Thursday 4 April 2024

Thursday's Serial: "Os Exercícios Espirituais" by Saint Ignatius of Loyola (translated into Portuguese) - III

 

SEGUNDA SEMANA

PARÁBOLA DE INTRODUÇÃO AO SEGUIMENTO DE CRISTO

91 O Chamamento do Rei Temporal ajuda a contemplar a vida do Rei Eterno.

Oração preparatória. Seja a costumada [46].

Primeiro preâmbulo. É a composição, vendo o lugar. Será aqui ver, com a vista imaginativa, sinagogas, vilas e aldeias por onde Cristo nosso Senhor pregava.

Segundo preâmbulo. Pedir a graça que quero. Será aqui pedir graça a nosso Senhor para que não seja surdo ao seu chamamento, mas pronto e diligente em cumprir sua santíssima vontade.

92 Primeiro ponto. Pôr diante de mim um rei humano, eleito pela mão de Deus nosso Senhor, a quem prestam reverência e obedecem todos os príncipes e todos os homens cristãos.

93 Segundo ponto. Reparar como este rei fala a todos os seus, dizendo: Minha vontade é conquistar toda a terra de infiéis; portanto, quem quiser vir comigo, há de contentar-se com comer como eu, e assim com beber e vestir, etc.; do mesmo modo há de trabalhar comigo, durante o dia, e vigiar, durante a noite, etc., para que, assim, depois tenha parte comigo na vitória, como a teve nos trabalhos.

94 Terceiro ponto. Considerar o que devem responder os bons súbditos a rei tão liberal e tão humano; e, por conseguinte, se algum não aceitasse a petição de tal rei, quão digno seria de ser vituperado por todo o mundo e tido por perverso cavaleiro.

 

Segunda Parte

95 Consiste em aplicar o exemplo precedente do rei temporal a Cristo nosso Senhor, conforme aos três pontos expostos.

Primeiro ponto. Se consideramos tal apelo do rei temporal a seus súbditos, quanto é coisa mais digna de consideração ver a Cristo nosso Senhor, rei eterno, e diante dele todo o mundo universal, ao qual e a cada homem, em particular, chama e diz: Minha vontade é conquistar todo o mundo e todos os inimigos, e assim entrar na glória de meu Pai; portanto, quem quiser vir comigo, há de trabalhar comigo, para que seguindo-me na pena, me siga também na glória.

96 Segundo ponto. Considerar que todos os que tiverem juízo e razão oferecerão todas as suas pessoas ao trabalho.

97 Terceiro ponto. Os que mais se quiserem afeiçoar e assinalar em todo o serviço de seu rei eterno e senhor universal, não somente oferecerão suas pessoas ao trabalho, mas ainda, agindo contra a sua própria sensualidade e contra o seu amor carnal e mundano, farão oblações de maior estima e valor, dizendo:

98 Eterno Senhor de todas as coisas, eu faço a minha oblação, com vosso favor e ajuda, diante da vossa infinita bondade, e diante da vossa Mãe gloriosa e de todos os santos e santas da corte celestial, que eu quero e desejo e é minha determinação deliberada, contanto que seja vosso maior serviço e louvor, imitar-vos em passar todas as injúrias e todo o desprezo e toda a pobreza, assim atual como espiritual, se Vossa Santíssima Majestade me quiser escolher e receber em tal vida e estado.

99 Primeira nota. Este exercício se fará duas vezes ao dia, a saber, pela manhã ao levantar e uma hora antes de almoçar ou jantar.

100 Segunda nota. Para a segunda semana, e também daqui por diante, muito aproveita ler, por breves momentos, os livros da Imitação de Cristo ou dos Evangelhos e de vidas de santos.

 

CONTEMPLAÇÃO DA VIDA FAMILIAR DE JESUS

Primeiro Dia

A PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO É DA ENCARNAÇÃO.

101 Consta da oração preparatória, três preâmbulos e três pontos e um colóquio Oração preparatória, a costumada [46].

102 Primeiro preâmbulo. Recordar a história do assunto que tenho de contemplar, que é aqui como as três pessoas divinas observavam toda a planície ou redondeza de todo o mundo, cheia de homens, e como, vendo que todos desciam ao inferno, se determina, na sua eternidade, que a segunda pessoa se faça homem, para salvar o gênero humano. E, assim, chegada a plenitude dos tempos, é enviado o anjo S. Gabriel a nossa Senhora [262].

103 Segundo preâmbulo. Composição, vendo o lugar. Aqui será ver a grande extensão e redondeza do mundo, no qual estão tantas e tão diversas gentes. Assim mesmo, depois, particularmente, a casa e aposentos de nossa Senhora, na cidade de Nazaré, na província de Galiléia.

104 Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; será aqui pedir conhecimento interno do Senhor que, por mim, se fez homem, para que mais o ame e o siga.

105 Nota. Convém aqui notar que esta mesma oração preparatória, sem a mudar, como está dito no princípio [46; 49], assim como os mesmos três preâmbulos se hão de fazer nesta semana e nas outras seguintes, mudando nestes a forma segundo a matéria proposta.

106 Primeiro ponto. Ver as pessoas, umas e outras. E, primeiro, as da face da terra, em tanta diversidade, assim em trajes como em gestos: uns brancos e outros negros, uns em paz e outros em guerra, uns chorando e outros rindo, uns sãos e outros enfermos, uns nascendo e outros morrendo, etc; segundo, ver e considerar as três pessoas divinas, como que no seu assento real ou trono da sua divina majestade, como observam toda a face e redondeza da terra, e todas as gentes em tanta cegueira, e como morrem e descem ao inferno; terceiro, ver nossa Senhora e o anjo que a saúda. E refletir para tirar proveito de tal vista.

107 Segundo ponto. Ouvir o que dizem as pessoas sobre a face da terra, a saber, como falam umas com as outras, como juram e blasfemam, etc. Assim mesmo, o que dizem as pessoas divinas, a saber: "Façamos a redenção do gênero humano, etc." E, depois, as palavras do anjo e de nossa Senhora. E refletir, depois, para tirar proveito de suas palavras.

108 Terceiro ponto. Depois, observar o que fazem as pessoas sobre a face da terra, como ferir, matar, ir para o inferno, etc. Assim mesmo, o que fazem as pessoas divinas, a saber, realizar a santíssima Encarnação, etc. E, assim mesmo, o que fazem o anjo e nossa Senhora, a saber, o anjo cumprindo o seu ofício de legado, e nossa Senhora humilhando-se e dando graças à divina Majestade. E, refletir, depois, para tirar algum proveito de cada uma destas coisas.

109 Colóquio. Pensando o que devo dizer às três Pessoas divinas ou ao Verbo eterno encarnado, ou à Mãe e Senhora nossa, pedindo, conforme em si sentir, para mais seguir e imitar a nosso Senhor, assim recém-encarnado, dizendo um Pai nosso.

