Monday, 6 January 2014

The Maggi according to St. Matthew (in Portuguese)



1 Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém. 2 Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo. 3 A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele. 4 Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. 5 Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:

6 E tu, Belém, terra de Judá,
não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá,
porque de ti sairá o chefe
que governará Israel, meu povo (Miq 5,2).

7 Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido. 8 E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo. 9 Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou. 10 A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. 11 Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.

13 Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar. 14 José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.
15 Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta:

Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1).

16 Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos. 17 Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias:

18 Em Ramá se ouviu uma voz,
choro e grandes lamentos:
é Raquel a chorar seus filhos;
não quer consolação,
porque já não existem (Jer 31,15)!

19 Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: 20 Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino. 21 José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. 22 Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galiléia 23 e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas:
Será chamado Nazareno.

Sunday, 5 January 2014

"Amor e Vida" by Raimundo Correia (in Portuguese)



Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,
Este amor infeliz, como se fora
Um crime aos olhos dessa, que ela adora,
Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida.

A crua e rija lâmina homicida
Do seu desdém vara-me o peito; embora,
Que o amor que cresce nele, e nele mora,
Só findará quando findar-me a vida!

Ó meu amor! como num mar profundo,
Achaste em mim teu álgido, teu fundo,
Teu derradeiro, teu feral abrigo!

E qual do rei de Tule a taça de ouro,
Ó meu sacro, ó meu único tesouro!
Ó meu amor! tu morrerás comigo!

Saturday, 4 January 2014

"The Song of Songs of Solomon" (Chapter IV in English)



1 Bridegroom: Ah, you are beautiful, my beloved,
ah, you are beautiful!
Your eyes are doves
behind your veil.
Your hair is like a flock of goats
streaming down the mountains of Gilead.

2 Your teeth are like a flock of ewes to be shorn,
which come up from the washing,
All of them big with twins,
none of them thin and barren.

3 Your lips are like a scarlet strand;
your mouth is lovely.
Your cheek is like a half-pomegranate
behind your veil.

4 Your neck is like David's tower
girt with battlements;
A thousand bucklers hang upon it,
all the shields of valiant men.

5 Your breasts are like twin fawns,
the young of a gazelle
that browse among the lilies.

6 Until the day breathes cool and the shadows lengthen,
I will go to the mountain of myrrh,
to the hill of incense.

7 You are all-beautiful, my beloved,
and there is no blemish in you.

8 Come from Lebanon, my bride,
come from Lebanon, come!
Descend from the top of Amana,
from the top of Senir and Hermon,
From the haunts of lions,
from the leopards' mountains.

9 You have ravished my heart, my sister, my bride;
you have ravished my heart with one glance of your eyes,
with one bead of your necklace.

10 How beautiful is your love, my sister, my bride,
how much more delightful is your love than wine,
and the fragrance of your ointments than all spices!

11 Your lips drip honey, my bride,
sweetmeats and milk are under your tongue;
And the fragrance of your garments
is the fragrance of Lebanon.

12 You are an enclosed garden, my sister, my bride,
an enclosed garden, a fountain sealed.

13 You are a park that puts forth pomegranates,
with all choice fruits;

14 Nard and saffron, calamus and cinnamon,
with all kinds of incense;
Myrrh and aloes,
with all the finest spices.

15 You are a garden fountain, a well of water
flowing fresh from Lebanon.

16 Bride: Arise, north wind! Come, south wind!
blow upon my garden
that its perfumes may spread abroad.
Let my lover come to his garden
and eat its choice fruits.

Friday, 3 January 2014

"Ouvir Estrelas" by Olavo Bilac (in Portuguese)




Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que para ouvi-las, muita vez desperto
Eu abro a janela, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas!

Thursday, 2 January 2014

"The Divine Comedy" by Dante Alighieri (Inferno, Chant II) (in Italian)



Inferno: Canto II

Lo giorno se n'andava, e l'aere bruno
  toglieva li animai che sono in terra
  da le fatiche loro; e io sol uno

m'apparecchiava a sostener la guerra
  si` del cammino e si` de la pietate,
  che ritrarra` la mente che non erra.

