Canto XIX
Havia ainda alguma luz no mundo, um vermelho terroso sumindo no horizonte.
As galinhas já se empoleiravam nos ramos do limoeiro que ficava mais ou menos no centro do pátio lajeado.
Depois do jantar eu saira para o beber um pouco de crepúsculo. Quase dois anos em Rimini.
Fui até o portão que dava para a estrada.
Somente o percebi quando ele pisou um ramo, lá para o lado das sombras. Senti medo mas não corri.
Nun italiano atrapalhado ele perguntou "essa é a casa da família Guglielmini?"
Escondi-me como pude, mudei a voz e respondi: sim.
- Procuro um homem, um estrangeiro.
- Hum. Acho que não mora mais aqui.
Silêncio. Ele soluçou?
- Sabe para onde ele foi?
- Disse que ia para Roma, mas isso já tem um ou dois meses.
Então eu decidi matá-lo.
Canto X
Mas ele foi mais rápido:
- Se tu o vires de novo, diga-lhe, por favor, que o Luciano o ama. Diga-lhe que ele foi cruel comigo e eu o odeio, mas que eu o amo e... Diga-lhe que espero por ele...
- Porque um homem amaria outro dessa maneira?
- Ele dizia que só quando se está bem numa relação é que podemos rompe-la. Não estávamos bem.
- Ele via futuro para vocês?
- Não lhe posso oferecer perfeição, mas deixei minha vida para encontrá-lo. É possível amar mais?
Mas eu ainda queria matá-lo; dei-lhe boa noite e voltei para dentro de casa.
Tuesday, 4 February 2014
Monday, 3 February 2014
Sunday, 2 February 2014
"The Ant and the Dove" by Aesop (in English)
An Ant went to
the bank of a river to quench its thirst, and
being carried away by the rush of the stream, was on the
point of
drowning. A Dove
sitting on a tree overhanging the water plucked
a leaf and let it fall into the stream close to her. The Ant
climbed onto it and floated in safety to the bank. Shortly
afterwards a birdcatcher came and stood under the tree, and
laid
his lime-twigs for the Dove, which sat in the branches. The Ant,
perceiving his design, stung him in the foot. In pain the
birdcatcher threw down the twigs, and the noise made the
Dove
take wing.
One good
turn deserves another
Saturday, 1 February 2014
No title by Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) (in Portuguese)
... Como, nos
dias de grandes acontecimentos no centro da cidade,
Nos bairros
quase-excêntricos as conversas em silêncio às portas
A expectativa em
grupos...
Ninguém sabe
nada.
Leve rastro de
brisa
Coisa nenhuma que
é real
E que, com um
afago ou um sopro
Toca o que há até
que seja...
Magnificência da
naturalidade.
Coração.
Que Áricas
inéditas em cada desejo!
Que melhores
coisas que tudo lá longe!
Meu cotovelo toca
no da vizinha do eléctrico
Com uma
involuntariedade fruste
Curto-circuito da
proximidade...
Ideias ao acaso
Como um balde que
se entornou —
Fito-o é um balde
entornado...
Jaz: jazo...
Friday, 31 January 2014
"Anoitecer" by Raimundo Correia (in Portuguese)
Esbraseia o
Ocidente na agonia
O sol... Aves em
bandos destacados,
Por céus de ouro
e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se
a pálpebra do dia...
Delineiam-se além
da serranja
Os vértices de
chamas aureolados,
E em tudo, em
torno, esbatem derramados
Uns tons suaves
de melancolia.
Um mudo de
vapores no ar flutua...
Como uma informe
nódoa avulta e cresce
A sombra à
proporção que a luz recua.
A natureza
apática esmaece...
Pouco a pouco,
entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula.... Anoitece.
Thursday, 30 January 2014
Untitled Poem by Cecília Meireles (in Portuguese)
Eu canto porque o
instante existe
e a minha vida
está completa.
Não sou alegre
nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas
fugidias,
não sinto gozo
nem tormento.
Atravesso noites
e dias
no vento.
Se desmorono ou
se edifico,
se permaneço ou
me desfaço, -
não sei, não sei.
Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E
a canção é tudo.
Tem sangue eterno
a asa ritmada.
E um dia sei que
estarei mudo:
-mais nada.
Wednesday, 29 January 2014
"The Kissing of Sal Snooboo" by Robert E. Howard (in English)
A bunch of the girls were whooping it up
In the old Lip-stick saloon,
And the kid at the player-piano
Was twanging a jazzy tune,
When out of the night with perfume on his shirt
And stacomb upon his hair,
A young man staggered inside the door
And meowed like a grizzly-bear.
He kicked the kid off the piano stool
And sat him down to play.
The piano yowled like an old tom cat
To the tune of "Hip! Hurray!"
Says he, "Gals, you don’t know me,
But, by gosh, I know you,
And one of you is a classy dame,
And that one is Sal Snooboo!"
She squawked and somebody turned the lights,
Something went “Smack!” in the dark.
There was nothing for anybody to do
But to stand still and s****** and hark.
Somebody turned the lights on,
And Sally was standing there,
But the stranger wasn’t; he was done,
And Sal was arranging her hair.
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