Thursday, 8 April 2021

Thursday's Serial: "O Guarani" by José de Alencar (in Portuguese) - XII

Capítulo IV: Na Treva

Alguns esclarecimentos são necessários aos acontecimentos que acabavam de passar.

Quando Loredano viu-se obrigado pela ameaça de Álvaro a partir para o Rio de Janeiro, ficou sucumbido; mas, depois de alguns momentos, um sorriso diabólico tinha enrugado os seus lábios.

Este sorriso era uma idéia infame que luzira no seu espírito como a flama desses fogos perdidos que brilham no seio das trevas em noites de grande calma.

O italiano lembrou-se que no momento em que todos o supunham em viagem, podia preparar a execução do seu plano que ele realizaria naquela mesma noite.

Na conversa que tivera com Rui Soeiro transmitiu-lhe as suas instruções, breves, simples e concisas; consistiam em livrarem-se dos homens que podiam pôr embaraços à sua empresa.

Para isso os seus cúmplices receberam ordem de quando se recolhessem para dormir, colocarem-se ao lado de cada um dos homens da banda fiéis a D. Antônio de Mariz.

Naquele tempo e naqueles lugares não era possível que os aventureiros tivessem cada um o seu cubículo; poucos gozavam desse privilégio, e assim mesmo eram obrigados a partilhar o seu aposento com um companheiro: os outros dormiam na vasta alpendrada que ocupava quase toda essa parte do edifício.

Rui Soeiro tinha, conforme as instruções de Loredano, arranjado as coisas de tal modo que naquele momento cada um dos aventureiros dedicados a D. Antônio de Mariz tinha a seu lado um homem que parecia adormecido, e que só esperava ouvir pronunciar a senha convencionada para enterrar o seu punhal na garganta do seu companheiro.

Ao mesmo tempo havia pelos cantos da casa grandes molhos de palha seca colocados junto das portas ou metidos pela beirada do telhado, e que só esperavam uma faisca para atear o incêndio em todo o edifício.

Rui Soeiro, com uma sagacidade e uma prudência dignas de seu chefe, dispusera tudo isto; parte durante o dia, e parte nas horas mortas da noite em que tudo estava recolhido.

Não se esqueceu da recomendação especial de Loredano, e ofereceu-se voluntariamente a Aires Gomes para fazer a guarda noturna com um dos seus companheiros, visto recear-se ataque do inimigo; o digno escudeiro que o conhecia como um dos mais valentes da banda, caiu no laço e aceitou o oferecimento.

Senhor do campo, o aventureiro pôde então acabar livremente seus preparativos, e para mais segurança arranjou traça de ver-se livre do escudeiro, que podia de um momento para outro vir incomodá-lo.

Aires Gomes em companhia de seu velho amigo mestre Nunes esvaziava uma botelha de vinho de Valverde, que eles bebiam lentamente, trago a trago, para assim disfarçarem a módica porção do liquido destinado a umedecer as goelas de dois formidáveis bebedores.

Mestre Nunes aplicou voluptuosamente os lábios à borda do canjirão, tomou uma vez de vinho, e dando um ligeiro estalinho com a língua no céu da boca, repimpou-se na tripeça em que estava sentado, cruzando as mãos sobre o seu ventre proeminente com uma beatitude celeste.

— Ora estou desde que cheguei para perguntar-vos uma coisa, amigo Aires; e sempre a passar.

— Não a deixeis passar agora, Nunes. Aqui me tendes para responder-vos

— Dizei-me cá, quem é um tal que acompanhava D. Diogo, e a quem dais um diabo de nome que não é português?

— Ah! quereis falar de Loredano? Um tunante?

— Conheceis esse homem, Aires?

— Por Deus! se ele é dos nossos!

— Quando pergunto se o conheceis, quero dizer se sabeis donde veio, quem era e o que fazia?

— À fé que não! Apareceu-nos aqui um dia a pedir hospitalidade; e depois como saísse um homem, ficou em lagar dele.

— E quando isso, se vos lembra?

— Esperai! Estou com os meus cinqüenta e nove...

O escudeiro contou pelos dedos consultando o seu calendário, que era a sua idade.

— Foi por este tempo, há um ano; princípios de março.

— Estais bem certo? exclamou mestre Nunes.

— Certíssimo; é conta que não engana. Mas que tendes?

Com efeito mestre Nunes se erguera espantado.

— Nada! Não é possível!

— Não acreditais?

— É outra coisa, Aires! É um sacrilégio! uma obra de Satã! uma simonia horrenda!

— Que dizeis, homem, explicai-vos lá de uma vez.

Mestre Nunes conseguiu restabelecer-se da sua perturbação e contou ao escudeiro as suas desconfianças a respeito de Frei Ângelo di Luca e da sua morte, que nunca fora possível explicar: notou-lhe a coincidência do desaparecimento do carmelita com o aparecimento do aventureiro, e o fato de serem da mesma nação.

— Depois, concluiu Nunes, aquela voz, aquele olhar!... quando o vi hoje, estremeci, e recuei espavorido julgando que o frade tinha saído de baixo da terra.

Aires Gomes levantou-se furioso, e saltando sobre o seu catre, agarrou o espadão que tinha à cabeceira.

— Que ides fazer? gritou mestre Nunes.

— Matá-lo e desta vez às direitas; que não torne.

— Esqueceis que vai longe?

— É verdade, murmurou o escudeiro rangendo os dentes de raiva.

Ouviu-se um ligeiro rumor na porta; os dois amigos o atribuíram ao vento e não se voltaram; sentados em face um do outro, continuaram em voz baixa a sua conversa interrompida pela brusca revelação de Nunes.

Entretanto fora passavam-se coisas que deviam excitar a atenção do digno escudeiro. O rumor que ouvira fora produzido pela volta que Rui dera à chave, fechando a porta.

O aventureiro tinha ouvido toda a conversa; a princípio aterrado, cobrou animo, e lembrou-se que em todo o caso era bom estar senhor do segredo do italiano para qualquer emergência futura. Confiado nessa excelente idéia, Rui meteu a chave no peito do gibão e foi reunir-se a seu companheiro que estava de vigia junto da escada.

Esperava por Loredano, que devia entrar na casa alta noite, para dirigir toda essa trama que havia urdido com uma inteligência superior.

O italiano tinha facilmente iludido a D. Diogo de Mariz; sabia que o ardente cavalheiro ia de rota batida, e que não se demoraria em caminho por motivo algum.

As três léguas do Paquequer, inventou um pretexto de ter-se quebrado a cilha de sua cavalgadura e parou para arranjá-la; enquanto D. Diogo e seus companheiros pensavam que os seguia de perto, ele tinha voltado sobre os passos, e escondido nas vizinhanças, esperava que a noite se adiantasse.

Quando percebeu que tudo estava em silêncio, aproximou-se; trocou o sinal convencionado, que era o canto de coruja; e introduziu-se furtivamente na habitação.

O mais já vimos. Sabendo que tudo estava preparado e pronto ao primeiro sinal, Loredano deu começo à execução de seu projeto e conseguiu penetrar no quarto de Cecília.

Tomar a menina nos braços, raptá-la, atravessar a esplanada, chegar à porta da alpendrada, e pronunciar a senha convencionada, era coisa que ele contava realizar num momento.

Quando Cecília arrancada do seu leito lançasse um grito que ele não pudesse abafar, isto pouco lhe importava; antes que alguém despertasse, teria chegado ao outro lado, e então a uma palavra sua o fogo e o ferro viriam em seu socorro.

Rui lançaria a chama à palha preparada para esse fim; e a faca de cada um dos seus cúmplices se enterraria na gorja dos homens adormecidos.

Depois, no meio desse horror e confusão, os vinte demônios acabariam a sua obra, e fugiriam como os maus espíritos das lendas antigas, quando a primeira luz da alvorada terminava o sabbat infernal.

Iam ao Rio de Janeiro; ai, ligados todos por um mesmo laço do crime, por um mesmo perigo e uma só ambição, Loredano contava ter neles agentes fiéis e dedicados para levar a cabo a sua empresa.