O muse, o alto ingegno, or m'aiutate;
  o mente che scrivesti cio` ch'io vidi,
  qui si parra` la tua nobilitate.

Io cominciai: <<Poeta che mi guidi,
  guarda la mia virtu` s'ell'e` possente,
  prima ch'a l'alto passo tu mi fidi.

Tu dici che di Silvio il parente,
  corruttibile ancora, ad immortale
  secolo ando`, e fu sensibilmente.

Pero`, se l'avversario d'ogne male
  cortese i fu, pensando l'alto effetto
  ch'uscir dovea di lui e 'l chi e 'l quale,

non pare indegno ad omo d'intelletto;
  ch'e' fu de l'alma Roma e di suo impero
  ne l'empireo ciel per padre eletto:

la quale e 'l quale, a voler dir lo vero,
  fu stabilita per lo loco santo
  u' siede il successor del maggior Piero.

Per quest'andata onde li dai tu vanto,
  intese cose che furon cagione
  di sua vittoria e del papale ammanto.

Andovvi poi lo Vas d'elezione,
  per recarne conforto a quella fede
  ch'e` principio a la via di salvazione.

Ma io perche' venirvi? o chi 'l concede?
  Io non Enea, io non Paulo sono:
  me degno a cio` ne' io ne' altri 'l crede.

Per che, se del venire io m'abbandono,
  temo che la venuta non sia folle.
  Se' savio; intendi me' ch'i' non ragiono>>.

E qual e` quei che disvuol cio` che volle
  e per novi pensier cangia proposta,
  si` che dal cominciar tutto si tolle,

tal mi fec'io 'n quella oscura costa,
  perche', pensando, consumai la 'mpresa
  che fu nel cominciar cotanto tosta.

<<S'i' ho ben la parola tua intesa>>,
  rispuose del magnanimo quell'ombra;
  <<l'anima tua e` da viltade offesa;

la qual molte fiate l'omo ingombra
  si` che d'onrata impresa lo rivolve,
  come falso veder bestia quand'ombra.

Da questa tema accio` che tu ti solve,
  dirotti perch'io venni e quel ch'io 'ntesi
  nel primo punto che di te mi dolve.

Io era tra color che son sospesi,
  e donna mi chiamo` beata e bella,
  tal che di comandare io la richiesi.

Lucevan li occhi suoi piu` che la stella;
  e cominciommi a dir soave e piana,
  con angelica voce, in sua favella:

"O anima cortese mantoana,
  di cui la fama ancor nel mondo dura,
  e durera` quanto 'l mondo lontana,

l'amico mio, e non de la ventura,
  ne la diserta piaggia e` impedito
  si` nel cammin, che volt'e` per paura;

e temo che non sia gia` si` smarrito,
  ch'io mi sia tardi al soccorso levata,
  per quel ch'i' ho di lui nel cielo udito.

Or movi, e con la tua parola ornata
  e con cio` c'ha mestieri al suo campare
  l'aiuta, si` ch'i' ne sia consolata.

I' son Beatrice che ti faccio andare;
  vegno del loco ove tornar disio;
  amor mi mosse, che mi fa parlare.

Quando saro` dinanzi al segnor mio,
  di te mi lodero` sovente a lui".
  Tacette allora, e poi comincia' io:

"O donna di virtu`, sola per cui
  l'umana spezie eccede ogne contento
  di quel ciel c'ha minor li cerchi sui,

tanto m'aggrada il tuo comandamento,
  che l'ubidir, se gia` fosse, m'e` tardi;
  piu` non t'e` uo' ch'aprirmi il tuo talento.

Ma dimmi la cagion che non ti guardi
  de lo scender qua giuso in questo centro
  de l'ampio loco ove tornar tu ardi".

"Da che tu vuo' saver cotanto a dentro,
  dirotti brievemente", mi rispuose,
  "perch'io non temo di venir qua entro.

Temer si dee di sole quelle cose
  c'hanno potenza di fare altrui male;
  de l'altre no, che' non son paurose.