 

A SEGUNDA CONTEMPLAÇÃO É DO NASCIMENTO

110 Oração preparatória. A habitual [46].

111 Primeiro preâmbulo. A história; e será aqui como desde Nazaré saíram nossa Senhora, grávida quase de nove meses, como se pode piamente meditar, assentada numa jumenta, e José e uma serva, levando um boi, para ir a Belém pagar o tributo que César impôs em todas aquelas terras [264].

112 Segundo preâmbulo. Composição vendo o lugar; será aqui ver, com a vista imaginativa, o caminho desde Nazaré a Belém, considerando o comprimento, a largura, e se tal caminho era plano ou se por vales ou encostas. Assim mesmo, observar o lugar ou gruta do nascimento, se era grande, pequeno, baixo, alto, e como estava preparado.

113 Terceiro preâmbulo. O mesmo e da mesma forma que na contemplação precedente.

114 Primeiro ponto. Ver as pessoas, a saber, ver nossa Senhora e José e a serva, e o Menino Jesus depois de já ter nascido, fazendo-me eu um pobre e escravo indigno que os observa, os contempla e os serve em suas necessidades, como se presente me achasse, com todo o acatamento e reverência possível; e, depois, refletir em mim mesmo para tirar algum proveito.

115 Segundo ponto. observar, advertir e contemplar o que falam; e, refletindo em mim mesmo, tirar algum proveito.

116 Terceiro ponto. observar e considerar o que fazem, como é caminhar e trabalhar, para que o Senhor venha a nascer em suma pobreza e, ao cabo de tantos trabalhos de fome, de sede, de calor e de frio, de injúrias e afrontas, para morrer na cruz; e tudo isto por mim; depois, refletindo, tirar algum proveito espiritual.

117 Colóquio. Como na contemplação precedente, e um Pai nosso.

 

A TERCEIRA CONTEMPLAÇÃO  SERÁ A REPETIÇÃO  DO PRIMEIRO E DO SEGUNDO EXERCÍCIO

118 Depois da oração preparatória e dos três preâmbulos, se fará a repetição do primeiro e segundo exercício, notando sempre algumas passagens mais importantes, onde a pessoa tenha sentido algum conhecimento, consolação ou desolação; fazendo também um colóquio, ao fim, e rezando um Pai nosso [62].

119 Nota. Nesta repetição e em todas as seguintes, se observará a mesma ordem de proceder que nas repetições da primeira semana, mudando a matéria e conservando-se a forma.

 

QUARTA CONTEMPLAÇÃO

120 Será outra repetição da Primeira e da Segunda da mesma maneira que se fez na repetição anterior

 

QUINTA CONTEMPLAÇÃO

121 Será aplicar os cinco sentidos sobre a primeira e segunda contemplação.

Depois da oração preparatória e dos três preâmbulos, aproveita passar os cinco sentidos da imaginação pela primeira e segunda contemplação, da maneira seguinte:

122 Primeiro ponto. Ver as pessoas, com a vista imaginativa, meditando e contemplando em particular as suas circunstâncias, e tirando algum proveito desta vista.

123 Segundo ponto. Ouvir, com o ouvido, o que falam ou podem falar; e, refletindo em si mesmo, tirar disso algum proveito.

124 Terceiro ponto. Aspirar e saborear, com o olfato e com o gosto, a infinita suavidade e doçura da divindade, da alma e das suas virtudes e de tudo, conforme a pessoa que se contempla. Refletir em si mesmo e tirar proveito disso.

125 Quarto ponto. Tocar, com o tacto, por exemplo, abraçar e beijar os lugares que essas pessoas pisam e onde se sentam; sempre procurando tirar proveito disso.

126 Colóquio. Como na primeira e segunda contemplação [109, 117], e com um Pai nosso.

127 Primeira nota.É de advertir, para toda esta semana e as outras seguintes, que só tenho de ler o mistério da contemplação que imediatamente tenho de fazer, de maneira que, por então, não leia nenhum mistério que naquele dia ou naquela hora não haja de fazer, para que a consideração de um mistério não estorve à consideração do outro [11].

128 Segunda nota. Escalonamento da oração. O primeiro exercício da Encarnação se fará à meia noite; o segundo, ao amanhecer; o terceiro, à hora da missa; o quarto, à hora de vésperas, e o quinto, antes da hora de jantar, estando, por espaço de uma hora, em cada um dos cinco exercícios [12, 72, 133, 148, 159]; e a mesma ordem se terá em tudo o que vai seguir.

129 Terceira nota. É de advertir que, se a pessoa que faz os Exercícios é idosa ou débil, ou se, ainda que forte, ficou de alguma maneira debilitada da primeira semana, é melhor que, nesta Segunda semana, ao menos algumas vezes, não se levantando à meia-noite, faça, pela manhã, uma contemplação, e outra à hora da missa, e outra antes de almoçar, e, sobre elas, uma repetição à hora de vésperas, e depois a aplicação de sentidos antes de jantar.

130 Quarta nota. Nesta segunda semana, em todas as dez adições que se expuseram na primeira semana, se hão de mudar a segunda, a sexta, a sétima e a décima [74, 78, 79, 82].

Na segunda será: logo ao despertar, pôr diante de mim a contemplação que tenho de fazer, desejando conhecer mais o Verbo eterno encarnado para mais o servir e seguir.

E a sexta será: trazer à memória, freqüentemente, a vida e mistérios de Cristo nosso Senhor, começando da sua Encarnação até ao lugar ou mistério que vou contemplando.

E a sétima será que a pessoa que se exercita tanto se deve guardar de ter obscuridade ou claridade, usar de boas temperaturas ou diversas, quanto sentir que isso lhe pode aproveitar e ajudar para achar o que deseja.

E na décima adição, o que se exercita deve haver-se conforme os mistérios que contempla; porque alguns pedem penitência e outros não. De maneira que se façam todas as dez adições, com muito cuidado.

131 Quinta nota. Em todos os exercícios, exceto no da meia noite e no da manhã, se tomará o equivalente da segunda adição [74], da maneira que se segue: logo que me recorde que é hora do exercício que tenho de fazer, antes de ir a ele, porei diante mim aonde vou e diante de quem, resumindo um pouco o exercício que tenho de fazer e, depois, fazendo a terceira adição, entrarei no exercício.

 

Segundo Dia.

132.- Tomar por primeira e segunda contemplação a apresentação no templo [268], e a fuga como em desterro para o Egito [269]; e sobre estas duas contemplações se farão duas repetições e a aplicação dos cinco sentidos, da mesma maneira que se fez no dia precedente.

133 Nota. Algumas vezes aproveita, ainda que o que se exercita esteja robusto e disposto, mudar, desde este segundo dia até ao quarto inclusive, para melhor achar o que deseja, tomando só uma contemplação, ao amanhecer, e outra, à hora da missa, e repetir sobre elas, à hora da vésperas, e aplicar os sentidos, antes de jantar.

