Saturday, 4 May 2024

Good Reading: "Relatório ao Governo do Estado de Alagoas" by Graciliano Ramos (in Portuguese)

 

Palmeira, 3 de janeiro de 1929.

 

MARÇAL JOSÉ OLIVEIRA

Secretário

 

Visto. — Palmeira, 8 de janeiro, 1929.

 

GRACILIANO RAMOS

 

Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios. — Relatório ao Governador de Alagoas. — Sr. Governador. — Esta exposição é talvez desnecessária. O balanço que remeto a V. Exa. mostra bem de que modo foi gasto em 1929 o dinheiro da Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios. E nas contas regularmente publicadas há pormenores abundantes, minudências que excitaram o espanto benévolo da imprensa.

Isto é, pois, uma reprodução de fatos que já narrei, com algarismo e prova de guarda-livros, em numerosos balancetes e nas relações que os acompanharam.

 

RECEITA — 96:924$985

No orçamento do ano passado houve supressão de várias taxas que existiam em 1928. A receita, entretanto, calculada em 68:850$000, atingiu 96:924$985.

E não empreguei rigores excessivos. Fiz apenas isto: extingui favores largamente concedidos a pessoas que não precisavam deles e pus termo às extorsões que afligiam os matutos de pequeno valor, ordinariamente raspados, escorchados, esbrugados pelos exatores.

Não me resolveria, é claro, a pôr em prática no segundo ano de administração a eqüidade que torna o imposto suportável. Adotei-a logo no começo. A receita em 1928 cresceu bastante. E se não chegou à soma agora alcançada é que me foram indispensáveis alguns meses para corrigir irregularidades muito sérias, prejudiciais à arrecadação.

 

DESPESA — 105:465$613

Utilizei parte das sobras existentes no primeiro balanço.

 

ADMINISTRAÇÃO — 22:667$748

Figuram 7:034$558 despendidos com a cobrança das rendas, 3:518$000 com a fiscalização e 2:400$000 pagos a um funcionário aposentado. Tenho seis cobradores, dois fiscais e um secretário.

Todos são mal remunerados.

 

GRATIFICAÇÕES — 1:560$000

Estão reduzidas.

 

CEMITÉRIO — 243$000

Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam.

 

ILUMINAÇÃO — 7:800$000

A Prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um bluff. Pagamos até a luz que a lua nos dá.

 

HIGIENE — 8:454$190

O estado sanitário é bom. O posto de higiene, instalado em 1928, presta serviços consideráveis à população. Cães, porcos e outros bichos incômodos não tornaram a aparecer nas ruas. A cidade está limpa.

 

INSTRUÇÃO — 2:886$180

Instituíram-se escolas em três aldeias: Serra da Mandioca, Anum e Canafístula. O Conselho mandou subvencionar uma sociedade aqui fundada por operários, sociedade que se dedica à educação de adultos.

Presumo que esses estabelecimentos são de eficiência contestável. As aspirantes a professoras revelaram, com admirável unanimidade, uma lastimosa ignorância. Escolhidas algumas delas, as escolas entraram a funcionar regularmente, como as outras.

Não creio que os alunos aprendam ali grande coisa. Obterão, contudo, a habilidade precisa para ler jornais e almanaques, discutir política e decorar sonetos, passatempos acessíveis a quase todos os roceiros.

 

UMA DÍVIDA ANTIGA — 5:210$000

Entregaram-me, quando entrei em exercício, 105$858 para saldar várias contas, entre elas uma de 5:210$000, relativa a mais de um semestre que deixaram de pagar à empresa fornecedora de luz.

 

VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS — 56:644$495

Os gastos com viação e obras públicas foram excessivos. Lamento, entretanto, não me haver sido possível gastar mais. Infelizmente a nossa pobreza é grande. E ainda que elevemos a receita ao dobro da importância que ela ordinariamente alcançava, e economizemos com avareza, muito nos falta realizar. Está visto que me não preocupei com todas as obras exigidas. Escolhi as mais urgentes.

Fiz reparos nas propriedades do Município, remendei as ruas e cuidei especialmente de viação.

Possuímos uma teia de aranha de veredas muito pitorescas, que se torcem em curvas caprichosas, sobem montes e descem vales de maneira incrível. O caminho que vai a Quebrangulo, por exemplo, original produto de engenharia tupi, tem lugares que só podem ser transitados por automóvel Ford e por lagartixa. Sempre me pareceu lamentável desperdício consertar semelhante porcaria.