I' son fatta da Dio, sua merce', tale,
  che la vostra miseria non mi tange,
  ne' fiamma d'esto incendio non m'assale.

Donna e` gentil nel ciel che si compiange
  di questo 'mpedimento ov'io ti mando,
  si` che duro giudicio la` su` frange.

Questa chiese Lucia in suo dimando
  e disse: - Or ha bisogno il tuo fedele
  di te, e io a te lo raccomando -.

Lucia, nimica di ciascun crudele,
  si mosse, e venne al loco dov'i' era,
  che mi sedea con l'antica Rachele.

Disse: - Beatrice, loda di Dio vera,
  che' non soccorri quei che t'amo` tanto,
  ch'usci` per te de la volgare schiera?

non odi tu la pieta del suo pianto?
  non vedi tu la morte che 'l combatte
  su la fiumana ove 'l mar non ha vanto? -.

Al mondo non fur mai persone ratte
  a far lor pro o a fuggir lor danno,
  com'io, dopo cotai parole fatte,

venni qua giu` del mio beato scanno,
  fidandomi del tuo parlare onesto,
  ch'onora te e quei ch'udito l'hanno".

Poscia che m'ebbe ragionato questo,
  li occhi lucenti lagrimando volse;
  per che mi fece del venir piu` presto;

e venni a te cosi` com'ella volse;
  d'inanzi a quella fiera ti levai
  che del bel monte il corto andar ti tolse.

Dunque: che e`? perche', perche' restai?
  perche' tanta vilta` nel core allette?
  perche' ardire e franchezza non hai,

poscia che tai tre donne benedette
  curan di te ne la corte del cielo,
  e 'l mio parlar tanto ben ti promette?>>.

Quali fioretti dal notturno gelo
  chinati e chiusi, poi che 'l sol li 'mbianca
  si drizzan tutti aperti in loro stelo,

tal mi fec'io di mia virtude stanca,
  e tanto buono ardire al cor mi corse,
  ch'i' cominciai come persona franca:

<<Oh pietosa colei che mi soccorse!
  e te cortese ch'ubidisti tosto
  a le vere parole che ti porse!

Tu m'hai con disiderio il cor disposto
  si` al venir con le parole tue,
  ch'i' son tornato nel primo proposto.

Or va, ch'un sol volere e` d'ambedue:
  tu duca, tu segnore, e tu maestro>>.
  Cosi` li dissi; e poi che mosso fue,

intrai per lo cammino alto e silvestro.

Wednesday, 1 January 2014

"Como Sombras de Nuvens que Passam" (Cantos II, III, IV) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto II

     - E tu o amas muito?
     - Numa escala de um a dez?
     - Isso!
     - Trinta e dois!
     (risos)
     - Mas conte-me, como ele é?
     - Meu-deus, Eduardo! Como ele é? Dizer que Luciano é mais alto que eu, loiro, tem olhos verdes, boca pequena e grossa? Falar de seu bícepstóraxconstruçãoóssea? Falar o que, se ele é mais do que vejo  e  o que não vejo vai além das palavras?
     - Ui! pirou mesmo! Cuidado, hein? Vai e vai, ele vira obcessão sem que te livres dele nem depois de ele se ter livrado de ti!
     - Sei disso...
     - Sabe mesmo? Jura?
     - De pé junto...


Canto III

     - Mas porque recusas esse curso?
     - Oh, Luciano, eu... Parece-me que isso exige tanta concentração... Não sei se dou conta...
     - Mas não custa nada tentar! E podemos fazer o curso juntos!


Canto IV

     - Luciano, que é isso?
     - Oi!...
     - Estás todo molhado, homem!
     - Essa chuva...
     - Entra, enquanto busco uma toalha!
     - Não!... Quer dizer... Vai, vai, eu espero...
     (Essa! A mais bela, a de dias de festa!)
     - Toma, te enxuga!
     - Grato. Toalha bonita.
     - Nada. Se compra igual em qualquer esquina. Mas que é que queres? Eu já ia dormir...
     Então ele me abraçou ali na porta, chorando, depois de ter acabado comigo, tres semanas antes.