 

Terceiro Dia

134 Como o menino Jesus era obediente a seus pais em Nazaré [271], e depois como o acharam no templo [272]; e assim, em seguida, fazer as duas repetições e a aplicação dos cinco sentidos.

 

INTRODUÇÃO AO DISCERNIMENTO DE APELOS

135 Preâmbulo para considerar estados. Considerado já o exemplo que Cristo nosso Senhor nos deu para o primeiro estado, que consiste na guarda dos mandamentos, vivendo ele em obediência a seus pais; assim como também para o segundo, que é de perfeição evangélica, quando ficou no templo, deixando a seu pai adotivo e a sua mãe natural, para se entregar a puro serviço de seu Pai eternal, juntamente com a contemplação da sua vida, começaremos agora a investigar e a pedir em que vida ou estado de nós se quer servir Sua Divina Majestade. E assim, para alguma introdução a isso, no primeiro exercício seguinte, veremos a intenção de Cristo nosso Senhor e, em contrário, a do inimigo da natureza humana; e como nos devemos dispor, para chegar à perfeição em qualquer estado ou vida que Deus nosso Senhor nos der a escolher.

Quarto dia

136 Meditação da parábola de duas bandeiras, uma, a de Cristo, sumo capitão e Senhor nosso, outra, a de Lúcifer, mortal inimigo da nossa natureza humana.

Oração preparatória. A habitual [46].

137 Primeiro preâmbulo é a história. Será aqui como Cristo chama e quer a todos debaixo de sua bandeira, e Lúcifer, ao contrário, debaixo da sua.

138 Segundo preâmbulo, composição, vendo o lugar. Será aqui ver um grande campo de toda aquela região de Jerusalém, onde o sumo capitão general dos bons é Cristo nosso Senhor; outro campo na região de Babilônia, onde o caudilho dos inimigos é Lúcifer.

139 Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; e será aqui pedir conhecimento dos enganos do mau caudilho, e ajuda para deles me guardar; e conhecimento da vida verdadeira que mostra o sumo e verdadeiro capitão, e graça para o imitar.

140 Primeiro ponto. Imaginar assim como se assentasse o caudilho de todos os inimigos naquele grande campo de Babilônia, como que numa grande cátedra de fogo e fumo, em figura horrível e espantosa.

141 Segundo ponto. Considerar como faz chamamento de inumeráveis demônios e como os espalha, a uns numa cidade e a outros noutra, e assim por todo o mundo, não deixando províncias, lugares, estados nem pessoas algumas em particular.

142 Terceiro ponto. Considerar o sermão que lhes faz e como os admoesta a lançar redes e cadeias; que primeiro hão de tentar com cobiça de riquezas, como costuma, a maior parte das vezes, para que mais facilmente venham a vã honra do mundo e, depois, a grande soberba. De maneira que o primeiro escalão seja de riquezas, o segundo de honra, o terceiro de soberba, e destes três escalões induz a todos os outros vícios.

143 Assim, pelo contrário, se há de imaginar do sumo e verdadeiro capitão, que é Cristo nosso Senhor.

144 Primeiro ponto. Considerar como Cristo nosso Senhor se apresenta num grande campo daquela região de Jerusalém, em lugar humilde, formoso e gracioso.

145 Segundo ponto. Considerar como o Senhor de todo o mundo escolhe tantas pessoas, apóstolos, discípulos, etc., e os envia por todo o mundo a espalhar a sua sagrada doutrina por todos os estados e condições de pessoas.

146 Terceiro ponto. Considerar o sermão que Cristo nosso Senhor faz a todos os seus servos e amigos, que envia a esta expedição, encomendando-lhes que queiram ajudar e trazer a todos, primeiro a suma pobreza espiritual, e, se sua divina majestade for servida e os quiser escolher, não menos à pobreza atual; segundo, ao desejo de opróbrios e desprezos, porque destas duas coisas se segue a humildade; de maneira que sejam três os escalões: o primeiro, pobreza contra riqueza; o segundo, opróbrio ou desprezo contra a honra mundana; o terceiro, humildade contra a soberba; e destes três escalões induzam a todas as outras virtudes.

147 Colóquio. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho e Senhor, para que eu seja recebido debaixo de sua bandeira, e primeiro em suma pobreza espiritual, e, se sua divina majestade for servido e me quiser escolher e receber, não menos na pobreza atual; segundo, em passar opróbrios e injúrias, para mais nelas o imitar, contanto que as possa passar sem pecado de nenhuma pessoa nem desprazer de sua divina majestade; e, depois disto, uma ave-maria.  Segundo colóquio. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; e, depois disto, dizer Alma de Cristo. Terceiro colóquio. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; e dizer um Pai nosso.

148 Nota. Este Exercício se fará à meia noite, e depois, outra vez, pela manhã; e, deste mesmo, se farão duas repetições, à hora da missa e à hora de vésperas; acabando sempre com os três colóquios, a Nossa Senhora, ao Filho e ao Pai. E o dos Binários, que se segue, à hora antes de jantar.

149 No mesmo Quarto Dia, faça-se a meditação da parábola de três binários de homens, para abraçar o melhor. Oração preparatória, a habitual [46].

150 Primeiro preâmbulo. É é a história de três binários de homens: cada um deles adquiriu dez mil ducados, não pura ou devidamente por amor de Deus, e querem todos salvar-se e achar em paz a Deus nosso Senhor, tirando de si o peso e impedimento que têm, para isso, na afeição à coisa adquirida.

151 Segundo preâmbulo. Composição, vendo o lugar: será aqui ver-me a mim mesmo, como estou diante de Deus nosso Senhor e de todos os seus santos, para desejar e conhecer o que seja mais grato à sua divina bondade.

152 Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero. Aqui será pedir graça para escolher o que for mais para glória de sua divina majestade e salvação de minha alma.

153 Primeiro binário. Tirar o afeto que tem à coisa adquirida, para achar em paz a Deus nosso Senhor e saber-se salvar, e não põe os meios até à hora da morte.

154 Segundo binário. Tirar o afeto, mas de tal modo o quer tirar que fique com a coisa adquirida, de maneira que venha Deus ali aonde ele quer, e não se determina a deixála para ir a Deus, ainda que este fosse o melhor estado para ele.

155 O Terceiro binário. Tirar o afeto, mas de tal modo o quer tirar que também não tem afeição a ter a coisa adquirida ou não a ter, mas somente deseja querê-la ou não a querer, conforme Deus nosso Senhor lhe puser na vontade, e a si lhe parecer melhor para serviço e louvor de sua divina majestade; e, entretanto, quer fazer de conta que tudo deixa afetivamente, esforçando-se por não querer aquilo nem nenhuma outra coisa, se não o mover somente o serviço de Deus nosso Senhor; de maneira que o desejo de melhor poder servir a Deus nosso Senhor o mova a tomar a coisa ou a deixá-la.

