Monday 20 October 2014

"The Night Visitor" by Eric Freiwald and Robert Schaefer (in English)

  art by  Alex Toth - Four Color #1159, Dell, January-February 1961.


















"The Ladder of Monks" letter from Guigo II to Gervasio - second part (in Portuguese)



A Escada do claustro
Carta de Dom Guigo, Cartuxo,
ao Ir. Gervásio, sobre a vida contemplativa

SCALA CLAUSTRALIUM, de Guigo II
Tradução de D. Timóteo A. Anastásio, O.S.B, antigo Abade do Mosteiro de São Bento. Bahia (BRASIL).

III - Qual a função de cada um dos citados degraus
            A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada, a meditação a encontra, a oração a pede, a contemplação a experimenta.
            A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz.
            A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida. Para que se possa ver isto de modo mais expressivo, suponhamos um exemplo entre muitos.

IV - A função da leitura
            À leitura, eu escuto: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8).
            Eis uma palavra curta, mas cheia de suaves sentidos para o repasto da alma. Ela oferece como que um cacho de uva. A alma, depois de o examinar com cuidado, diz em si mesma: "Pode haver aqui algum bem, voltarei ao meu coração e tentarei, se possível, entender e encontrar esta pureza. Pois é preciosa e desejável tal coisa, cujos possuidores são ditos bem-aventurados, e à qual se promete a visão de Deus, que é a vida eterna, e que é louvada por tantos testemunhos da Sagrada Escritura".
            Desejosa de explicar mais plenamente a si mesma esta coisa, começa a mastigar e a triturar essa uva, e a põe no lagar, enquanto excita a razão a procurar o que é e como pode ser adquirida tão preciosa pureza.

V - A função da meditação
            Começa, então, diligente meditação. Ela não se detém no exterior, não pára na superfície, apóia o pé mais profundamente, penetra no interior, perscruta cada aspecto.
            Considera, atenta, que não se disse: Bem-aventurados os puros de corpo, mas, sim, "os puros de coração". Pois não basta ter as mãos inocentes de más obras, se não estivermos, no espírito, purificados de pensamentos depravados. Isto o profeta confirma por sua autoridade, ao dizer: Quem subirá o monte do Senhor? Ou quem estará de pé no seu santuário? Aquele que for inocente nas mãos e de coração puro (Sl 24,3-4).
            Depois ela considera quanto o próprio profeta deseja essa pureza, ao orar: Cria em mim, Ó Deus, um coração puro (Sl 51,12) e ainda: Se olhei a iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá (Sl 66,18).
            A meditação pensa em como era o bem-aventurado Jó solícito por essa guarda, pois dizia: Fiz um pacto com os meus olhos para não pensar em nenhuma virgem (Jó 31,1). Eis como se dominava o santo homem . que fechava seus olhos para não ver o que é vão, evitando olhar imprudentemente o que depois desejaria contra a sua vontade.
            Depois de ter refletido sobre esses pontos e outros semelhantes no que toca à pureza do coração, a meditação começa a pensar no prêmio:
            Como seria glorioso e deleitável ver a face desejada do Senhor, mais bela do que a de todos os homens (Sl 45,3), não mais abjeta e vil (cf. Is 53,2), não mais tendo a aparência com que o revestiu sua mãe, mas envergando a estola da imortalidade, e coroado com o diadema que seu Pai lhe deu no dia da ressurreição e da glória, o dia que o Senhor fez (Sl 118,24).
            Ela concebe que nesta visão haverá aquela saciedade esperada pelo profeta, ao dizer: Serei saciado quando aparecer a tua glória (Sl 17,15).
            Vês quanto licor emanou daquela pequena uva, quanto fogo nasceu duma centelha, quanto se alargou na bigorna da meditação, este pequeno pedaço de metal: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!
            Mas, quanto mais poderia alargar-se, se alguém experiente viesse ajudar!
            Sinto como "é fundo o poço", mas não passo ainda de um noviço rude, que mal cheguei a tirar poucas gotas.
            Inflamada por esses fachos, incitada por tais desejos, a alma começa a pressentir, quebrado o alabastro, a suavidade do ungüento. Não é ainda o gosto, mas é já o cheiro.
            Por esse, a alma compreende quão suave seria experimentar essa pureza, cuja meditação a faz saber quanta alegria ela dá. Mas que fará ela?
            Ardendo ao desejo de possuí-Ia, não encontra em si como a pode ter.
            E quanto mais a procura, mais tem sede.
            Enquanto se dá à meditação, sua dor aumenta, porque ainda não sente a doçura que a meditação mostra existir na pureza de coração, mas sem a dar.
            Porque não cabe a quem lê nem a quem medita sentir tal doçura, se não recebe do alto (10 19,11) esse dom. Ler e meditar é comum tanto aos bons quanto aos maus, e os próprios filósofos pagãos encontraram, pelo exercício da razão, em que consiste, em suma, o verdadeiro bem.
            Mas, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus (Rm 1,21) e, presumindo de suas forças, diziam: Venceremos graças à nossa língua, nossos lábios são nossos (Sl 12,5). Assim, não mereceram receber o que tinham podido ver. Perderam-se em seus pensamentos (Rm 1,21), e a sua sabedoria foi devorada (Sl 107,27)
            A sabedoria deles tinha as suas fontes no estudo das ciências humanas, e não no Espírito de sabedoria que é o único a dar a verdadeira sabedoria, isto é, a ciência saborosa que alegra e nutre, com inestimável sabor, a alma que a possui. É dela que foi escrito: A sabedoria não entrará na alma perversa (Sb 1,4).
            Esta procede só de Deus. E como o Senhor deu a muitos a missão de batizar, mas guardou só para si o poder e a autoridade de perdoar os pecados pelo batismo, o que levou João a dizer, por antonomásia e de modo preciso: É ele que batiza, assim também podemos dizer: É ele que dá sabor à sabedoria, e faz saborosa a ciência da alma.
            A palavra é dada a todos; a sabedoria do espírito, que o Senhor distribui a quem quer e quando quer (cf. 1 Cor 12,11), a poucos é dada.