Enquanto a traição solapava assim o sossego, a felicidade, a vida e a honra dessa família, todos dormiam tranqüilos e descuidados; nem um pressentimento os vinha advertir da desgraça que os ameaçava.

Loredano, graças à sua agilidade e à sua força, tinha conseguido chegar até ao leito da menina, sem que o menor rumor traísse a sua presença, sem que na habitação alguém tivesse podido perceber o que se passava.

Certo pois do resultado, o italiano advertido pela inocente avezinha, que não sabia o mal que fazia, cuidou em consumar a sua obra. Abriu a cômoda de Cecília, tirou roupas de seda e linho e fez de tudo isso um embrulho tão pequeno quanto era possível; depois envolveu-o em uma das peles que serviam de tapete, e colocou numa cadeira, a jeito de o poder apanhar com facilidade.

Era coisa original o pensamento deste homem. Ao passo que cometia um crime, tinha a lembrança delicada de querer suavizar a desgraça da menina fazendo que nada lhe faltasse na viagem incômoda que tinha de fazer.

Quando tudo estava preparado, abriu a portinha que dava para o jardim, e estudou o caminho que tinha de seguir. Era preciso; porque apenas tomasse Cecília nos braços devia partir e chegar de uma só corrida, direita, rápida e cega.

A porta ficava num canto do aposento, defronte do vão que havia entre o leito e a parede; colocado nesse lagar não tinha senão um movimento a fazer, agarrar a menina e lançar-se fora do aposento.

Na ocasião em que ele se aproximava, ouviu-se um gemido, quase um suspiro,- abafado e cheio de angústia.

Os cabelos eriçaram-se sobre a fronte do italiano; gotas de suor frio e gelado sulcaram as suas faces pálidas e contraídas.

A pouco e pouco foi saindo do estupor que o paralisara, e volvendo lentamente ao redor de si uns esgares de olhos alucinados.

Nada! Nem um inseto parecia acordado na solidão profunda da noite em que tudo dormia exceto o crime, o verdadeiro duende da terra, o mau gênio das crenças de nossos pais.

Tudo estava em sossego; até o vento parecia se ter abrigado no cálice das flores e adormecido nesse berço perfumado, como num regaço de amante.

O italiano restabeleceu-se do violento abalo que sofrera, deu um passo, e inclinou-se sobre o leito.

Cecília sonhava nesse momento.

Seu rosto esclareceu-se com uma expressão de alegria angélica; sua mãozinha, que repousava aninhada entre os seios, moveu-se com a indolência e a moleza do sono e recaiu sobre a face.

A pequena cruz de esmalte que tinha ao colo e que estava agora presa entre os dedos da mão, roçou-lhe os lábios; e uma música celeste escapou-se, como se Deus tivesse vibrado uma das cordas de sua harpa eólia.

Foi a princípio um sorriso que adejou-lhe nos lábios; depois o sorriso colheu as asas e formou um beijo, por fim o beijo entreabriu-se como uma flor e exalou um suspiro perfumado.

— Peri!

O colo arfou docemente, e a mão descaindo foi de novo aninhar-se entre o talho da sua anágua de cambraia.

O italiano ergueu-se pálido.

Não se animava a tocar naquele corpo tão casto, tão puro; não podia fitar aquela fisionomia radiante de inocência e de candura.

Mas o tempo urgia.

Fez um esforço supremo sobre si mesmo; firmou o joelho à borda do leito, fechou os olhos e estendeu as mãos.

 

Capítulo V: Deus Dispõe

O braço de Loredano estendeu-se sobre o leito; porém a mão que se adiantava e ia tocar o corpo de Cecília estacou no meio do movimento, e subitamente impelida foi bater de encontro à parede.

Uma seta, que não se podia saber de onde vinha, atravessara o espaço com a rapidez de um raio, e antes que se ouvisse o sibilo forte e agudo pregara a mão do italiano ao muro do aposento.

O aventureiro vacilou e abateu-se por detrás da cama; era tempo, porque uma segunda seta, despedida com a mesma força e a mesma rapidez, cravava-se no lugar onde há pouco se projetava a sombra de sua cabeça.

Passou-se então, ao redor da inocente menina adormecida na isenção de sua alma pura, uma cena horrível, porem silenciosa. Loredano nos transes da dor por que passava, compreendera o que sucedia; tinha adivinhado naquela seta que o ferira a mão de Peri; e sem ver, sentia o índio aproximar-se terrível de ódio, de vingança, de cólera e desespero pela ofensa que acabava de sofrer sua senhora.

Então o réprobo teve medo; erguendo-se sobre os joelhos arrancou convulsivamente com os dentes a seta que pregava sua mão à parede, e precipitou-se para o jardim, cego, louco e delirante.

Nesse mesmo instante, dois segundos talvez depois que a última flecha caíra no aposento, a folhagem do óleo que ficava fronteiro à janela de Cecília agitou-se e um vulto embalançando-se sobre o abismo, suspenso por um frágil galho da árvore, veio cair sobre o peitoril.

Aí agarrando-se à ombreira saltou dentro do aposento com uma agilidade extraordinária; a luz dando em cheio sobre ele desenhou o seu corpo flexível e as suas formas esbeltas.

Era Peri.

O índio avançou-se para o leito, e vendo sua senhora salva respirou; com efeito a menina, a meio despertada pelo rumor da fugida de Loredano, voltara-se do outro lado e continuara o sono forte e reparador como é sempre o sono da juventude e da inocência.

Peri quis seguir o italiano e matá-lo, como já tinha feito aos seus dois cúmplices; mas resolveu não deixar a menina exposta a um novo insulto, como o que acabava de sofrer, e tratou antes de velar sobre sua segurança e sossego.

O primeiro cuidado do índio foi apagar a vela, depois fechando os olhos aproximou-se do leito e com uma delicadeza extrema puxou a colcha de damasco azul até ao colo da menina.

Parecia-lhe uma profanação que seus olhos admirassem as graças e os encantos que o pudor de Cecília trazia sempre vendados; pensava que o homem que uma vez tivesse visto tanta beleza, nunca mais devia ver a luz do dia.

Depois desse primeiro desvelo, o índio restabeleceu a ordem no aposento; deitou a roupa na cômoda, fechou a gelosia e as abas da janela, lavou as nódoas de sangue que ficaram impressas na parede e no soalho; e tudo isto com tanta solicitude, tão sutilmente, que não perturbou o sono da menina.

Quando acabou o seu trabalho, aproximou-se de novo do leito, e à luz frouxa da lamparina contemplou as feições mimosas e encantadoras de Cecília.

Estava tão alegre, tão satisfeito de ter chegado a tempo de salvá-la de uma ofensa e talvez de um crime; era tão feliz de vê-la tranqüila e risonha sem ter sofrido o menor susto, o mais leve abalo, que sentiu a necessidade de exprimir-lhe por algum modo a sua ventura.

Nisto seus olhos abaixando-se descobriram sobre o tapete da cama dois pantufos mimosos forrados de cetim e tão pequeninos que pareciam feitos para os pés de uma criança; ajoelhou e beijou-os com respeito, como se foram relíquia sagrada.

Eram então perto de quatro horas; pouco tardava para amanhecer; as estrelas já iam se apagando a uma e uma; e a noite começava a perder o silêncio profundo da natureza quando dorme.

O índio fechou por fora a porta do quarto que dava para o jardim, e metendo a chave na cintura, sentou-se na soleira como cão fiel que guarda a casa de seu senhor, resolvido a não deixar ninguém aproximar-se.

Aí refletiu sobre o que acabava de passar; e acusava-se a si mesmo de ter deixado o italiano penetrar no aposento de sua senhora: Peri porem caluniava-se, porque só a Providência podia ter feito nessa noite mais do que ele; porque tudo quanto era possível à inteligência, à coragem, à sagacidade e à força do homem, o índio havia realizado.