156 Fazer os mesmos três colóquios que se fizeram na contemplação precedente das Duas Bandeiras [147].

157 Nota. É de notar que, quando nós sentimos afeto ou repugnância contra a pobreza atual, quando não somos indiferentes a pobreza ou riqueza, muito aproveita, para extinguir o tal afeto desordenado, pedir nos colóquios (ainda que seja contra a carne) que o Senhor o escolha para a pobreza atual; e que ele assim o quer, pede e suplica, contanto que seja para serviço e louvor da sua divina bondade [16].

 

CONTEMPLAÇÃO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS

Quinto Dia

158 Contemplação sobre a partida de cristo nosso senhor desde Nazaré ao rio Jordão, e como foi batizado [273].

159 Primeira nota. Esta contemplação se fará uma vez à meia-noite, e outra vez pela manhã; e sobre ela duas repetições, à hora de Missa e de Vésperas; e, antes de jantar, aplicar sobre ela os cinco sentidos; antes de cada um destes cinco exercícios, antepor a habitual oração preparatória [101] e os três preâmbulos [102-104], conforme sobre tudo isto está declarado na contemplação da Encarnação e do Nascimento, e acabar com os três colóquios dos Três Binários [156,147], ou segundo a nota que vem depois dos Binários [157].

160 Segunda nota. O exame particular, depois do almoço e depois do jantar, se fará sobre as faltas e negligências tidas nos exercícios e adições deste dia; e assim também nos dias que se seguem.

 

Sexto dia

161 Contemplação como Cristo Nosso Senhor foi desde o rio jordão ao deserto, inclusive [274], seguindo em tudo a mesma forma do quinto dia.

 

Sétimo Dia

Como Santo André e outros seguiram a Cristo Nosso Senhor [275].

 

Oitavo dia

O sermão da montanha, que é sobre as oito bem-aventuranças [278].

 

Nono dia

Como Cristo nosso Senhor apareceu aos seus discípulos sobre as ondas do mar [280].

 

Décimo Dia

Como o Senhor pregava no templo [288].

 

Décimo Primeiro Dia

A ressurreição de Lázaro [285].

 

Décimo Segundo Dia

O dia de Ramos [287].

162 Primeira nota. Nas contemplações desta segunda semana, conforme cada um quiser dispor do tempo ou conforme lhe aproveitar, pode prolongar ou abreviar. Se prolongar, tome os mistérios da Visitação de nossa Senhora a santa Isabel, os Pastores, a circuncisão do Menino Jesus, e os três Reis, e também outros. E, se abreviar, tirar mesmo dos que estão propostos. Porque isto é só dar uma introdução e modo para, depois, melhor e mais completamente contemplar.

 

ELEIÇÃO DE OPÇÕES A TOMAR

A. Momento de a iniciar

163 Segunda nota. A matéria das eleições começará, desde a contemplação de Nazaré ao Jordão, inclusive, que é o quinto dia, conforme se declara adiante (169-189).

B. Princípio e fundamento de humildade

164 Terceira nota. Antes de entrar nas eleições, para a pessoa se afeiçoar à verdadeira doutrina de Cristo nosso Senhor, aproveita muito considerar e advertir nas seguintes:

Três maneiras de Humildade, considerando sobre elas, aos poucos, durante todo o dia, e também fazendo os colóquios, como adiante se dirá [168].

165 Primeira. Necessária para a salvação eterna, a saber: que assim me abata e assim me humilhe, quanto em mim seja possível, para que em tudo obedeça à lei de Deus nosso Senhor, de tal sorte que, nem que me fizessem senhor de todas as coisas criadas neste mundo, nem pela própria vida temporal, eu nem esteja a deliberar se hei de infringir um mandamento, quer divino quer humano, que me obrigue a pecado mortal.

166 Segunda. É uma humildade mais perfeita que a primeira, a saber: se eu me acho em tal ponto que não quero nem me apego mais a ter riqueza que pobreza, a querer honra que desonra, a desejar vida longa que curta, sendo igual serviço de Deus nosso Senhor e salvação da minha alma; e, a tal ponto que, nem por tudo o criado, nem que me tirassem a vida, eu não esteja a deliberar se hei de cometer um pecado venial.

167 Terceira. É uma humildade perfeita, a saber: quando, incluindo a primeira e a segunda, sendo igual louvor e glória da divina majestade, para imitar e parecer-me mais atualmente com Cristo nosso Senhor, eu quero e escolho antes pobreza com Cristo pobre que riqueza; desprezos com Cristo cheio deles que honras; e desejo mais ser tido por insensato e louco por Cristo que primeiro foi tido por tal, que por sábio ou prudente neste mundo.

168 Nota. Assim, para quem deseja alcançar esta terceira humildade, muito aproveita fazer os três colóquios dos Binários, já mencionados [156; 147], pedindo que nosso Senhor o queira escolher para esta terceira maior e melhor humildade, para mais o imitar e servir, se for igual ou maior serviço e louvor para sua divina majestade.

C. Preâmbulos de abordagem

169 – Preâmbulo para fazer eleição. Em toda a boa eleição, quanto é da nossa parte, o olhar da nossa intenção deve ser simples, tendo somente em vista o fim para que sou criado, a saber, para louvor de Deus nosso Senhor e salvação da minha alma; e assim, qualquer coisa que eu eleger deve ser para que me ajude para o fim para que sou criado, não subordinando nem fazendo vir o fim ao meio, mas o meio ao fim. Assim, acontece que muitos elegem primeiro casar-se, o que é meio, e em segundo lugar, servir a Deus nosso Senhor no casamento, quando servir a Deus é fim. Assim também, há outros que, primeiro querem ter benefícios e, depois, servir a Deus neles [cf. 16; 157]. De maneira que estes não vão direitos a Deus, mas querem que Deus venha direito às suas afeições desordenadas e, por conseguinte, fazem do fim meio e do meio fim; de sorte que o que haviam de pôr primeiro, põem por último. Porque, primeiro, havemos de propor como objetivo querer servir a Deus, que é o fim [179] e, em segundo lugar, tomar um benefício ou casar-me, se mais me convém, que é o meio para o fim. Assim, nenhuma coisa me deve mover a tomar os tais meios ou a privar-me deles, senão somente o serviço e louvor de Deus nosso Senhor e a salvação eterna de minha alma.

Preâmbulo para tomar conhecimento de que coisas se deve fazer eleição e compreende quatro pontos e uma nota.

170 Primeiro ponto. É necessário que todas as coisas das quais queremos fazer eleição sejam indiferentes ou boas em si mesmas e que militem dentro da Santa Mãe Igreja hierárquica, e não sejam más nem contrárias a ela.