 

ESTRADA PALMEIRA A SANT’ANA

Abandonei as trilhas dos caetés e procurei saber o preço duma estrada que fosse ter a Sant’Ana do Ipanema. Os peritos responderam que ela custaria aí uns seiscentos mil-réis ou sessenta contos. Decidi optar pela despesa avultada.

Os seiscentos mil-réis ficariam perdidos entre os barrancos que enfeitam um caminho atribuído ao defunto Delmiro Gouveia e que o Estado pagou com liberalidade: os sessenta contos, caso eu os pudesse arrancar ao povo, não serviriam talvez ao contribuinte, que, apertado pelos cobradores, diz sempre não ter encomendado obras públicas, mas a alguém haveriam de servir. Comecei os trabalhos em janeiro. Estão prontos vinte e cinco quilômetros. Gastei 26:871$930.

 

TERRAPLENO DA LAGOA

Este absurdo, este sonho de louco, na opinião de três ou quatro sujeitos que sabem tudo, foi concluído há meses.

Aquilo, que era uma furna lôbrega, tem agora, terminado o aterro, um declive suave. Fiz uma galeria para o escoamento das águas. O pântano que ali havia, cheio de lixo, excelente para a cultura de mosquitos, desapareceu. Deitei sobre as muralhas duas balaustradas de cimento armado. Não há perigo de se despenhar um automóvel lá de cima.

O plano que os técnicos indígenas consideravam impraticável era muito mais modesto.

Os gastos em 1929 montaram a 24:391$925.

 

SALDO — 2:504$319

Adicionando-se à receita o saldo existente no balanço passado e subtraindo-se a despesa, temos 2:504$319.

2:365$969 estão em caixa e 138$350 depositados no Banco Popular e Agrícola de Palmeira.

 

PRODUÇÃO

Dos administradores que me precederam uns dedicaram-se a obras urbanas; outros, inimigos de inovações, não se dedicaram a nada.

Nenhum, creio eu, chegou a trabalhar nos subúrbios.

Encontrei em decadência regiões outrora prósperas; terras aráveis entregues a animais, que nelas viviam quase em estado selvagem. A população minguada, ou emigrava para o Sul do país ou se fixava nos municípios vizinhos, nos povoados que nasciam perto das fronteiras e que eram para nós umas sanguessugas. Vegetavam em lastimável abandono alguns agregados humanos.

E o palmeirense afirmava, convicto, que isto era a princesa do sertão. Uma princesa, vá lá, mas princesa muito nua, muito madraça, muito suja e muito escavacada.

Favoreci a agricultura livrando-a dos bichos criados à toa; ataquei as patifarias dos pequeninos senhores feudais, exploradores da canalha; suprimi, nas questões rurais, a presença de certos intermediários, que estragavam tudo; facilitei o transporte; estimulei as relações entre o produtor e o consumidor.

Estabeleci feiras em cinco aldeias: 1:156$750 foram-se em reparos nas ruas de Palmeira de Fora.

Canafístula era um chiqueiro. Encontrei lá o ano passado mais de cem porcos misturados com gente. Nunca vi tanto porco.

Desapareceram. E a povoação está quase limpa. Tem mercado semanal, estrada de rodagem e uma escola.

 

MIUDEZAS

Não pretendo levar ao público a ideia de que os meus empreendimentos tenham vulto. Sei perfeitamente que são miuçalhas. Mas afinal existem. E, comparados a outros ainda menores, demonstraram que aqui pelo interior podem tentar-se coisas um pouco diferentes dessas invisíveis sem grande esforço de imaginação ou microscópio.

Quando iniciei a rodovia de Sant’Ana, a opinião de alguns munícipes era de que ela não prestava porque estava boa demais. Como se eles não a merecessem. E argumentavam. Se aquilo não era péssimo, com certeza sairia caro, não poderia ser executado pelo Município.

Agora mudaram de conversa. Os impostos cresceram, dizem.

Ou as obras públicas de Palmeira dos Índios são pagas pelo

Estado. Chegarei a convencer-me de que não fui eu que as realizei.

 

BONS COMPANHEIROS

Já estou convencido. Não fui eu, primeiramente porque o dinheiro despendido era do povo, em segundo lugar porque tornaram fácil a minha tarefa uns pobres homens que se esfalfam para não perder salários miseráveis.

Quase tudo foi feito por eles. Eu apenas teria tido o mérito de escolhê-los e vigiá-los, se nisto houvesse mérito.

 

MULTAS

Arrecadei mais de dois contos de réis de multas. Isto prova que as coisas não vão bem.

E não se esmerilharam contravenções. Pequeninas irregularidades passam despercebidas. As infrações que produziram soma considerável para um orçamento exíguo referem-se a prejuízos individuais e foram denunciadas pelas pessoas ofendidas, de ordinário gente miúda, habituada a sofrer a opressão dos que vão trepando.