Depois da partida de Loredano e da conversa que teve com Álvaro, certo de que sua senhora já não corria perigo, e de que os dois cúmplices do italiano iam ser expulsos como ele, o índio não pensando mais senão no ataque dos Aimorés, partiu imediatamente.

O seu pensamento era ver se descobria pelas vizinhanças do Paquequer indícios da passagem de alguma tribo da grande raça Guarani a que ele pertencia; seria um amigo e um aliado para D. Antônio de Mariz.

O ódio inveterado que havia entre as tribos da grande raça e a nação degenerada dos Aimorés, justificava a esperança de Peri; mas infelizmente, tendo percorrido todo o dia a floresta, não encontrou o menor vestígio do que procurava.

O fidalgo estava pois reduzido às suas próprias forças: mas embora fossem estas pequenas, o índio não desanimou; tinha consciência de si; e sabia que na última extremidade a sua dedicação por Cecília lhe inspiraria meios de salvar a ela e a tudo que ela amava.

Voltou à casa já noite fechada; foi ter com Álvaro; perguntou-lhe o que era feito dos dois aventureiros; o cavalheiro disse-lhe que D. Antônio de Mariz recusara crer na acusação.

De fato, o fidalgo leal, habituado ao respeito e à fidelidade de seus homens, não admitia que se concebesse uma suspeita sem provas; entretanto como a palavra de Peri tinha para ele toda a valia, ficara de ouvir de sua boca a narração do que presenciara, para conhecer o peso que devia dar a semelhante acusação.

Peri retirou-se inquieto e arrependido de não ter persistido no seu primeiro projeto; enquanto esses dois homens que ele supunha já expulsos estivessem ali, sabia que um perigo pairava sobre a casa.

Assim resolveu não dormir; tomou o seu arco e sentou-se na porta de sua cabana; apesar de possuir a clavina que lhe dera D. Antônio, o arco era a arma favorita de Peri; não demandava tempo para carregar; não fazia o menor estrépito; lançava quase instantaneamente dois, três tiros: e a sua flecha era tão terrível e tão certeira como a bala.

Passado muito tempo o índio ouviu cantar uma coruja do lado da escada; esse canto causou-lhe estranheza por duas razões: a primeira, porque era mais sonoro do que é o cacarejar daquela ave agoureira; a segunda porque em vez de partir do cimo de uma árvore saia do chão.

Esta reflexão o fez levantar; desconfiou da coruja que tinha hábitos diferentes de suas companheiras; quis conhecer a razão desta singularidade.

Viu do outro lado da esplanada três vultos que atravessavam ligeiramente; isto aumentou a sua desconfiança; os homens de vigia eram ordinariamente dois e não três.

Seguiu-os de longe; mas quando chegou ao pátio, não viu senão um dos homens que entrava na alpendrada; os outros tinham desaparecido.

Peri procurou-os por toda a parte e não os viu; estavam ocultos pelo pilar que se elevava na ponta do rochedo, e não lhe era possível descobri-los.

Supondo que tivessem também entrado no alpendre, o índio agachou-se e penetrou no interior; de repente a sua mão tocou uma lamina fria que conheceu imediatamente ser a folha de um punhal.

— És tu, Rui? perguntou uma voz sumida.

Peri emudeceu; mas de chofre aquele nome de Rui lembrou-lhe Loredano e o seu projeto; percebeu que se tramava alguma coisa: e tomou um partido.

— Sim! respondeu com a voz quase imperceptível.

— Já é hora?

— Não.

— Todos dormem.

Enquanto trocavam estas duas perguntas, a mão de Peri correndo pela lâmina de aço tinha conhecido que outra mão segurava o cabo do punhal.

O índio saiu do alpendre e dirigiu-se ao quarto de Aires Gomes; a porta estava fechada, e junto dela tinham colocado um grande montão de palha.

Tudo isto denunciava um plano prestes a realizar-se; Peri compreendia, e tinha medo de já não ser tempo para destruir a obra dos inimigos.

Que fazia aquele homem deitado que fingia dormir, e que tinha o punhal desembainhado na mão como se estivesse pronto a ferir? Que significava aquela pergunta da hora e aquele aviso de que todos dormiam? Que queria dizer a palha encostada à porta do escudeiro?

Não restava dúvida; havia ali homens que esperavam um sinal para matarem seus companheiros adormecidos, e deitarem fogo à casa; tudo estava perdido se o plano não fosse imediatamente destruído.

Cumpria acordar os que dormiam, preveni-los do perigo que corriam, ou ao menos prepará-los para se defenderem e escaparem de uma morte certa e inevitável.

O índio agarrou convulsivamente a cabeça com as duas mãos como se quisesse arrancar à força de seu espírito agitado e em desordem um pensamento salvador. Seu largo peito dilatou-se; uma idéia feliz luzira de repente na confusão de tantos pensamentos desencontrados que fermentavam no cérebro, e reanimara sua coragem e força.

Era uma idéia original.

Peri lembrara-se que o alpendre estava cheio de grandes talhas e vasos enormes contendo água potável, vinhos fermentados, licores selvagens, de que os aventureiros faziam sempre uma ampla provisão.

Correu de novo ao saguão, e encontrando a primeira talha tirou a torneira; o liquido começou a derramar-se pelo chão; ia passar à segunda quando a voz, que já lhe tinha falado, soou de novo, baixa mas ameaçadora.

— Quem vai lá?

Peri compreendeu que a sua idéia ia ficar sem efeito, e talvez não servisse senão de apressar o que ele queria evitar.

Não hesitou pois; e quando o aventureiro que falava erguia-se, sentiu duas tenazes vivas que caiam sobre o seu pescoço e o estrangulavam como uma golilha de ferro, antes que pudesse soltar um grito.

O índio deitou o corpo hirto sobre o chão sem fazer o menor rumor, e consumou a sua obra; todas as talhas do alpendre esvaziaram se a pouco e pouco e inundavam o chão.

Dentro de um segundo a frialdade acordaria todos os homens adormecidos, e os obrigaria a sair do alpendre; era o que Peri esperava.

Livre do maior perigo, o índio rodeou a casa para ver se tudo estava em sossego; e teve então ocasião de notar que por todo o edifício tinham disposto feixes de palha para atear um incêndio.

Peri inutilizando estes preparativos, chegou ao canto da casa que ficava defronte de sua cabana; parecia procurar alguém. Aí ouviu a respiração ofegante de um homem cosido com a parede junto do jardim de Cecília.

O índio tirou a sua faca; a noite estava tão escura que era impossível descobrir a menor sombra, o menor vulto entre as trevas.

Mas ele conheceu Rui Soeiro.

Peri tinha o ouvido sutil e delicado, e o faro do selvagem que dispensa a vista; o som da respiração servia-lhe de alvo; escutou um momento, ergueu o braço, e a faca enterrando-se na boca da vitima cortou-lhe a garganta.

Nem um gemido escapou da massa inerte que se estorceu um momento e quedou de encontro ao muro.

Peri apanhou o arco que encostara à parede, e voltando-se para lançar um olhar sobre o quarto de Cecília, estremeceu.

Acabava de ver pela soleira da porta o reflexo vivo de uma luz; e logo depois sobre a folhagem do óleo um clarão que indicava estar a janela aberta.

Ergueu os braços com um desespero e uma angústia inexprimível; estava a dois passos de sua senhora e entretanto um muro e uma porta o separavam dela, que talvez àquela hora corria um perigo iminente.

Que ia fazer? Precipitar-se de encontro a essa porta, quebrá-la, espedaçá-la? Mas podia aquela luz não significar coisa alguma, e a janela ter sido aberta por Cecília.

Este último pensamento tranqüilizou-o, tanto mais quando nada revelava a existência de um perigo, quando tudo estava em sossego no jardim e no quarto da menina.

Lançou-se para a cabana, e segurando-se às folhas da palmeira galgou o ramo do óleo, e aproximou-se para ver por que sua senhora estava acordada àquela hora.

O espetáculo que se apresentou diante de seus olhos fez correr-lhe um calafrio pelo corpo; a gelosia aberta deixou-lhe ver a menina adormecida, e o italiano que tendo aberto a porta do jardim dirigia-se ao leito.

