- Podemos saber o que o sr. está fazendo
aí dentro, meu tio?
- Eu tentava pegar minha
nova invenção, mas ela escapuliu e eu fiquei aqui, preso! Vamos, Pavel!
Ajude-me a sair desse tubo!
O sr. Pavel deu um suspiro
e esgueu-se no ar. Ofereceu o cabo do guarda-chuva ao seu tio, que o segurou
bem firme e então Pavel subiu ainda mais, até ter o homemzinho gozado
totalmente fora do grande tubo de vidro e depois foi descendo, suavemente, até
seu tio estar bem firme no chão – que não existia, aparentemente.
- Obrigado, sobrinho! E
esse menininho, quem é? Teu novo amigo, Pavel?
- Sim, tio Clóvis.
- E qual o teu nome,
garoto?
- Sérgio Duarte. O senhor
é mesmo cientista?
- Mas claro que sim!
- O senhor inventa coisas?
- Muitas!
- O que o senhor inventa?
- Nadas.
- O senhor inventa nada?
- Não, meu putinho: nadas.
Eu invento “nadas”. Os mais perfeitos e maravilhosos que já vistes! Nadas em
todas as cores e padrões, nadas para todas as ocasiões.
- Mas o que é um “nada”?
- Técnicamente, um “nada”
é algo que não existe. Entretanto, como tudo o que existe existe para algo, por
alguma razão, eu chamo o que invento de “nadas” porque eles são inúteis, não
servem para nada.
- Mas para que inventar
algo que não serve pra nada?
- Porque as melhores
coisas da vida são inúteis!
- Eu acho isso... um pouco
complicado de entender...
- Mas tens tempo para
aprender, disse o sr. Pavel. Basta não esquecer a idéia e ir vivendo.
- Queres ver os meus
nadas, disse o tio Clóvis inclinando-se para mim. Mas sem esperar resposta,
ergueu os braços e disse: - Crianças, venham até aqui! Temos visitas!
E então pipocaram de todos
os lados, as coisas mais esquisitas que jamais vi! Os “nadas” do tio Clóvis
cercaram-nos aos pulos, cantando e apertando-nos as mãos.
Notei que eles tratavam o
Pavel com muita deferência.
- Pavel! exclamou o tio Clóvis
– teu sorriso!
Percebi que todos pararam,
subitamente, observando o Pavel com extrema atenção, como se a coisa mais
extraordinária do mundo estivesse acontecendo.
Carlos, o gato, estava ao
meu lado e quebrou o silêncio, repetindo como um eco: teu sorriso!
De fato, olhei para o
Pavel e vi que ele observava a si próprio a esboçar um sorriso nos lábios!
- Olhem minhas mãos! disse o gato e vi que elas
tornavam-se humanas e mesmo a sua face apresentava traços de humanidade.
Por alguma razão, o sorriso que se esboçava nos lábios
de Pavel, sumiu e sua face retomou a seriedade severa de costume.