Em vossas mãos, ó
meu Deus, eu me entrego.
Virai e revirai
esta argila,
sicut lutum in
manu figuli (Jeremias 18, 6),
como a vasilha
que se modela nas mãos do oleiro.
Dai-lhe forma;
e em seguida despedaçai-a,
se assim quiserdes;
ela vos pertence,
e nada tem a dizer.
Basta-me que ela
sirva a todos os vossos desígnios
e que em nada
resista a vosso divino beneplácito,
para o qual eu
fui criado.
Pedi, ordenai;
que quereis que
eu faça?
que quereis que eu
deixe de fazer?
Exaltado ou
rebaixado,
perseguido,
consolado ou aflito,
utilizado em
vossas obras ou sem para nada servir,
a mim não resta
senão dizer,
a exemplo de
vossa Mãe Santíssima:
“Seja feito
segundo a vossa palavra”.
Concedei-me o
amor por excelência,
o amor da cruz,
não destas cruzes
heroicas
cujo esplendor
poderia nutrir o amor próprio,
mas destas cruzes
ordinárias
que nós
carregamos, ai de nós, com tanta repugnância,
destas cruzes de
todos os dias,
com as quais a
vida está repleta
e com as quais
nos deparamos a todo momento,
no caminho, na
contradição, no esquecimento,
no fracasso, nos
falsos julgamentos, nas contrariedades,
nas friezas ou no
entusiasmo de alguns,
na grosseria ou
no desprezo dos outros,
na enfermidade do
corpo, nas trevas do espírito,
no silêncio e na
secura do coração.
Somente então
sabereis que vos amo,
embora, às vezes,
nem eu mesmo o saiba nem sinta;
e isto me basta!