Quando ela olhou para ele compreendeu que não o
amava mais.
Ela virou para o lado e tentou até sorrir. Sempre
soube que esta certeza um dia viria e que, vindo, não teria retorno.
Ele ainda comia seus ovos fritos com evidente
prazer.
Ela egueu-se da mesa e foi até o banheiro branco
encontrar-se consigo no espelho na parede. Aos trinta anos ainda era bela ela,
Anabela bela.
Ouviu os pratos serem postos na pia.
Encontraram-se no quarto de dormir, ele a
desabotoar a camisa.
- Não mais te amo.
- O quê?
- Eu não mais te amo.
- Piada?
- Sério. Eu não mais te amo.
- Tu queres dizer que não me amas mais?
- Isso.
Eles estava aturdido; ela, séria. Ele queria falar
mas não conseguia achar as palavras.
- E esperou até agora pra me dizer isso?
- Eu não esperei. Descobri agora.
- Mas como assim, “descobri agora”?
- Apenas isso. Descobri agora que não mais te amo.
- Eu não acredito.
- Eu vou embora.
- Como assim, vais embora?
- Não mais te amo; não posso mais ficar aqui.
- Estás maluca? Eu te amo e quero que fiques
comigo!
- Não é possível.
- Mas o teu amor por mim, o que houve com ele?
- Foi uma luz que se apagou. Não sei o que houve;
apenas não mais te amo!
- Pare de dizer isso!
- Eu sempre soube que um dia te diria isso.
- Escute, meu amor: guarde essa mala e vamos
dormir, dormir, talvez sonhar e então amanhã tudo isso parecerá distante e as
coisas voltarão ao normal.
- As coisas estão normais e vou embora assim
mesmo.
- Eu não posso te impedir...
- Não.
- Eu quero... eu quero te odiar!
- Faça-o. Será melhor pra ti.
Ele sentou se cama e lágrimas que vinham do fundo
de sua alma começaram a rolar lentas por sua face. Mas ele não chorava,
realmente.
Ela terminou sua mala e a fechou.
- Eu não tenho raiva, nem ódio nem mágoa de ti. Apenas
não mais te amo.
Sem virar-se ela o ouviu sair e fechar a porta do
apartamento. Ele foi até a janela e do alto de nove andares a viu sair do prédio
e pegar um taxi.
Com um gesto de abraça-la, fechou os olhos e
abraçou o espaço.
Como ela não lia jornais, jamais descobriu-lhe a
morte.