Sunday 19 October 2014

"The Ladder of Monks" letter from Guigo II to Gervasio - first part (in Portuguese)




A Escada do claustro
Carta de Dom Guigo, Cartuxo,
ao Ir. Gervásio, sobre a vida contemplativa

SCALA CLAUSTRALIUM, de Guigo II
Tradução de D. Timóteo A. Anastásio, O.S.B, antigo Abade do Mosteiro de São Bento. Bahia (BRASIL).

I
Ao seu dileto irmão Gervásio, o Ir. Guigo: o Senhor seja o seu deleite.
            Amar-te, irmão, é para mim uma dívida, pois foste tu que, primeiro, começaste a me amar. E sou obrigado a te responder, porque, anterior, tua carta me convida a escrever-te.
Proponho-me, assim, a te transmitir certas coisas que pensei sobre o exercício espiritual dos monges, a fim de que possas julgar e corrigir meus pensamentos a propósito de um assunto que tu melhor conheces por experiência, do que eu pela reflexão.
É justo que eu te ofereça, em primeira mão, as primícias do meu trabalho. Pois convém que colhas os primeiros frutos da recente plantação que, em louvável furto, subtraíste à servidão do Faraó e à mole servidão, e colocaste no exército em ordem de batalha, enxertando sabiamente na oliveira o ramo habilmente cortado da oliveira selvagem (cf. 81144,2; Ex 13,14; Ct 6,3.9 e Rm 11,17.24).