Um grito de desespero e de agonia ia romper-lhe do seio; mas o índio mordendo os lábios com força, reprimiu a voz, que se escapou apenas num som rouco e plangente. Então prendendo-se à árvore com as pernas, o índio estendeu-se ao longo do galho e esticou a corda do arco.

O coração batia-lhe violentamente; e por um momento o seu braço tremeu só com a idéia de que a sua flecha tinha de passar perto de Cecília.

Quando porém a mão do italiano se adiantou e ia tocar o corpo da menina, não pensou, não viu mais nada senão esses dedos prestes a mancharem com o seu contato o corpo de sua senhora, não se lembrou senão dessa horrível profanação.

A flecha partiu rápida, pronta e veloz como o seu pensamento; a mão do italiano estava pregada ao muro.

Foi só então que Peri refletiu que teria sido mais acertado ferir essa mão na fonte da vida que a animava; fulminar o corpo a que pertencia esse braço; a segunda seta partiu sobre a primeira, e o italiano teria deixado de existir se a dor não o obrigara a curvar-se.

 

Capítulo VI: Revolta

Quando Peri acabou de refletir sobre o que passara, ergueu-se, abriu de novo a porta, fechou-a por dentro e seguiu pelo corredor que ia do quarto de Cecília ao interior da casa.

Estava tranqüilo sobre o futuro; sabia que Bento Simões e Rui Soeiro não o incomodariam mais, que o italiano não lhe podia escapar, e que àquela hora todos os aventureiros deviam estar acordados; mas julgou prudente prevenir D. Antônio de Mariz do que ocorria.

A esse tempo Loredano já tinha chegado à alpendrada, onde o esperava uma nova e terrível surpresa, uma última decepção.

Lançando-se do quarto de Cecília, sua intenção era ganhar o fundo da casa, pronunciar a senha convencionada, e senhor do campo voltar com seus cúmplices, raptar a menina, e vingar-se de Peri.

Mal sabia porém que o índio tinha destruído toda a sua maquinação; chegando ao pátio viu o alpendre iluminado por fachos, e todos os aventureiros de pé cercando um objeto que não pôde distinguir.

Aproximou-se e descobriu o corpo de seu cúmplice Bento Simões, que jazia no chão alagado do pavimento: o aventureiro tinha os olhos saltados das órbitas, a língua saída da boca, o pescoço cheio de contusões; todos os sinais enfim de uma estrangulação violenta.

De lívido que estava o italiano tornou-se verde; procurou com os olhos a Rui Soeiro e não o viu; decididamente o castigo da Providência caia sobre as suas cabeças; conheceu que estava irremediavelmente perdido, e que só a audácia e o desespero o podiam salvar.

A extremidade em que se achava inspirou-lhe uma idéia digna dele: ia tirar partido para seus fins daquele mesmo fato que parecia destruí-los; ia fazer do castigo uma arma de vingança.

Os aventureiros espantados sem compreenderem o que viam, olhavam-se e murmuravam em voz baixa fazendo suposições sobre a morte do seu companheiro. Uns, despertados de sobressalto pela água que corria das talhas, outros que não dormiam, apenas admirados, se haviam erguido, e no meio de um coro de imprecações e blasfêmias acenderam fachos para ver a causa daquela inundação.

Foi então que descobriram o corpo de Bento Simões e ficaram ainda mais surpreendidos: os cúmplices, temendo que aquilo não fosse um começo de punição, os outros indignados pelo assassinato de seu companheiro.

Loredano percebeu o que passava no espírito dos aventureiros:

— Não sabeis o que significa isto? disse ele.

— Oh! não! explicai-nos! exclamaram os aventureiros.

— Isto significa, continuou o italiano, que há nesta casa uma víbora, uma serpente que nós alimentamos no nosso seio, e que nos morderá a todos com o seu dente envenenado.

— Como?... Que quereis dizer?... Falai!...

— Olhai, disse o frade apontando para o cadáver e mostrando a sua mão ferida; eis a primeira vítima, e a segunda que escapou por um milagre; a terceira... Quem sabe o que é feito de Rui Soeiro?

— É verdade!... onde está Rui? disse Martim Vaz.

— Talvez morto também?

— Depois dele virá outro e outro até que sejamos exterminados um por um; até que todos os cristãos tenham sido sacrificados.

— Mas por quem?... Dizei o nome do vil assassino. É preciso um exemplo! O nome!...

— E não adivinhais? respondeu o italiano. Não adivinhais? quem nesta casa pode desejar a morte dos brancos, e a destruição da nossa religião? Quem senão o herege, o gentio, o selvagem traidor e infame?

— Peri?... exclamaram os aventureiros.

— Sim, esse índio que conta assassinar-nos a todos para saciar a sua vingança!

— Não há de ser assim como dizeis, eu vos juro, Loredano! exclamou Vasco Afonso.

— Bofé! gritou outro, deixai isto por minha conta. Não vos dê cuidado!

— E não passa desta noite. O corpo de Bento Simões pede justiça.

— E justiça será feita.

— Neste mesmo instante.

— Sim, agora mesmo. Eia! Segui-me.

Loredano ouvia estas exclamações rápidas que denunciavam como a exacerbação ia lavrando com intensidade; quando porém os aventureiros quiseram lançar-se em procura do índio, ele os conteve com um gesto.

Não lhe convinha isto; a morte de Peri era coisa acidental para ele; o seu fim principal era outro, e esperava consegui-lo facilmente.

— O que ides fazer? perguntou imperativamente aos seus companheiros.

Os aventureiros ficaram pasmados com semelhante pergunta.

— Ides matá-lo?...

— Mas decerto!

— E não sabeis que não podereis fazê-lo? Que ele é protegido, amado, estimado por aqueles que pouco se importam se morremos ou vivemos?

— Seja embora protegido, quando é criminoso...

— Como vos iludis! Quem o julgará criminoso? Vós? Pois bem; outros julgarão inocente e o defenderão; e não tereis remédio senão curvar a cabeça e calar-vos.

— Oh! isso é demais!

— Julgais que somos alimárias que se podem matar impunemente? retrucou Martim Vaz.

— Sois piores que alimárias; sois escravos!

— Por São Brás, tendes razão, Loredano.

— Vereis morrer vossos companheiros assassinados infamemente, e não podereis vingá-los; e sereis obrigado a tragar até as vossas queixas, porque o assassino é sagrado! Sim, não o podereis tocar, repito.

— Pois bem; eu vo-lo mostrarei!

— E eu! gritou toda a banda.

— Qual é vossa tenção? perguntou o italiano.

— A nossa tenção é pedirmos a D. Antônio de Mariz que nos entregue o assassino de Bento.

— Justo! E se ele recusar, estamos desligados do nosso juramento e faremos justiça pelas nossas mãos.

— Procedeis como homens de brio e pundonor; liguemo-nos todos e vereis que obteremos reparação; mas para isto é preciso firmeza e vontade. Não percamos tempo. Quem de vós se incumbe de ir como parlamentário a D. Antônio?

Um aventureiro dos mais audazes e turbulentos da banda ofereceu-se; chamava-se João Feio.

— Serei eu!

— Sabeis o que lhe deveis dizer?

— Oh! ficai descansado. Ouvirá boas.

— Ides já?

— Neste instante.

Uma voz calma, sonora e de grave entonação, uma voz que fez estremecer todos os aventureiros, soou na entrada do alpendre:

— Não é preciso irdes, pois que vim Aqui me tendes.

D. Antônio de Mariz, calmo e impassível, adiantou-se até o meio do grupo, e cruzando os braços sobre o peito, volveu lentamente pelos aventureiros o seu olhar severo.

O fidalgo não tinha uma só arma; e entretanto o aspecto de sua fisionomia venerável, a firmeza de sua voz e altivez de seu gesto nobre bastaram para fazer curvar a cabeça de todos esses homens que ameaçavam.

Advertido por Peri dos acontecimentos que tinham tido lagar naquela noite, D. Antônio de Mariz ia sair, quando apareceram Álvaro e Aires Gomes.