171 Segundo ponto. Há umas coisas que caem sob o âmbito de eleição imutável, como são o sacerdócio, o matrimônio, etc; há outras que caem sob o âmbito de eleição mudável, como o tomar benefícios ou deixá-los, o tomar bens temporais ou renunciar-lhes.

172 Terceiro ponto. Na eleição imutável, uma vez feita a eleição, não há mais que eleger, porque não se pode desatar, como é o matrimônio, o sacerdócio, etc. Só é de atender a que, se não se fez a eleição devida e ordenadamente, sem afeições desordenadas, arrependendose, procure fazer boa vida na sua eleição; essa eleição não parece que seja vocação divina, por ser eleição desordenada e oblíqua. Com efeito, muitos nisto erram, fazendo de oblíqua ou de má eleição vocação divina; porque toda a vocação divina é sempre pura e límpida, sem mistura vinda da carne nem de outra afeição alguma desordenada.

173 Quarto ponto. Se alguém fez, devida e ordenadamente, eleição de coisas que estão no âmbito de eleição mudável, e não condescendeu com a carne nem com o mundo, não há motivo para, de novo, fazer eleição, mas sim se aperfeiçoar naquela que fez, quanto puder.

174 Nota. É de advertir que, se essa eleição mudável não se fez sincera e bem ordenada, então, quem tiver desejo que de si saiam frutos notáveis e muito agradáveis a Deus nosso Senhor, aproveita em fazer a eleição devidamente.

1.- Eleição de estado de vida

"Tempos" ou estados de alma

175 – Três tempos para fazer sã e boa eleição em cada um deles o primeiro tempo é quando Deus nosso Senhor move e atrai a vontade de tal modo que, sem duvidar nem poder duvidar, a alma devota segue o que lhe é mostrado. Assim fizeram, por exemplo, S. Paulo e S. Mateus, ao seguirem a Cristo nosso Senhor.

176 – O segundo tempo é quando se recebe suficiente clareza e conhecimento por experiência de consolações e desolações e por experiência de discernimento de vários espíritos.

177 – O terceiro tempo é tranqüilo, considerando primeiro para que nasceu o homem, a saber, para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a sua alma; e, desejando isto, escolhe, como meio, uma vida ou estado dos que a Igreja aprova, a fim de ser ajudado no serviço de seu Senhor e salvação de sua alma. Disse tempo tranqüilo, quando a alma não é agitada por vários espíritos e usa de suas potências naturais, livres e tranqüilamente.

178 – Se no primeiro ou segundo tempo não se faz eleição, seguem-se dois modos para a fazer neste

Terceiro Tempo [177].

O Primeiro modo para fazer sã e boa eleição compreende seis pontos:

O primeiro ponto é propor diante de mim a coisa sobre a qual quero fazer eleição, como, por exemplo, um ofício ou benefício a tomar ou deixar, ou qualquer outra coisa compreendida no âmbito de eleição mudável.

179 – Segundo ponto. É preciso ter como objetivo o fim para que sou criado, que é para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a minha alma; e, além disso, achar-me indiferente [23], sem afeição alguma desordenada, de maneira que não esteja mais inclinado nem afeiçoado a tomar a coisa proposta do que a deixá-la, nem mais a deixá-la que a Tomá-la; mas que esteja no meio, como o fiel da balança, a fim de seguir aquilo que julgar ser para mais glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de minha alma [169].

180 – Terceiro ponto. Pedir a Deus nosso Senhor queira mover a minha vontade e pôr em minha alma o que devo fazer, quanto à coisa proposta, que mais seja para seu louvor e glória; discorrendo bem e fielmente, com o meu entendimento, e escolhendo conforme a sua santíssima e beneplácita vontade.

181 – Quarto ponto. Considerar raciocinando, quantas vantagens ou proveitos para mim se seguem, com ter o cargo ou benefício proposto, só para louvor de Deus nosso Senhor e salvação de minha alma; e, pelo contrário, considerar também os inconvenientes e perigos que há em tê-lo. Fazer o mesmo na segunda parte, a saber, ver as vantagens e proveitos em o não ter; e também, os inconvenientes e perigos em o não ter.

182 - Quinto ponto. Depois de assim ter discorrido e refletido, sobre todos os aspectos do assunto proposto, ver para onde a razão mais se inclina; e, assim, conforme a maior moção racional, e não conforme moção alguma da sensibilidade, se deve fazer a deliberação sobre o assunto proposto.

183 – Sexto ponto. Feita a eleição ou deliberação, deve a pessoa que a fez, ir, com muita diligência, à oração diante de Deus nosso Senhor, e oferecer-lhe essa eleição, para que sua divina majestade a queira receber e confirmar, se forem para seu maior serviço e louvor.

184 – O Segundo modo para fazer sã e boa eleição compreende quatro regras e uma nota [338-341].

A Primeira regra é que aquele amor que me move e me faz eleger tal coisa desça do alto, do amor de Deus; de forma que quem elege, sinta primeiro em si, que o amor maior ou menor que tem à coisa que elege é unicamente por seu Criador e Senhor.

185 – A Segunda regra é imaginar um homem a quem nunca tenha visto nem conhecido, e desejando-lhe eu toda a sua perfeição, considerar o que eu lhe diria que fizesse e elegesse para maior glória de Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma; e, fazendo eu da mesma maneira, guardarei a regra que para o outro proponho.

186 – A Terceira regra é considerar, como se estivesse em artigo de morte, a forma e a norma de proceder que então quereria ter tido, no modo de fazer a presente eleição; e, regulando-me por ela, em tudo, faça a minha determinação.

187 – A Quarta regra é, atendendo e considerando como me acharei no dia do juízo, pensar como então quereria ter deliberado sobre o assunto presente; e, a regra que então quereria ter tido, tomá-la agora, para que então me ache com inteiro prazer e gozo.

188 Nota. Tomadas as regras sobreditas para minha salvação e quietude eterna, farei a minha eleição e oblação a Deus nosso Senhor, conforme ao sexto ponto do primeiro modo de fazer eleição [183].

2. Eleição de outras opções para a santidade de vida dentro do seu estado

189 Para emendar e reformar a própria vida e estado. É de advertir que, para os que estão constituídos em sacerdócio ou em matrimônio (quer abundem muito em bens temporais quer não), quando não há lugar ou muito pronta vontade para fazer eleição das coisas que caem sob eleição mudável [170-172], aproveita muito, em lugar de fazer eleição, dar forma e modo para emendar e reformar a própria vida e estado de cada um; a saber: ordenando o seu mundo, vida e estado, para glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de sua alma. Para vir e chegar a este fim, deve considerar e ruminar muito, por meio dos exercícios e modos de eleger, conforme está declarado [164-188], quanta casa e família deve ter, como a deve reger e governar, como a deve ensinar, com a palavra e com o exemplo; do mesmo modo, de seus bens, quanto deve tomar para sua família e casa, e quanto para despender com os pobres e com outras obras pias [337-344], não querendo nem buscando nenhuma outra coisa senão, em tudo e por tudo, maior louvor e glória de Deus nosso Senhor. Porque pense cada um que tanto aproveitará em todas as coisas espirituais, quanto sair de seu próprio amor, querer e interesse.

