which his mother has crowned him
on the day of his marriage,
on the day of the joy of his heart.
Tuesday, 17 December 2013
Soneto da Fidelidade by Vinicius de Moraes (in Portuguese)
De tudo, ao meu
amor serei atento
Antes, e com tal
zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face
do maior encanto
Dele se encante
mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em
cada vão momento
E em seu louvor
hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e
derramar meu pranto
Ao seu pesar ou
seu contentamento.
E assim, quando
mais tarde me procure
Quem sabe a
morte, angústia de quem vive
Quem sabe a
solidão, fim de quem ama
Eu possa (me)
dizer do amor (que tive):
Que não seja
imortal, posto que é chama
Mas que seja
infinito enquanto dure.
Sunday, 15 December 2013
Na Estrada de Sintra by Álvaro de Campos (Fernando Pessooa) (in Portuguese)
Ao volante do
Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao volante do
Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao
sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio,
guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me
forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por
outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem
haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que
mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a
noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando
chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta
inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre,
sempre,
Esta angústia
excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de
Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
Maleável aos meus
movimentos subconscientes do volante,
Galga sob mim
comigo o automóvel que me emprestaram.
Sorrio do
símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Em quantas coisas
que me emprestaram guio como minhas!
Quanto me
emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!
À esquerda o
casebre — sim, o casebre — à beira da estrada.
À direita o campo
aberto, com a lua ao longe.
O automóvel, que
parecia há pouco dar-me liberdade,
É agora uma coisa
onde estou fechado,
Que só posso
conduzir se nele estiver fechado,
Que só domino se
me incluir nele, se ele me incluir a mim.
À esquerda lá
para trás o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve
ser feliz, só porque não é a minha.
Se alguém me viu
da janela do casebre, sonhará: Aquele é que é feliz.
Talvez à criança
espreitando pelos vidros da janela do andar que está em cima
Fiquei (com o
automóvel emprestado) como um sonho, uma fada real.
Talvez à rapariga
que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha
No pavimento
térreo,
Sou qualquer
coisa do príncipe de todo o coração de rapariga,
E ela me olhará
de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi.
Deixarei sonhos
atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?
Eu, guiador do
automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?
Na estrada de
Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o
Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na
estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo
terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração
ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,
À porta do
casebre,
O meu coração
vazio,
O meu coração
insatisfeito,
O meu coração
mais humano do que eu, mais exacto que a vida.
Na estrada de
Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,
Na estrada de
Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de
Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de
Sintra, cada vez menos perto de mim...
Saturday, 14 December 2013
"A Reforma da Natureza" by Monteiro Lobato (in Portuguese)
CAPÍTULO 1
A Reforma da Natureza
Quando a guerra da Europa terminou, os ditadores,
reis e presidentes cuidaram da discussão da paz. Reuniram-se num campo aberto,
sob uma grande barraca de pano, porque já não havia cidades: todas haviam sido
arrasadas pêlos bombardeios aéreos. E puseram-se a discutir, mas por mais que
discutissem não saía paz nenhuma. Parecia a continuação da guerra, com
palavrões em vez de granadas e perdigotos em vez de balas de fuzil.
Foi então que o Rei Carol da Romênia se levantou e
disse:
- Meus senhores, a paz não sai porque somos todos
aqui representantes de países e cada um de nós puxa a brasa para a sua
sardinha. Ora a brasa é uma só e as sardinhas são muitas.
Ainda que discutamos durante um século, não haverá
acordo possível. O meio de arrumarmos a situação é convidarmos para esta
conferência alguns representantes da humanidade. Só essas criaturas poderão
propor uma paz que satisfazendo a toda a humanidade também satisfaça aos povos,
porque a humanidade é um todo do qual os povos são as partes.
Ou melhor: a humanidade é uma laranja da qual os
povos são os gomos.
Essas palavras profundamente sábias muito impressionaram àqueles homens. Mas
onde encontrar criaturas que representassem a humanidade e não viessem com as
mesquinharias das que só representam povos, isto é, gomos da humanidade?
O Rei Carol, depois de cochichar com o General de
Gaulle, prosseguiu no seu discurso.
- Só conheço - disse ele - duas criaturas em
condições de representar a humanidade, porque são as mais humanas do mundo e
também são grandes estadistas.
A pequena república que elas governam sempre nadou
na maior felicidade.
Mussolini, enciumado, levantou o queixo.
- Quem são essas maravilhas!
- Dona Benta e tia Nastácia - respondeu o Rei
Carol - as duas respeitáveis matronas que governam o Sítio do Pica-pau Amarelo,
lá na América do Sul. Proponho que a Conferência mande buscar as duas
maravilhas para que nos ensinem o segredo de bem governar os povos.
- Muito bem! - aprovou o Duque de Windsor, que era
o representante dos ingleses. - A Duquesa me leu a história desse maravilhoso
pequeno país, um verdadeiro paraíso na terra, e também estou convencido de que
unicamente por meio da sabedoria de Dona Benta e do bom-senso de tia Nastácia o
mundo poderá ser consertado. No dia em que o nosso planeta ficar inteirinho
como é o sítio, não só teremos paz eterna como a mais perfeita felicidade.