II - Os quatro degraus
            Um dia, ocupado no trabalho manual, comecei a pensar no exercício espiritual do homem. E eis que, de repente, enquanto refletia, se apresentaram a meu espírito quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação.
            Esta é a escada dos monges, que os eleva da terra ao céu. Embora dividida em poucos degraus, ela é de imenso e incrível comprimento, com a ponta inferior apoiada na terra, enquanto a superior penetra as nuvens e perscruta os segredos do céu (cf. Gn 28,12).
            Estes degraus, assim como são diversos em nome e em número, também se distinguem pela ordem e o valor.
            Se alguém examina diligentemente suas propriedades e funções, o que produz cada um deles para nós, e como diferem e se hierarquizam entre si, achará pequeno e fácil por sua utilidade e doçura todo o trabalho e esforço que lhes dedicar.
            A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação do espírito.
            A meditação é uma ação deliberada da mente, a investigar com a ajuda da própria razão o conhecimento duma verdade oculta.
            A oração é uma religiosa aplicação do coração a Deus, para afastar os males ou obter o bem. A contemplação é uma certa elevação da alma em Deus, suspensa acima dela mesma, e degustando as alegrias da eterna doçura.
            Notada, assim, a descrição dos quatro degraus, resta-nos ver a função de cada um em relação a nós.

Friday 17 October 2014

“Alone and Far Removed” by Audie Murphy (in English)

Alone and far removed from earthly care
The noble ruins of men lie buried here.
You were strong men, good men
Endowed with youth and much the will to live.
I hear no protest from the mute lips of the dead.
They rest: there is no more to give.

So long my comrades,
Sleep ye where you fell upon the field.
But tread softly please
March O'er my heart with ease.
March on and on,
But to God alone we kneel.

Thursday 16 October 2014

“Você Já Foi à Bahia?” by Dorival Caymmi (in Portuguese)



Você já foi à Bahia, nega?
Não?
Então vá!
Quem vai ao Bonfim, minha nega
Nunca mais quer voltar
Muita sorte teve
Muita sorte tem
Muita sorte terá
Você já foi à Bahia, nega?
Não?
Então vá!
Lá tem vatapá!
Então vá!
Lá tem caruru
Então vá!
Lá tem munguzá
Então vá!
Se quiser sambar
Então vá!
Nas sacadas dos sobrados
Da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito
Que nenhuma terra tem!


This song was used by Disney in the 1944 movie "The Three Caballeros", by the title of "Have You Been to Bahia?" sung by Aloysio de Oliveira (as Joe Carioca) and Clarence Nash (as Donald Duck).

 


“Você já foi à Bahia?” sung by Astrud Gilberto - 1966.

Wednesday 15 October 2014

Tuesday 14 October 2014

"O Sorriso do Tio Pavel Pleffel" (Chapter XIII) by José Thiesen (in Portuguese)



            O tio Pavel pulou do alto do céu, mas nós não caíamos. Era mais um deslizar suave. Estava com medo, mas ao mesmo tempo, seguro de que nada de mal me aconteceria, pois Pavel Pleffel me protegia.
            Estar com ele me trazia sempre não ordinárias experiências, para muitas das quais eu não estava preparado, mas ele era a garantia de segurança.
            Enquanto considerava isso, ouvi-o dizer: Realmente me trazes sorte!
            Não sabia o que lhe dizer, então sorri. Nisso, aproximou-se de nós, a correr pelo céu, um ser estranhíssimo, meio homem, meio cavalo.
            - Pavel Pleffel! Como vais?
            - Muito bem, Quirom! E tu?
            - Muitíssimo bem e feliz! Como não estar, se posso correr pelo universo, livre! Muito bom rever-te! Paz e bem!
            - Paz e bem! repetiu o tio Pavel.
            E lá se foi o Quirom a galope! Quando ia perguntar quem era ele, passamos por sete mulheres lacrimosas.
            - São as Plêiades, disse o tio. Sete irmãs que vivem uma eterna dor por conta de seu passado, incapazes que são de perdoar-se por seus erros.
            Sob meus pés eu já via a cidade, com seu emaranhado de ruas.
            À minha esquerda, vi u’a mulher branca e nua e à direita, um homem também nú, ardendo em flamas brancas.
            - São a Lua e o Sol? perguntei.
            - Sim. Estás aprendendo a ver!
            Novamente sorri, sem saber que resposta dar, enquanto deslizávamos pelo ar e paramos... em frente de minha casa!
            - Dás-me sorte, garoto!
            - O sr. já disse isso!
            - Como então agora sou uma vitrola engasgada?
            Ele passou a ponta dos dedos por minha face e disse, enquanto me dava as costas: Nos voltaremos a ver logo!