Wednesday 3 April 2024

Good Reading: "The Father and His Two Daughters" by Aesop (translated into English)

 

A Man had two daughters, the one married to a gardener, and the other to a tile-maker. After a time he went to the daughter who had married the gardener, and inquired how she was and how all things went with her. She said, "All things are prospering with me, and I have only one wish, that there may be a heavy fall of rain, in order that the plants may be well watered." Not long after, he went to the daughter who had married the tilemaker, and likewise inquired of her how she fared; she replied, "I want for nothing, and have only one wish, that the dry weather may continue, and the sun shine hot and bright, so that the bricks might be dried." He said to her, "If your sister wishes for rain, and you for dry weather, with which of the two am I to join my wishes?' 

Tuesday 2 April 2024

Tuesday's Serial: “Lavengro” by George Borrow (in English) - VIII

 

Chapter 15

monsieur dante—condemned musket—sporting—sweet rivulet—the earl's home—the pool—the sonorous voice—what dost thou read?—the man of peace—of zohar and mishna—the money-changers

 

So I studied French and Italian under the tuition of the banished priest, to whose house I went regularly every evening to receive instruction. I made considerable progress in the acquisition of the two languages. I found the French by far the most difficult, chiefly on account of the accent, which my master himself possessed in no great purity, being a Norman by birth. The Italian was my favourite.

'Vous serez un jour un grand philologue, mon cher,' said the old man, on our arriving at the conclusion of Dante's Hell.

'I hope I shall be something better,' said I, 'before I die, or I shall have lived to little purpose.'

'That's true, my dear! philologist—one small poor dog. What would you wish to be?'

'Many things sooner than that; for example, I would rather be like him who wrote this book.'

'Quoi, Monsieur Dante? He was a vagabond, my dear, forced to fly from his country. No, my dear, if you would be like one poet, be like Monsieur Boileau; he is the poet.'

'I don't think so.'

'How, not think so? He wrote very respectable verses; lived and died much respected by everybody. T'other, one bad dog, forced to fly from his country—died with not enough to pay his undertaker.'

'Were you not forced to flee from your country?'

'That very true; but there is much difference between me and this Dante. He fled from country because he had one bad tongue which he shook at his betters. I fly because benefice gone, and head going; not on account of the badness of my tongue.'

'Well,' said I, 'you can return now; the Bourbons are restored.'

'I find myself very well here; not bad country. Il est vrai que la France sera toujours la France; but all are dead there who knew me. I find myself very well here. Preach in popish chapel, teach schismatic, that is Protestant, child tongues and literature. I find myself very well; and why? Because I know how to govern my tongue; never call people hard names. Ma foi, il y a beaucoup de différence entre moi et ce sacre de Dante.'

Under this old man, who was well versed in the southern languages, besides studying French and Italian, I acquired some knowledge of Spanish. But I did not devote my time entirely to philology; I had other pursuits. I had not forgotten the roving life I had led in former days, nor its delights; neither was I formed by Nature to be a pallid indoor student. No, no! I was fond of other and, I say it boldly, better things than study. I had an attachment to the angle, ay, and to the gun likewise. In our house was a condemned musket, bearing somewhere on its lock, in rather antique characters, 'Tower, 1746'; with this weapon I had already, in Ireland, performed some execution among the rooks and choughs, and it was now again destined to be a source of solace and amusement to me, in the winter season, especially on occasions of severe frost when birds abounded. Sallying forth with it at these times, far into the country, I seldom returned at night without a string of bullfinches, blackbirds, and linnets hanging in triumph round my neck. When I reflect on the immense quantity of powder and shot which I crammed down the muzzle of my uncouth fowling-piece, I am less surprised at the number of birds which I slaughtered than that I never blew my hands, face, and old honeycombed gun, at one and the same time, to pieces.

But the winter, alas! (I speak as a fowler) seldom lasts in England more than three or four months; so, during the rest of the year, when not occupied with my philological studies, I had to seek for other diversions. I have already given a hint that I was also addicted to the angle. Of course there is no comparison between the two pursuits, the rod and line seeming but very poor trumpery to one who has had the honour of carrying a noble firelock. There is a time, however, for all things; and we return to any favourite amusement with the greater zest, from being compelled to relinquish it for a season. So, if I shot birds in winter with my firelock, I caught fish in summer, or attempted so to do, with my angle. I was not quite so successful, it is true, with the latter as with the former; possibly because it afforded me less pleasure. It was, indeed, too much of a listless pastime to inspire me with any great interest. I not unfrequently fell into a doze, whilst sitting on the bank, and more than once let my rod drop from my hands into the water.

At some distance from the city, behind a range of hilly ground which rises towards the south-west, is a small river, the waters of which, after many meanderings, eventually enter the principal river of the district, and assist to swell the tide which it rolls down to the ocean. It is a sweet rivulet, and pleasant is it to trace its course from its spring-head, high up in the remote regions of Eastern Anglia, till it arrives in the valley behind yon rising ground; and pleasant is that valley, truly a goodly spot, but most lovely where yonder bridge crosses the little stream. Beneath its arch the waters rush garrulously into a blue pool, and are there stilled, for a time, for the pool is deep, and they appear to have sunk to sleep. Farther on, however, you hear their voice again, where they ripple gaily over yon gravelly shallow. On the left, the hill slopes gently down to the margin of the stream. On the right is a green level, a smiling meadow, grass of the richest decks the side of the slope; mighty trees also adorn it, giant elms, the nearest of which, when the sun is nigh its meridian, fling a broad shadow upon the face of the pool; through yon vista you catch a glimpse of the ancient brick of an old English hall. It has a stately look, that old building, indistinctly seen, as it is, among those umbrageous trees; you might almost suppose it an earl's home; and such it was, or rather upon its site stood an earl's home, in days of old, for there some old Kemp, some Sigurd or Thorkild, roaming in quest of a hearthstead, settled down in the grey old time, when Thor and Freya were yet gods, and Odin was a portentous name. Yon old hall is still called the Earl's Home, though the hearth of Sigurd is now no more, and the bones of the old Kemp, and of Sigrith his dame, have been mouldering for a thousand years in some neighbouring knoll; perhaps yonder, where those tall Norwegian pines shoot up so boldly into the air. It is said that the old earl's galley was once moored where is now that blue pool, for the waters of that valley were not always sweet; yon valley was once an arm of the sea, a salt lagoon, to which the war-barks of 'Sigurd, in search of a home,' found their way.