O escudeiro, que depois de sua conversa com mestre Nunes tinha adormecido, fora despertado de repente pelas imprecações e gritos que soltavam os aventureiros quando a água começou a invadir as esteiras em que estavam deitados.

Admirado desse rumor extraordinário, Aires bateu o fuzil, acendeu a vela, e dirigiu-se para a porta para conhecer o que perturbava o seu sono: a porta, como sabemos, estava fechada e sem chave.

O escudeiro esfregou os olhos para certificar-se do que via, e acordando Nunes, perguntou-lhe quem tomara aquela medida de precaução; seu amigo ignorava como ele.

Nesse momento ouvia-se a voz do italiano que excitava os aventureiros à revolta; Aires Gomes percebeu então do que se tratava.

Agarrou mestre Nunes, encostou-o à parede como se fosse uma escada, e sem dizer palavra trepou do catre sobre seus ombros, e levantando as telhas com a cabeça enfiou por entre as ripas dos caibros.

Apenas ganhou o telhado, o escudeiro pensou no que devia fazer; e assentou que o verdadeiro era dar parte a Álvaro e ao fidalgo, a quem cabia tomar as providências que o acaso pedia.

D. Antônio de Mariz sem se perturbar ouviu a narração do escudeiro, como tinha ouvido a do índio.

— Bem, meus amigos! sei o que me cumpre fazer. Nada de rumor; não perturbemos o sossego da casa; estou certo que isto passará. Esperai-me aqui.

— Não posso deixar que vos arrisqueis só, disse Álvaro dando um passo para segui-lo.

— Ficai: vós e estes dois amigos dedicados velareis sobre minha mulher, Cecília e Isabel. Nas circunstâncias em que nos achamos, assim é preciso.

— Consenti ao menos que um de nós vos acompanhe.

— Não, basta a minha presença; enquanto que aqui todo o vosso valor e fidelidade não bastam para o tesouro que confio à vossa guarda.

O fidalgo tomou o seu chapéu, e poucos momentos depois aparecia imprevistamente no meio dos aventureiros, que trêmulos, cabisbaixos, corridos de vergonha, não ousavam proferir uma palavra.

— Aqui me tendes! repetiu o cavalheiro. Dizei o que quereis de D. Antônio de Mariz, e dizei-o claro e breve. Se for de justiça, sereis satisfeitos; se for uma falta, tereis a punição que merecerdes.

Nem um dos aventureiros ousou levantar os olhos; todos emudeceram.

— Calai-vos?... Passa-se então aqui alguma coisa que não vos atreveis a revelar? Acaso ver-me-ei obrigado a castigar severamente um primeiro exemplo de revolta e desobediência? Falai! Quero saber o nome dos culpados!

O mesmo silêncio respondeu às palavras firmes e graves do velho fidalgo.

Loredano hesitava desde o princípio desta cena; não tinha a coragem necessária para apresentar-se em face de D. Antônio; mas também sentia que se ele deixasse as coisas marcharem pela maneira por que iam, estava infalivelmente perdido.

Adiantou-se:

— Não há aqui culpados, Sr. D. Antônio de Mariz, disse o italiano animando-se progressivamente; há homens que são tratados como cães; que são sacrificados a um capricho vosso, e que estão resolvidos a reivindicarem os seus foros de homens e de cristãos!

— Sim! gritaram os aventureiros reanimando-se. Queremos que se respeite a nossa vida!

— Não somos escravos!

— Obedecemos, mas não nos cativamos!

— Valemos mais que um herege!

— Temos arriscado a nossa existência para defender-vos!

D. Antônio ouviu impassível todas estas exclamações que iam subindo gradualmente ao tom da ameaça.

— Silêncio, vilões! Esqueceis que D. Antônio de Mariz ainda tem bastante força para arrancar a língua que o pretendesse insultar? Miseráveis, que lembrais o dever como um beneficio! Arriscastes a vossa vida para defender-me?... E qual era a vossa obrigação, homens que vendeis o vosso braço e sangue ao que melhor paga? Sim! Sois menos que escravos, menos que cães, menos que feras! Sois traidores infames e refeces!... Mereceis mais do que a morte; mereceis o desprezo.

Os aventureiros, cuja raiva fermentava surdamente, não se contiveram mais; das palavras de ameaça passaram ao gesto.

— Amigos! gritou Loredano aproveitando habilmente o ensejo. Deixareis que vos insultem atrozmente, que vos cuspam o desprezo na cara? E por que motivo!...

— Não! Nunca! vociferaram os aventureiros furiosos.

Desembainhando as adagas estreitaram o círculo ao redor de D. Antônio de Mariz; era uma confusão de gritos, injúrias, ameaças, que corriam por todas as bocas, enquanto os braços suspensos hesitavam ainda em lançar o golpe.

D. Antônio de Mariz, sereno, majestoso, calmo, olhava todas essas fisionomias decompostas com um sorriso de escárnio; e sempre altivo e sobranceiro, parecia sob os punhais que o ameaçavam, não a vítima que ia ser imolada, mas o senhor que mandava.

Wednesday, 7 April 2021

"Primo Feliciter" by Pope Pius XII (in English)

 1. The first anniversary of Provida Mater Ecclesia has come and gone, and it has been a year of blessings. As we look around upon the Catholic scene we now see a multitude of souls "hid with Christ in God"[1] stretching out towards sanctity in the midst of the world, their whole lives joyfully consecrated to God, with "great heart and willing mind"[2] in the new Secular Institutes. We cannot but give thanks to the Divine Goodness for this new host which has come to increase the army of those who profess the evangelical counsels in the world; and also for this great help which in these sad and disturbed times has most providentially strengthened the Catholic apostolate.

2. The Holy Spirit who unceasingly remakes and renews[3] the face of the earth, daily disfigured and blasted by all manner of atrocious evil, by special grace has called a multitude of our sons and daughters - his blessing be upon them! - to the serried ranks of the Secular Institutes, to make of them in this nonsensical shadow-world to which they do not belong[4] but in which, by God's wise ordering, they must live, a salt, a seasoning, kept salt by the vocation given, unfailing,[5] a light which shines out and is not overcome in the darkness of the world,[6] and the little yeast, always and everywhere at work, kneaded into every kind of society, from the humblest to the highest, to permeate each and all by word, example and in every way, until it forms and shapes the whole of it, making of it a new paste in Christ .[7]

3. It is our desire and intention that these Institutes, so many of them, sprung up all over the world to our great comfort through the outpouring of the Spirit of Jesus Christ,[8] be directed effectively according to the norms of Provida Mater Ecclesia and thus fulfill abundantly the promise that is in them of a great harvest of sanctity, and that they be prudently marshaled and wisely deployed to fight the battles of the Lord[9] in the field of common apostolic endeavor and in those which they find for themselves. With this in mind we confirm with great joy and after mature reflection the Apostolic Constitution Provida Mater Ecclesia, and hereby enact the following canonical provisions.

4. I. There is no longer any acceptable reason for Societies, cleric or lay, professing Christian perfection in the world, and clearly and fully conforming to the features and requirements prescribed in Provida Mater Ecclesia for a Secular Institute to be left, or remain on a purely personal option in the canonical status of ordinary Associations of the Faithful (canons 684-725). They are now to be given the form and status of Secular Institutes, as being most suitable for their nature and needs.

5. II. The transference of an Association of the Faithful to the higher canonical status of a Secular Institute must not obscure, even in special cases, the proper and specific character of the Institutes, namely, that they are secular and that this is the real nature of their calling.

Everything about them must be clearly secular. There will be no paring down of the full profession of the Christian perfection, solidly founded on the evangelical counsels and essentially the same as that of Religious, but perfection is to be lived and professed in the world, therefore adapted to secular life, all along the line, i.e. in all things that are lawful and compatible with the duties and apostolate of such a life of perfection.

