Wednesday, 7 January 2015

"Ahasverus e o Gênio" by Castro Alves (in Portuguese)



ao poeta e amigo J. Felizardo Júnior



Sabes quem foi Ahasverus?...— o precito,
O mísero Judeu, que tinha escrito
Na fronte o selo atroz!
Eterno viajor de eterna senda...
Espantado a fugir de tenda em tenda,
Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro
Não teve onde... pousar.
Co'a mão vazia — viu a terra cheia.
O deserto negou-lhe — o grão de areia,
A gota d'água — rejeitou-lhe o mar.

D'Ásia as florestas — lhe negaram sombra
A savana sem fim — negou-lhe alfombra.
O chão negou-lhe o pó!...
Tabas, serralhos, tendas e solares...
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares
E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,
E não pôde entre tantas populaças
Beijar uma só mão ...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas,
Desde a inglesa à crioula das Antilhas
Não teve um coração! ...

E caminhou!... E as tribos se afastavam
E as mulheres tremendo murmuravam
Com respeito e pavor.
Ai! Fazia tremer do vale à serra...
Ele que só pedia sobre a terra
— Silêncio, paz e amor! —

No entanto à noite, se o Hebreu passava,
Um murmúrio de inveja se elevava,
Desde a flor da campina ao colibri.
"Ele não morre", a multidão dizia...
E o precito consigo respondia:
— "Ai! mas nunca vivi!" —

O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário
Sem termo do existir.
Invejado! a invejar os invejosos.
Vendo a sombra dos álamos frondosos...
E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede u'a mão de amigo — dão-lhe palmas:
Pede um beijo de amor — e as outras almas
Fogem pasmas de si.
E o mísero de glória em glória corre...
Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Responde o desgraçado: — "Eu não vivi!..."

Tuesday, 6 January 2015

Untitled Poem by José Thiesen (in Portuguese)

Ao F. M. Pires

Vou pela estrada de minha vida
só e sempre só.
Nela, o ar é seco e o pó me sufoca -
via tão triste.
De vez em quando te vejo no caminho,
meio longe, meio perto,
mas é só miragem: nunca estás onde te vejo,
eu só e sempre só.

Friday, 2 January 2015

“12 Angry Men” by Reginald Rose (in English)

[Juror #9 has pointed out that the witness across the street had marks on her nose, indicating that she normally wore glasses]
Juror #8: [to Juror #4] Do you wear glasses when you go to bed?
Juror #4: No. I don't. No one wears eyeglasses to bed.
Juror #8: It's logical to assume that *she* wasn't wearing them when she was in bed - tossing and turning, trying to fall asleep!
Juror #3: How do *you* know?
Juror #8: I don't *know* - I'm guessing! I'm also guessing that she probably didn't put her glasses on when she turned to look casually out of the window - and she herself testified the killing took place just as she looked out, the lights went off a split second later - she couldn't have had *time* to put them on then! [stops #3 from stopping him]  Here's another guess: maybe she honestly thought she saw the boy kill his father - I say she only saw a blur!
Juror #3: How do you know *what* she saw? How does he know all that? How do you know *what* kind of glasses she wore? Maybe they were sunglasses, maybe she was far-sighted! What do you *know* about her?
Juror #8: I only know the woman's eyesight is in question now!
Juror #11: She had to be able to identify a person sixty feet away, at night, without glasses.
Juror #2: You can't send someone off to die on evidence like that!
Juror #3: Oh, don't give me that.
Juror #8: Don't you think the woman *might* have made a mistake?
Juror #3: [stubbornly] No!
Juror #8: It's not *possible?*
Juror #3: No, it's not possible!
Juror #8: [gets up and speaks to Juror #12] Is it possible?
Juror #12: [nods] Not guilty.
Juror #8: [goes to #10] You think he's guilty?
[#10 shakes his head "no"]
Juror #3: *I* think he's guilty!
Juror #8: [ignores #3; goes to #4] How about you?
Juror #4: [looks at #8, pauses, then shakes head] No... I'm convinced. Not guilty.
Juror #3: [shocked, having just lost all support] What's the matter with ya?
Juror #4: I have a reasonable doubt now.
Juror #9: Eleven to one!

Thursday, 1 January 2015

Untitled trova by Pedro Ornellas (in Portuguese)



O acerto, sim, amedronta,
mas creio que estamos quites:
Para os meus erros sem conta
Deus tem perdão sem limites.

Wednesday, 31 December 2014

Tuesday, 30 December 2014

Untitled Poem by José Thiesen (in Portuguese)

Ao F. M. Pires

Se eu fosse,
se eu corresse,
se eu entrasse
no teu coração,

se eu pulasse,
se eu falasse,
se eu faceasse
o medo em mim,

se eu pudesse,
se eu criasse,
se eu fizesse
o beijo em ti,

se eu falasse,
se eu pensasse,
se eu mostrasse
o meu amor,

talvez então,
mas só então
os nossos olhos
o amor trovariam.

Porém, que sabes
das sombras que só eu vi?

Sombras que são medos

de superar,
de vencer,
de avançar
sobre o próprio medo;

de recuperar,
de alargar,
de possuir
a coragem de vencê-los;

de sonhar,
de gozar,
de poder

ultrapassar a mim mesmo
e desfazer essa solidão
encrustrada em mim.