I was in the habit of spending many an hour on the banks of that rivulet, with my rod in my hand, and, when tired with angling, would stretch myself on the grass, and gaze upon the waters as they glided past, and not unfrequently, divesting myself of my dress, I would plunge into the deep pool which I have already mentioned, for I had long since learned to swim. And it came to pass that on one hot summer's day, after bathing in the pool, I passed along the meadow till I came to a shallow part, and, wading over to the opposite side, I adjusted my dress, and commenced fishing in another pool, beside which was a small clump of hazels.

And there I sat upon the bank, at the bottom of the hill which slopes down from 'the Earl's home'; my float was on the waters, and my back was towards the old hall. I drew up many fish, small and great, which I took from off the hook mechanically, and flung upon the bank, for I was almost unconscious of what I was about, for my mind was not with my fish. I was thinking of my earlier years—of the Scottish crags and the heaths of Ireland—and sometimes my mind would dwell on my studies—on the sonorous stanzas of Dante, rising and falling like the waves of the sea—or would strive to remember a couplet or two of poor Monsieur Boileau.

'Canst thou answer to thy conscience for pulling all those fish out of the water, and leaving them to gasp in the sun?' said a voice, clear and sonorous as a bell.

I started, and looked round. Close behind me stood the tall figure of a man, dressed in raiment of quaint and singular fashion, but of goodly materials. He was in the prime and vigour of manhood; his features handsome and noble, but full of calmness and benevolence; at least I thought so, though they were somewhat shaded by a hat of finest beaver, with broad drooping eaves.

'Surely that is a very cruel diversion in which thou indulgest, my young friend?' he continued.

'I am sorry for it, if it be, sir,' said I, rising; 'but I do not think it cruel to fish.'

'What are thy reasons for not thinking so?'

'Fishing is mentioned frequently in Scripture. Simon Peter was a fisherman.'

'True; and Andrew and his brother. But thou forgettest: they did not follow fishing as a diversion, as I fear thou doest.—Thou readest the Scriptures?'

'Sometimes.'

'Sometimes?—not daily?—that is to be regretted. What profession dost thou make?—I mean to what religious denomination dost thou belong, my young friend?'

'Church.'

'It is a very good profession—there is much of Scripture contained in its liturgy. Dost thou read aught besides the Scriptures?'

'Sometimes.'

'What dost thou read besides?'

'Greek, and Dante.'

'Indeed! then thou hast the advantage over myself; I can only read the former. Well, I am rejoiced to find that thou hast other pursuits beside thy fishing. Dost thou know Hebrew?'

'No?'

'Thou shouldst study it. Why dost thou not undertake the study?'

'I have no books.'

'I will lend thee books, if thou wish to undertake the study. I live yonder at the hall, as perhaps thou knowest. I have a library there, in which are many curious books, both in Greek and Hebrew, which I will show to thee, whenever thou mayest find it convenient to come and see me. Farewell! I am glad to find that thou hast pursuits more satisfactory than thy cruel fishing.'

And the man of peace departed, and left me on the bank of the stream. Whether from the effect of his words, or from want of inclination to the sport, I know not, but from that day I became less and less a practitioner of that 'cruel fishing.' I rarely flung line and angle into the water, but I not unfrequently wandered by the banks of the pleasant rivulet. It seems singular to me, on reflection, that I never availed myself of his kind invitation. I say singular, for the extraordinary, under whatever form, had long had no slight interest for me; and I had discernment enough to perceive that yon was no common man. Yet I went not near him, certainly not from bashfulness or timidity, feelings to which I had long been an entire stranger. Am I to regret this? perhaps, for I might have learned both wisdom and righteousness from those calm, quiet lips, and my after-course might have been widely different. As it was, I fell in with other guess companions, from whom I received widely different impressions than those I might have derived from him. When many years had rolled on, long after I had attained manhood, and had seen and suffered much, and when our first interview had long since been effaced from the mind of the man of peace, I visited him in his venerable hall, and partook of the hospitality of his hearth. And there I saw his gentle partner and his fair children, and on the morrow he showed me the books of which he had spoken years before by the side of the stream. In the low quiet chamber, whose one window, shaded by a gigantic elm, looks down the slope towards the pleasant stream, he took from the shelf his learned books, Zohar and Mishna, Toldoth Jesu and Abarbenel. 'I am fond of these studies,' said he, 'which, perhaps, is not to be wondered at, seeing that our people have been compared to the Jews. In one respect I confess we are similar to them; we are fond of getting money. I do not like this last author, this Abarbenel, the worse for having been a money-changer. I am a banker myself, as thou knowest.'

And would there were many like him, amidst the money-changers of princes! The hall of many an earl lacks the bounty, the palace of many a prelate the piety and learning, which adorn the quiet Quaker's home!

 

 

Chapter 16

fair of horses—looks of respect—the fast trotter—pair of eyes—strange men—jasper, your pal—force of blood—the young lady with diamonds

 

I was standing on the castle hill in the midst of a fair of horses.

I have already had occasion to mention this castle. It is the remains of what was once a Norman stronghold, and is perched upon a round mound or monticle, in the midst of the old city. Steep is this mound and scarped, evidently by the hand of man; a deep gorge over which is flung a bridge, separates it, on the south, from a broad swell of open ground called 'the hill'; of old the scene of many a tournament and feat of Norman chivalry, but now much used as a show-place for cattle, where those who buy and sell beeves and other beasts resort at stated periods.

So it came to pass that I stood upon this hill, observing a fair of horses.

The reader is already aware that I had long since conceived a passion for the equine race; a passion in which circumstances had of late not permitted me to indulge. I had no horses to ride, but I took pleasure in looking at them; and I had already attended more than one of these fairs: the present was lively enough, indeed horse fairs are seldom dull. There was shouting and whooping, neighing and braying; there was galloping and trotting; fellows with highlows and white stockings, and with many a string dangling from the knees of their tight breeches, were running desperately, holding horses by the halter, and in some cases dragging them along; there were long-tailed steeds and dock-tailed steeds of every degree and breed; there were droves of wild ponies, and long rows of sober cart horses; there were donkeys, and even mules: the last rare things to be seen in damp, misty England, for the mule pines in mud and rain, and thrives best with a hot sun above and a burning sand below. There were—oh, the gallant creatures! I hear their neigh upon the wind; there were—goodliest sight of all—certain enormous quadrupeds only seen to perfection in our native isle, led about by dapper grooms, their manes ribanded and their tails curiously clubbed and balled. Ha! ha!—how distinctly do they say, ha! ha!