6. The whole life of a member of a Secular Institute, sacred to God by the profession of perfection, must become an apostolate so continuous and holy, with such sincerity of mind, interior union with God, generous self forgetfulness and courageous self-denial, such love of souls, as to nourish, unceasingly renew and outwardly express the spiritual reality within. This apostolate of one's whole life is so deeply and sincerely experienced in the Secular Institutes as to give the impression that, with the help and guiding wisdom of Divine Providence, the thirst for souls and zeal for their salvation have not only happily given occasion for a consecration of life but have largely imposed their own way and form upon it and, in a way which could not have been predicted, to have created and met a need which is not confined to a specific apostolate but is a new general way of consecrated life. Not only is this apostolate something that happens in the world, but it may almost be said to grow out of the world: its existence is in professions, activities, forms, places, circumstances of a secular nature, and so it must remain.

7. III. Secular Institutes do not come under the canonical discipline of Religious. As a general rule Provida Mater Ecclesia neither requires nor allows the application to Secular Institutes of legislation made for Religious. But some features of Religious life may be compatible with the secular nature of Institutes, are no impediment to the total commitment of life and are in keeping with the provisions of Provida Mater Ecclesia: these may be retained.

8. IV. Secular Institutes may have inter-diocesan and international structure and organization (art. IX) and this certainly should make for an increase of vital energy, survival value and effectiveness. But in this connection a number of things have to be taken into account, e.g. the aim and purpose of a given Institute, the degree of expansion intended, the Institute's actual stage of development and maturity, its condition and circumstances and so forth. A federal basis is also a possibility not to be ruled out or under-estimated, implying retention and reasonable encouragement of local characteristics, national, regional, diocesan, provided that these are sound and retain a true sense of the catholicity of the Church.

9. V. Secular Institute life is a life totally consecrated to God and souls, in the world, with the approval of the Church. Its structure extends already in various degrees beyond the bounds of diocese or nation. These features more than justify the classification given to Secular Institutes in Provida Mater Ecclesia as states of perfection canonically recognized and structured by the Church itself and their assignment to the competence and responsibility of the Sacred Congregation which has care and government of public states of perfection. Therefore, saving always, according to the tenor of the canons and express requirements of Provida Mater Ecclesia (Art. IV, 1 and 2), the rights of the Sacred Congregation of the Council in what concerns pious sodalities and pious unions of the faithful (c. 250 § 2) and of the Congregation for the Propagation of the Faith in what concerns societies of ecclesiastics at the seminaries for foreign missions, all societies wherever they may be - including those which have ordinary or pontifical approval, - as soon as it is clear that they have the features and requirements proper to Secular Institutes, are to be put into this new form, according to the above mentioned norms (cf no. I); and, to preserve unity of direction, they become at the level of universal government the exclusive responsibility and concern of the Sacred Congregation of Religious in which a special Section has been created for this purpose.

10. VI. To Moderators and assistants of Catholic Action and of other associations of the faithful, in which so many excellent young people are learning to lead a thoroughly Christian life and to be apostles, we commend those who feel that God is calling them further, either to Religious life in an Order or Congregation, or to a Society of common life, or, to a Secular Institute. Such holy vocations are to be generally assisted. These providential Secular Institutes are also to be given a helping hand in this way, and their collaboration, where compatible with the rules of existing associations is to be sought and welcomed.

11 . All the provisions and decisions herein contained are the executive responsibility of the respective authorities, i.e. the Sacred Congregation of Religious, the other Congregations here referred to, Local Ordinaries, Directors of Societies.

 

Rome, at St. Peter's, 12th March 1948, the beginning of the tenth year of Our Pontificate.

 

 

 

[1] Col III, 3.

[2] II Macc. 1-3.

[3] Psalm C III, 30.

[4] Jn XV, 19.

[5] Mt V, 13; Mk IX, 49; Lk XIV, 34.

[6] Jn IX, 5; I, 5; VIII, 12; Eph V, 8.

[7] Mt XIII, 33;1 Cor V,6; Ca V,9.

[8] Rom VIII, 9.

[9] Cant. VI, 3.

 

 

Tuesday, 6 April 2021

Tuesday's Serial: “In Ghostly Japan” by Lafcadio Hearn (in English) - V

 A MOTHER’S REMEMBRANCE

Sweet and clear in the night, the voice of a boy at study,

Reading out of a book…. I also once had a boy!

A MEMORY IN SPRING

She, who, departing hence, left to the flowers of the plum-tree,

Blooming beside our eaves, the charm of her youth and beauty,

And maiden pureness of heart, to quicken their flush and fragrance,—

Ah! where does she dwell to-day, our dear little vanished sister?

FANCIES OF ANOTHER FAITH

(1) I sought in the place of graves the tomb of my vanished friend:

From ancient cedars above there rippled a wild doves cry.

(2) Perhaps a freak of the wind-yet perhaps a sign of remembrance,—

This fall of a single leaf on the water I pour for the dead.

(3)I whispered a prayer at the grave: a butterfly rose and fluttered—

Thy spirit, perhaps, dear friend!…

IN A CEMETERY AT NIGHT

This light of the moon that plays on the water I pour for the dead,

Differs nothing at all from the moonlight of other years.

AFTER LONG ABSENCE

The garden that once I loved, and even the hedge of the garden,—

All is changed and strange: the moonlight only is faithful;—

The moon alone remembers the charm of the time gone by!

MOONLIGHT ON THE SEA

O vapory moon of spring!—would that one plunge into ocean

Could win me renewal of life as a part of thy light on the waters!

AFTER FAREWELL

Whither now should! look?—where is the place of parting?

Boundaries all have vanished;—nothing tells of direction:

Only the waste of sea under the shining moon!

HAPPY POVERTY

Wafted into my room, the scent of the flowers of the plum-tree

Changes my broken window into a source of delight.

AUTUMN FANCIES

(1) Faded the clover now;—sere and withered the grasses:

What dreams the matsumushi[3] in the desolate autumn-fields?

(2) Strangely sad, I thought, sounded the bell of evening;—

Haply that tone proclaimed the night in which autumn dies!

(3) Viewing this autumn-moon, I dream of my native village

Under the same soft light,—and the shadows about my home.

[3] A musical cricket—calyptotryphus marmoratus.

IN TIME OF GRIEF, HEARING A SÉMI (CICADA)

Only “I,” “I,”—the cry of the foolish semi!

Any one knows that the world is void as its cast-off shell.

ON THE CAST-OFF SHELL OF A SÉMI

Only the pitiful husk!… O poor singer of summer,

Wherefore thus consume all thy body in song?

SUBLIMITY OF INTELLECTUAL POWER

The mind that, undimmed, absorbs the foul and the pure together—

Call it rather a sea one thousand fathoms deep![4]

[4] This is quite novel in its way,—a product of the University: the original runs thus:—

Nigoréru mo

Suméru mo tomo ni

Iruru koso

Chi-hiro no umi no

Kokoro nari-keré!

SHINTŌ REVERY

Mad waves devour The rocks: I ask myself in the darkness,

“Have I become a god?” Dim is The night and wild!

“Have I become a god?”—that is to say, “Have I died?—am I only a ghost in this desolation?” The dead, becoming kami or gods, are thought to haunt wild solitudes by preference.

 

IV

The poems above rendered are more than pictorial: they suggest something of emotion or sentiment. But there are thousands of pictorial poems that do not; and these would seem mere insipidities to a reader ignorant of their true purpose. When you learn that some exquisite text of gold means only, “Evening-sunlight on the wings of the water-fowl,”—or,”Now in my garden the flowers bloom, and the butterflies dance,”—then your first interest in decorative poetry is apt to wither away. Yet these little texts have a very real merit of their own, and an intimate relation to Japanese aesthetic feeling and experience. Like the pictures upon screens and fans and cups, they give pleasure by recalling impressions of nature, by reviving happy incidents of travel or pilgrimage, by evoking the memory of beautiful days. And when this plain fact is fully understood, the persistent attachment of modern Japanese poets—notwithstanding their University training—to the ancient poetical methods, will be found reasonable enough.

I need offer only a very few specimens of the purely pictorial poetry. The following—mere thumb-nail sketches in verse—are of recent date.