Os grandes ditadores e os outros chefes da Europa
nada sabiam do sítio. Admiraram-se daquelas palavras e pediram informações. O
Duque de Windsor começou a contar, desde o começo, as famosas brincadeiras de
Narizinho, Pedrinho e Emília no Pica-pau Amarelo. O interesse foi tanto que
pouco depois todos aqueles homens estavam sentados no chão, em redor do Duque,
ouvindo as histórias e lembrando-se com saudades do bom tempo em que haviam
sido crianças e, em vez de matar gente com canhões e bombas, brincavam na maior
alegria de "esconde-esconde" e " chicote-queimado.”
Comoveram-se e aprovaram a proposta do Rei Carol.
Eis explicada a razão do convite a Dona Benta, tia
Nastácia e o Visconde de Sabugosa para irem representar a Humanidade e o
Bom-Senso na Conferência da Paz de 1945.
Com grande naturalidade Dona Benta aceitou o
convite e deliberou seguir com todo o seu pessoalzinho - menos a Emília. Emília
recusou-se a partir porque estava com a idéia que lhe veio pela primeira vez
quando ouviu a fábula do Reformador da Natureza. Fazia já meses que Dona Benta
havia contado essa fábula assim:
O Reformador da Natureza, Américo Pisca-Pisca, tinha
o hábito de botar defeito em todas as coisas. O mundo para ele estava errado e
a Natureza só fazia tolices.
- Tolices, Américo?
- Pois então?!... Aqui neste pomar você tem a
prova disso. Lá está aquela jabuticabeira enorme sustendo frutas pequeninas e
mais adiante vejo uma colossal abóbora presa ao caule duma planta rasteira.
Não era lógico que fosse justamente o contrário? Se
as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas - punha
as jabuticabas na aboboreira e as abóboras na jabuticabeira. Não acha que tenho
razão?
E assim discorrendo, Américo provou que tudo estava
errado e só ele era capaz de dispor com inteligência o mundo.
- Mas o melhor - concluiu - é não pensar nisso e
tirar uma soneca à sombra destas árvores, não acha?
E Américo Pisca-Pisca, pisca-piscando que não
acabava mais, estirou-se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. Sonhou com o mundo novo,
inteirinho reformado pelas suas mãos. Que beleza!
De repente, porém, no melhor do sonho, plaf! uma
jabuticaba cai do galho bem em cima do seu nariz.
Américo despertou de um pulo. Piscou, piscou. Meditou
sobre o caso e afinal reconheceu que o mundo não estava tão mal feito como ele
dizia. E lá se foi para casa, refletindo:
- Que espiga! ... Pois não é que se o mundo
tivesse sido reformado por mim a primeira vítima teria sido eu mesmo? Eu,
Américo Pisca- Pisca, morto pela abóbora por mim posta em lugar da jabuticaba? Hum!... Deixemo-nos de reformas. Fique tudo como está que está tudo muito bom.
E Pisca-Pisca lá continuou a piscar pela vida em
fora, mas desde então perdeu a cisma de corrigir a Natureza.
Ao ouvirem Dona Benta contar essa fábula todos
concordaram com a moralidade, menos Emília.
- Sempre achei a Natureza errada - disse ela - e
depois de ouvir a história do Américo Pisca-Pisca, acho-a mais errada ainda. Pois
não é um erro fazer um sujeito pisca-piscar? Para que tanto "pisco"?
Tudo que é demais está errado. E quanto mais eu "estudo a Natureza"
mais vejo erros. Para que tanto beiço em tia Nastácia? Por que dois chifres na
frente das vacas e nenhum atrás? Os inimigos atacam mais por trás do que pela
frente. E é tudo assim. Erradíssimo. Eu, se fosse reformar o mundo, deixava
tudo um encanto, e começava reformando essa fábula e esse Américo Pisca-Pisca.
A discussão foi longe naquele dia; todos se
puseram contra a reforma, mas a teimosa criaturinha não cedeu. Berrou que tudo
estava errado e que ela havia de reformar a Natureza.
- Quando, Marquesa? - perguntou ironicamente
Narizinho.
- Da primeira vez em que me pilhar aqui sozinha.
Sonnet III by William Shakespeare (in English)
Look in thy glass and tell the face thou viewest
Now is the time that face should form another;
Whose fresh repair if now thou not renewest,
Thou dost beguile the world, unbless some mother.
For where is she so fair whose uneared womb
Disdains the tillage of thy husbandry?
Or who is he so fond will be the tomb
Of his self-love, to stop posterity?
Thou art thy mother's glass and she in thee
Calls back the lovely April of her prime;
So thou through windows of thine age shalt see,
Despite of wrinkles, this thy golden time.
But if thou live,
remembered not to be,
Die single and
thine image dies with thee.
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