An old man draws nigh, he is mounted on a lean pony, and he leads by the bridle one of these animals; nothing very remarkable about that creature, unless in being smaller than the rest and gentle, which they are not; he is not of the sightliest look; he is almost dun, and over one eye a thick film has gathered. But stay! there is something remarkable about that horse, there is something in his action in which he differs from all the rest: as he advances, the clamour is hushed! all eyes are turned upon him—what looks of interest—of respect—and, what is this? people are taking off their hats—surely not to that steed! Yes, verily! men, especially old men, are taking off their hats to that one-eyed steed, and I hear more than one deep-drawn ah!

'What horse is that?' said I to a very old fellow, the counterpart of the old man on the pony, save that the last wore a faded suit of velveteen, and this one was dressed in a white frock.

'The best in mother England,' said the very old man, taking a knobbed stick from his mouth, and looking me in the face, at first carelessly, but presently with something like interest; 'he is old like myself, but can still trot his twenty miles an hour. You won't live long, my swain; tall and overgrown ones like thee never does; yet, if you should chance to reach my years, you may boast to thy great-grand-boys thou hast seen Marshland Shales.'

Amain I did for the horse what I would neither do for earl nor baron, doffed my hat; yes! I doffed my hat to the wondrous horse, the fast trotter, the best in mother England; and I too drew a deep ah! and repeated the words of the old fellows around. 'Such a horse as this we shall never see again; a pity that he is so old.'

Now during all this time I had a kind of consciousness that I had been the object of some person's observation; that eyes were fastened upon me from somewhere in the crowd. Sometimes I thought myself watched from before, sometimes from behind; and occasionally methought that, if I just turned my head to the right or left, I should meet a peering and inquiring glance; and indeed once or twice I did turn, expecting to see somebody whom I knew, yet always without success; though it appeared to me that I was but a moment too late, and that some one had just slipped away from the direction to which I turned, like the figure in a [[wikt|magic lantern|magic lanthorn}}. Once I was quite sure that there were a pair of eyes glaring over my right shoulder; my attention, however, was so fully occupied with the objects which I have attempted to describe, that I thought very little of this coming and going, this flitting and dodging of I knew not whom or what. It was, after all, a matter of sheer indifference to me who was looking at me. I could only wish whomsoever it might be to be more profitably employed; so I continued enjoying what I saw; and now there was a change in the scene, the wondrous old horse departed with his aged guardian; other objects of interest are at hand; two or three men on horseback are hurrying through the crowd, they are widely different in their appearance from the other people of the fair; not so much in dress, for they are clad something after the fashion of rustic jockeys, but in their look—no light-brown hair have they, no ruddy cheeks, no blue quiet glances belong to them; their features are dark, their locks long, black, and shining, and their eyes are wild; they are admirable horsemen, but they do not sit the saddle in the manner of common jockeys, they seem to float or hover upon it, like gulls upon the waves; two of them are mere striplings, but the third is a very tall man with a countenance heroically beautiful, but wild, wild, wild. As they rush along, the crowd give way on all sides, and now a kind of ring or circus is formed, within which the strange men exhibit their horsemanship, rushing past each other, in and out, after the manner of a reel, the tall man occasionally balancing himself upon the saddle, and standing erect on one foot. He had just regained his seat after the latter feat, and was about to push his horse to a gallop, when a figure started forward close from beside me, and laying his hand on his neck, and pulling him gently downward, appeared to whisper something into his ear; presently the tall man raised his head, and, scanning the crowd for a moment in the direction in which I was standing, fixed his eyes full upon me, and anon the countenance of the whisperer was turned, but only in part, and the side-glance of another pair of wild eyes was directed towards my face, but the entire visage of the big black man, half stooping as he was, was turned full upon mine.

But now, with a nod to the figure who had stopped him, and with another inquiring glance at myself, the big man once more put his steed into motion, and, after riding round the ring a few more times, darted through a lane in the crowd, and followed by his two companions disappeared, whereupon the figure who had whispered to him, and had subsequently remained in the middle of the space, came towards me, and, cracking a whip which he held in his hand so loudly that the report was nearly equal to that of a pocket pistol, he cried in a strange tone:

'What! the sap-engro? Lor! the sap-engro upon the hill!'

'I remember that word,' said I, 'and I almost think I remember you. You can't be—'

'Jasper, your pal! Truth, and no lie, brother.'

'It is strange that you should have known me,' said I. 'I am certain, but for the word you used, I should never have recognised you.'

'Not so strange as you may think, brother; there is something in your face which would prevent people from forgetting you, even though they might wish it; and your face is not much altered since the time you wot of, though you are so much grown. I thought it was you, but to make sure I dodged about, inspecting you. I believe you felt me, though I never touched you; a sign, brother, that we are akin, that we are dui palor—two relations. Your blood beat when mine was near, as mine always does at the coming of a brother; and we became brothers in that lane.'

'And where are you staying?' said I; 'in this town?'

'Not in the town; the like of us don't find it exactly wholesome to stay in towns, we keep abroad. But I have little to do here—come with me, and I'll show you where we stay.'

We descended the hill in the direction of the north, and passing along the suburb reached the old Norman bridge, which we crossed; the chalk precipice, with the ruin on its top, was now before us; but turning to the left we walked swiftly along, and presently came to some rising ground, which ascending, we found ourselves upon a wild moor or heath.

'You are one of them,' said I, 'whom people call—'

'Just so,' said Jasper; 'but never mind what people call us.'

'And that tall handsome man on the hill, whom you whispered? I suppose he's one of ye. What is his name?'

'Tawno Chikno,' said Jasper, 'which means the small one; we call him such because he is the biggest man of all our nation. You say he is handsome, that is not the word, brother; he's the beauty of the world. Women run wild at the sight of Tawno. An earl's daughter, near London—a fine young lady with diamonds round her neck—fell in love with Tawno. I have seen that lass on a heath, as this may be, kneel down to Tawno, clasp his feet, begging to be his wife—or anything else—if she might go with him. But Tawno would have nothing to do with her: “I have a wife of my own,” said he, “a lawful rommany wife, whom I love better than the whole world, jealous though she sometimes be.”'

'And is she very beautiful?' said I.

'Why, you know, brother, beauty is frequently a matter of taste; however, as you ask my opinion, I should say not quite so beautiful as himself.'

We had now arrived at a small valley between two hills, or downs, the sides of which were covered with furze; in the midst of this valley were various carts and low tents forming a rude kind of encampment; several dark children were playing about, who took no manner of notice of us. As we passed one of the tents, however, a canvas screen was lifted up, and a woman supported upon a crutch hobbled out. She was about the middle age, and, besides being lame, was bitterly ugly; she was very slovenly dressed, and on her swarthy features ill nature was most visibly stamped. She did not deign me a look, but, addressing Jasper in a tongue which I did not understand, appeared to put some eager questions to him.

'He's coming,' said Jasper, and passed on. 'Poor fellow,' said he to me, 'he has scarcely been gone an hour, and she's jealous already. Well,' he continued, 'what do you think of her? you have seen her now, and can judge for yourself—that 'ere woman is Tawno Chikno's wife!'