LONESOMENESS

Furu-dera ya:

Kané mono iwazu;

Sakura chiru.

 

—“Old temple: bell voiceless; cherry-flowers fall.”

MORNING AWAKENING AFTER A NIGHT’S REST IN A TEMPLE

Yamadera no

Shichō akéyuku:

Taki no oto.

—“In the mountain-temple the paper mosquito-curtain is lighted by the dawn: sound of water-fall.”

WINTER-SCENE

Yuki no mura;

Niwatori naité;

Aké shiroshi.

“Snow-village;—cocks crowing;—white dawn.”

Let me conclude this gossip on poetry by citing from another group of verses—also pictorial, in a certain sense, but chiefly remarkable for ingenuity—two curiosities of impromptu. The first is old, and is attributed to the famous poetess Chiyo. Having been challenged to make a poem of seventeen syllables referring to a square, a triangle, and a circle, she is said to have immediately responded,—

Kaya no té wo

Hitotsu hazushité,

Tsuki-mi kana!

—“Detaching one corner of the mosquito-net, lo! I behold the moon!” The top of the mosquito-net, suspended by cords at each of its four corners, represents the square;—letting down the net at one corner converts the square into a triangle;—and the moon represents the circle.

The other curiosity is a recent impromptu effort to portray, in one verse of seventeen syllables, the last degree of devil-may-care-poverty,—perhaps the brave misery of the wandering student;—and I very much doubt whether the effort could be improved upon:—

Nusundaru

Kagashi no kasa ni

Amé kyū nari.

—“Heavily pours the rain on the hat that I stole from the scarecrow!”

Japanese Buddhist Proverbs

As representing that general quality of moral experience which remains almost unaffected by social modifications of any sort, the proverbial sayings of a people must always possess a special psychological interest for thinkers. In this kind of folklore the oral and the written literature of Japan is rich to a degree that would require a large book to exemplify. To the subject as a whole no justice could be done within the limits of a single essay. But for certain classes of proverbs and proverbial phrases something can be done within even a few pages; and sayings related to Buddhism, either by allusion or derivation, form a class which seems to me particularly worthy of study. Accordingly, with the help of a Japanese friend, I have selected and translated the following series of examples,—choosing the more simple and familiar where choice was possible, and placing the originals in alphabetical order to facilitate reference. Of course the selection is imperfectly representative; but it will serve to illustrate certain effects of Buddhist teaching upon popular thought and speech.

 

1.—Akuji mi ni tomaru.

All evil done clings to the body.[1]

 

2.—Atama soru yori kokoro wo soré.

Better to shave the heart than to shave the head.[2]

 

3.—Au wa wakaré no hajimé.

Meeting is only the beginning of separation.[3]

 

4.—Banji wa yumé.

All things[4] are merely dreams.

 

5.—Bonbu mo satoréba hotoké nari.

Even a common man by obtaining knowledge becomes a Buddha.[5]

 

6.—Bonnō kunō.

All lust is grief.[6]

 

7—Buppō to wara-ya no amé, dété kiké.

One must go outside to hear Buddhist doctrine or the sound of rain on a straw roof.[7]

 

8.—Busshō en yori okoru.

Out of karma-relation even the divine nature itself grows.[8]

 

9.—Enkō ga tsuki wo toran to suru ga gotoshi.

Like monkeys trying to snatch the moon’s reflection on water.[9]

 

10.—En naki shujō wa doshi gatashi.

To save folk having no karma-relation would be difficult indeed![10]

 

11.—Fujō seppō suru hōshi wa, birataké ni umaru.

The priest who preaches foul doctrine shall be reborn as a fungus.

 

12.—Gaki mo ninzu.

Even gaki (prêtas) can make a crowd.[11]

 

13.—Gaki no mé ni midzu miézu.

To the eyes of gaki water is viewless.[12]

 

14.—Goshō wa daiji.

The future life is the all-important thing.[13]

 

15.—Gun-mō no tai-zō wo saguru ga gotoshi.

Like a lot of blind men feeling a great elephant.[14]

 

16.—Gwai-men nyo-Bosatsu; nai shin nyo-Yasha.

In outward aspect a Bodhisattva; at innermost heart a demon.[15]

 

17.—Hana wa né ni kaeru.

The flower goes back to its root.[16]

 

18.—Hibiki no koë ni ozuru ga gotoshi.

Even as the echo answers to the voice.[17]

 

19.—Hito wo tasukéru ga shukhé no yuku.

The task of the priest is to save mankind.

 

20.—Hi wa kiyurédomo tō-shin wa kiyédzu.

Though the flame be put out, the wick remains.[18]

 

21.—Hotoké mo motowa bonbu.

Even the Buddha was originally but a common man.

 

22.—Hotoké ni naru mo shami wo beru.

Even to become a Buddha one must first become a novice.

 

23.—Hotoké no kao mo sando.

Even a Buddha’s face,—only three times.[19]

 

24.—Hotoké tanondé Jigoku é yuku.

Praying to Buddha one goes to hell.[20]

 

25.—Hotoké tsukutté tamashii irédzu.

Making a Buddha without putting in the soul.[21]

 

26.—Ichi-ju no kagé, ichi-ga no nagaré, tashō no en.

Even [the experience of] a single shadow or a single flowing of water, is [made by] the karma-relations of a former life.[22]

 

27.—Ichi-mō shū-mō wo hiku.

One blind man leads many blind men.[23]

 

28.—Ingwa na ko.

A karma-child.[24]

 

29.—Ingwa wa, kuruma no wa.

Cause-and-effect is like a wheel.[25]

 

30.—Innen ga fukai.

The karma-relation is deep.[26]

 

31.—Inochi wa fū-zen no tomoshibi.

Life is a lamp-flame before a wind.[27]

 

32.—Issun no mushi ni mo, gobu no tamashii.

Even a worm an inch long has a soul half-an-inch long.[28]

 

33.—Iwashi[29] no atama mo shinjin kara.

Even the head of an iwashi, by virtue of faith, [will have power to save, or heal].

 

34.—Jigō-jitoku.[30]

The fruit of ones own deeds [in a previous state of existence].

 

35.—Jigoku dé hotoké.

Like meeting with a Buddha in hell.[31]

 

36.—Jigoku Gokuraku wa kokoro ni ari.

Hell and Heaven are in the hearts of men.[32]

 

37.—Jigoku mo sumika.

Even Hell itself is a dwelling-place.[33]

 

38.—Jigoku ni mo shiru bito.

Even in hell old acquaintances are welcome.

 

39.—Kagé no katachi ni shitagau gotoshi.

Even as the shadow follows the shape.[34]

 

40.—Kané wa Amida yori bikaru.

Money shines even more brightly than Amida.[35]

 

41.—Karu-toki no Jizō-gao; nasu-toki no Emma-gao.

Borrowing-time, the face of Jizō; repaying-time, the face of Emma.[36]

 

42.—Kiité Gokuraku, mité Jigoku.

Heard of only, it is Paradise; seen, it is Hell.[37]

 

43.—Kōji mon wo idézu: akuji sen ni wo hashiru.

Good actions go not outside of the gate: bad deeds travel a thousand ri.

 

44.—Kokoro no koma ni tadzuna wo yuru-suna.

Never let go the reins of the wild colt of the heart.

 

45.—Kokoro no oni ga mi wo séméru.

The body is tortured only by the demon of the heart.[38]

 

46.—Kokoro no shi to wa naré; kokoro wo shi to sezaré.

Be the teacher of your heart: do not allow your heart to become your teacher.

 

47.—Kono yo wa kari no yado.

This world is only a resting-place.[39]

 

48.—Kori wo chiribamé; midzu ni égaku.

To inlay ice; to paint upon water.[40]

 

[1] The consequence of any evil act or thought never,—so long as karma endures,—will cease to act upon the existence of the person guilty of it.

[2] Buddhist nuns and priests have their heads completely shaven. The proverb signifies that it is better to correct the heart,—to conquer all vain regrets and desires,—than to become a religious. In common parlance the phrase “to shave the head” means to become a monk or a nun.

