Wednesday, 5 February 2014

"A la Profesión de Isabel de los Ángeles" by St. Therese of Avila (in Spanish)



Sea mi gozo en el llanto,
sobresalto mi reposo,
mi sosiego doloroso,
y mi bonanza el quebranto.

Entre borrascas mi amor,
y mi regalo en la herida,
esté en la muerte mi vida,
y en desprecios mi favor.

Mis tesoros en pobreza,
y mi triunfo en pelear,
mi descanso en trabajar,
y mi contento en tristeza.

En la oscuridad mi luz,
mi grandeza en puesto bajo.
De mi camino el atajo
y mi gloria sea la cruz.

Mi honra el abatimiento,
y mi palma padecer,
en las menguas mi crecer,
y en menoscabo mi aumento.

En el hambre mi hartura,
mi esperanza en el temor,
mis regalos en pavor,
mis gustos en amargura.

En olvido mi memoria,
mi alteza en humillación,
en bajeza mi opinión,
en afrenta mi victoria.

Mi lauro esté en el desprecio,
en las penas mi afición,
mi dignidad sea el rincón,
y la soledad mi aprecio.

En Cristo mi confianza,
y de El solo mi asimiento,
en sus cansancios mi aliento,
y en su imitación mi holganza.

Aquí estriba mi firmeza,
aquí mi seguridad,
la prueba de mi verdad,
la muestra de mi firmeza.

Tuesday, 4 February 2014

"Como Sombras de Nuvens que Passam" (Cantos IX and X) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto XIX

     Havia ainda alguma luz no mundo, um vermelho terroso sumindo no horizonte.
     As galinhas já se empoleiravam nos ramos do limoeiro que ficava mais ou menos no centro do pátio lajeado.
     Depois do jantar eu saira para o beber um pouco de crepúsculo. Quase dois anos em Rimini.
     Fui até o portão que dava para a estrada.
     Somente o percebi quando ele pisou um ramo, lá para o lado das sombras. Senti medo mas não corri.
     Nun italiano atrapalhado ele perguntou "essa é a casa da família Guglielmini?"
     Escondi-me como pude, mudei a voz e respondi: sim.
     - Procuro um homem, um estrangeiro.
     - Hum. Acho que não mora mais aqui.
     Silêncio. Ele soluçou?
     - Sabe para onde ele foi?
     - Disse que ia para Roma, mas isso já tem um ou dois meses.
     Então eu decidi matá-lo.


Canto X
   
     Mas ele foi mais rápido:
     - Se tu o vires de novo, diga-lhe, por favor, que o Luciano o ama. Diga-lhe que ele foi cruel comigo e eu o odeio, mas que eu o amo e... Diga-lhe que espero por ele...
     - Porque um homem amaria outro dessa maneira?
     - Ele dizia que só quando se está bem numa relação é que podemos rompe-la. Não estávamos bem.
     - Ele via futuro para vocês?
     - Não lhe posso oferecer perfeição, mas deixei minha vida para encontrá-lo. É possível amar mais?
     Mas eu ainda queria matá-lo; dei-lhe boa noite e voltei para dentro de casa.

   

Sunday, 2 February 2014

"The Ant and the Dove" by Aesop (in English)




     An Ant went to the bank of a river to quench its thirst, and
being carried away by the rush of the stream, was on the point of
drowning.  A Dove sitting on a tree overhanging the water plucked
a leaf and let it fall into the stream close to her.  The Ant
climbed onto it and floated in safety to the bank.  Shortly
afterwards a birdcatcher came and stood under the tree, and laid
his lime-twigs for the Dove, which sat in the branches.  The Ant,
perceiving his design, stung him in the foot.  In pain the
birdcatcher threw down the twigs, and the noise made the Dove
take wing.


            One good turn deserves another

Saturday, 1 February 2014

No title by Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) (in Portuguese)



... Como, nos dias de grandes acontecimentos no centro da cidade,
Nos bairros quase-excêntricos as conversas em silêncio às portas
A expectativa em grupos...
Ninguém sabe nada.
Leve rastro de brisa
Coisa nenhuma que é real
E que, com um afago ou um sopro
Toca o que há até que seja...
Magnificência da naturalidade.
Coração.
Que Áricas inéditas em cada desejo!
Que melhores coisas que tudo lá longe!
Meu cotovelo toca no da vizinha do eléctrico
Com uma involuntariedade fruste
Curto-circuito da proximidade...
Ideias ao acaso
Como um balde que se entornou —
Fito-o é um balde entornado...
Jaz: jazo...

Friday, 31 January 2014

"Anoitecer" by Raimundo Correia (in Portuguese)



Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se além da serranja
Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mudo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula.... Anoitece.

Thursday, 30 January 2014

Untitled Poem by Cecília Meireles (in Portuguese)



Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço, -
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
-mais nada.