[3] Regret and desire are equally vain in this world of impermanency; for all joy is the beginning of an experience that must have its pain. This proverb refers directly to the sutra-text,—Shōja hitsumetsu é-sha-jori,—” All that live must surely die; and all that meet will surely part.”

[4] Literally, “ten thousand things.”

[5] The only real differences of condition are differences in knowledge of the highest truth.

[6] All sensual desire invariably brings sorrow.

[7] There is an allusion here to the condition of the shukké (priest): literally, “one who has left his house.” The proverb suggests that the higher truths of Buddhism cannot be acquired by those who continue to live in the world of follies and desires.

[8] There is good as well as bad karma. Whatever hap-piness we enjoy is not less a consequence of the acts and thoughts of previous lives, than is any misfortune that comes to us. Every good thought and act contributes to the evolution of the Buddha-nature within each of us. Another proverb [No. 10],—En naki shujō wa doshi gatashi,—further illustrates the meaning of this one.

[9] Allusion to a parable, said to have been related by the Buddha himself, about some monkeys who found a well under a tree, and mistook for reality the image of the moon in the water. They resolved to seize the bright apparition. One monkey suspended himself by the tail from a branch overhanging the well, a second monkey clung to the first, a third to the second, a fourth to the third, and so on,—till the long chain of bodies had almost reached the water. Suddenly the branch broke under the unaccustomed weight; and all the monkeys were drowned.

[10] No karma-relation would mean an utter absence of merit as well as of demerit.

[11] Literally: “Even gaki are a multitude (or, ‘population’).” This is a popular saying used in a variety of ways. The ordinary meaning is to the effect that no matter how poor or miserable the individuals composing a multitude, they collectively represent a respectable force. Jocosely the saying is sometimes used of a crowd of wretched or tired-looking people,—sometimes of an assembly of weak boys desiring to make some demonstration,—sometimes of a miserable-looking company of soldiers.—Among the lowest classes of the people it is not uncommon to call a deformed or greedy person a “gaki.”

[12] Some authorities state that those prêtas who suffer especially from thirst, as a consequence of faults committed in former lives, are unable to see water.—This proverb is used in speaking of persons too stupid or vicious to perceive a moral truth.

[13] The common people often use the curious expression “gosho-daiji” as an equivalent for “extremely important.”

[14] Said of those who ignorantly criticise the doctrines of Buddhism.—The proverb alludes to a celebrated fable in the Avadânas, about a number of blind men who tried to decide the form of an elephant by feeling the animal. One, feeling the leg, declared the elephant to be like a tree; another, feeling the trunk only, declared the elephant to be like a serpent; a third, who felt only the side, said that the elephant was like a wall; a fourth, grasping the tail, said that the elephant was like a rope, etc.

[15] Yasha (Sanscrit Yaksha), a man-devouring demon.

[16] This proverb is most often used in reference to death,—signifying that all forms go back into the nothingness out of which they spring. But it may also be used in relation to the law of cause-and-effect.

[17] Referring to the doctrine of cause-and-effect. The philosophical beauty of the comparison will be appreciated only if we bear in mind that even the tone of the echo repeats the tone of the voice.

[18] Although the passions may be temporarily overcome, their sources remain. A proverb of like meaning is, Bonnō no inu oëdomo sarazu: “Though driven away, the Dog of Lust cannot be kept from coming back again.”

[19] This is a short popular form of the longer proverb, Hotoké no kao mo sando nazuréba, hara wo tatsu: “Stroke even the face of a Buddha three times, and his anger will be roused.”

[20] The popular saying, Oni no Nembutsu,—“a devil’s praying,”—has a similar meaning.

[21] That is to say, making an image of the Buddha without giving it a soul. This proverb is used in reference to the conduct of those who undertake to do some work, and leave the most essential part of the work unfinished. It contains an allusion to the curious ceremony called Kai-gen, or “Eye-Opening.” This Kai-gen is a kind of consecration, by virtue of which a newly-made image is supposed to become animated by the real presence of the divinity represented.

[22] Even so trifling an occurrence as that of resting with another person under the shadow of a tree, or drinking from the same spring with another person, is caused by the karma-relations of some previous existence.

[23] From the Buddhist work Dai-chi-dō-ron.—The reader will find a similar proverb in Rhys-David’s “Buddhist Suttas” (Sacred Books of the East), p. 173,—together with a very curious parable, cited in a footnote, which an Indian commentator gives in explanation.

[24] A common saying among the lower classes in reference to an unfortunate or crippled child. Here the word ingwa is used especially in the retributive sense. It usually signifies evil karma; kwahō being the term used in speaking of meritorious karma and its results. While an unfortunate child is spoken of as “a child of ingwa,” a very lucky person is called a “kwahō-mono,”—that is to say, an instance, or example of kwahō.

[25] The comparison of karma to the wheel of a wagon will be familiar to students of Buddhism. The meaning of this proverb is identical with that of the Dhammapada verse:—“If a man speaks or acts with an evil thought, pain follows him as the wheel follows the foot of the ox that draws the carriage.”

[26] A saying very commonly used in speaking of the attachment of lovers, or of the unfortunate results of any close relation between two persons.

[27] Or, “like the flame of a lamp exposed to the wind.” A frequent expression in Buddhist literature is “the Wind of Death.”

[28] Literally, “has a soul of five bu,”—five bu being equal to half of the Japanese inch. Buddhism forbids all taking of life, and classes as living things (Ujō) all forms having sentiency. The proverb, however,—as the use of the word “soul” (tamashii) implies,—reflects popular belief rather than Buddhist philosophy. It signifies that any life, however small or mean, is entitled to mercy.

[29] The iwashi is a very small fish, much resembling a sardine. The proverb implies that the object of worship signifies little, so long as the prayer is made with perfect faith and pure intention.

[30] Few popular Buddhist phrases are more often used than this. Jigō signifies ones own acts or thoughts; jitoku, to bring upon oneself,—nearly always in the sense of misfortune, when the word is used in the Buddhist way. “Well, it is a matter of Jigō-jitoku,” people will observe on seeing a man being taken to prison; meaning, “He is reaping the consequence of his own faults.”

[31] Refers to the joy of meeting a good friend in time of misfortune. The above is an abbreviation. The full proverb is, Jigoku dé hotoké hotoke ni ōta yo da.

[32] A proverb in perfect accord with the higher Buddhism.

[33] Meaning that even those obliged to live in hell must learn to accommodate themselves to the situation. One should always try to make the best of circumstances. A proverb of kindred signification is, Sumeba, Miyako: “Wheresoever ones home is, that is the Capital [or, imperial City].”

[34] Referring to the doctrine of cause-and-effect. Compare with verse 2 of the Dhammapada.

[35] Amitâbha, the Buddha of Immeasurable Light. His image in the temples is usually gilded from head to foot.—There are many other ironical proverbs about the power of wealth,—such as Jigoku no sata mo kané shidai: “Even the Judgments of Hell may be influenced by money.”

[36] Emma is the Chinese and Japanese Yama,—in Buddhism the Lord of Hell, and the Judge of the Dead. The proverb is best explained by the accompanying drawings, which will serve to give an idea of the commoner representations of both divinities.

[37] Rumor is never trustworthy.

[38] Or “mind.” That is to say that we suffer only from the consequences of our own faults.—The demon-torturer in the Buddhist hell says to his victim:—“Blame not me!—I am only the creation of your own deeds and thoughts: you made me for this!”—Compare with No. 36.

[39] “This world is but a travellers’ inn,” would be an almost equally correct translation. Yado literally means a lodging, shelter, inn; and the word is applied often to those wayside resting-houses at which Japanese travellers halt during a journey. Kari signifies temporary, transient, fleeting,—as in the common Buddhist saying, Kono yo kari no yo: “This world is a fleeting world.” Even Heaven and Hell represent to the Buddhist only halting places upon the journey to Nirvâna.

[40] Refers to the vanity of selfish effort for some merely temporary end.