Esforcei-me por não cometer injustiças. Isto não obstante, atiraram as multas contra mim como arma política. Com inabilidade infantil, de resto. Se eu deixasse em paz o proprietário que abre as cercas de um desgraçado agricultor e lhe transforma em pasto a lavoura, devia enforcar-me.

Sei bem que antigamente os agentes municipais eram zarolhos. Quando um infeliz se cansava de mendigar o que lhe pertencia, tomava uma resolução heroica: encomendava-se a Deus e ia à capital. E os prefeitos achavam razoável que os contraventores fossem punidos pelo sr. secretário do Interior, por intermédio da polícia.

 

REFORMADORES

O esforço empregado para dar ao Município o necessário é vivamente combatido por alguns pregoeiros de métodos administrativos originais. Em conformidade com eles, deveríamos proceder sempre com a máxima condescendência, não onerar os camaradas, ser rigorosos apenas com os pobres-diabos sem proteção, diminuir a receita, reduzir a despesa aos vencimentos dos funcionários, que ninguém vive sem comer, deixar esse luxo de obras públicas à Federação, ao Estado ou, em falta destes, à Divina Providência.

Belo programa. Não se faria nada, para não descontentar os amigos: os amigos que pagam, os que administram, os que hão de administrar. Seria ótimo. E existiria por preço baixo uma Prefeitura bode expiatório, magnífico assunto para commérage de lugar pequeno. 

 

POBRE POVO SOFREDOR

É uma interessante classe de contribuintes, módica em número, mas bastante forte. Pertencem a ela negociantes, proprietários, industriais, agiotas que esfolam o próximo com juros de judeu.

Bem-comido, bem-bebido, o pobre povo sofredor quer escolas, quer luz, quer estradas, quer higiene. É exigente e resmungão.

Como ninguém ignora que se não obtém de graça as coisas exigidas, cada um dos membros desta respeitável classe acha que os impostos devem ser pagos pelos outros.

 

PROJETOS

Tenho vários, de execução duvidosa. Poderei concorrer para o aumento da produção e, consequentemente, da arrecadação. Mas umas semanas de chuva ou de estiagem arruínam as searas, desmantelam tudo — e os projetos morrem.

Iniciarei, se houver recursos, trabalhos urbanos.

 Há pouco tempo, com a iluminação que temos, pérfida, dissimulavam-se nas ruas sérias ameaças à integridade das canelas imprudentes que por ali transitassem em noites de escuro.

Já uma rapariga aqui morreu afogada no enxurro. Uma senhora e uma criança, arrastadas por um dos rios que se formavam no centro da cidade, andaram rolando de cachoeira em cachoeira e danificaram na viagem braços, pernas, costelas e outros órgãos apreciáveis.

Julgo que, por enquanto, semelhantes perigos estão conjurados, mas dois meses de preguiça durante o inverno bastarão para que eles se renovem.

Empedrarei, se puder, algumas ruas.

Tenho também a ideia de iniciar a construção de açudes na zona sertaneja.

Mas para que semear promessas que não sei se darão frutos? Relatarei com pormenores os planos a que me referia quando eles estiverem executados, se isto acontecer.

Ficarei, porém, satisfeito se levar ao fim as obras que encetei. É uma pretensão moderada, realizável. Se não realizar, o prejuízo não será grande.

O Município, que esperou dois anos, espera mais um. Mete na Prefeitura um sujeito hábil e vinga-se dizendo de mim cobras e lagartos.

 

Paz e prosperidade.

 

Palmeira dos Índios, 11 de janeiro de 1930.

Friday, 3 May 2024

Friday's Sung Word: "Nênias" by Cândido das Neves (in Portuguese)

Murcharam no jardim os crisântemos,
As magnólias se despetalaram,
As rosas de perfume tão amenos
Sentindo tua ausência desmaiaram.
O vento agora passa soluçando,
As flores que morreram carregando,
O próprio vento entende a minha solidão
E a viuvez do meu dorido coração.

Aquele sabiá que na alvorada
Vinha te dar a matutina saudação,
Ao ver nossa choupana abandonada
Morreu, agonizando na garganta uma canção.
As próprias andorinhas irrequietas,
Agora têm por nosso lar grande pavor,
Fugiram as policromas borboletas
Pois não existe no jardim nem uma flor.

E qual um irerê descasalado
Contemplo o nosso ninho abandonado,
Na cristalização da minha mágoa
Meus olhos esmaecem rasos d'água.
E agora que o teu lar é um campo santo
Não ouves a agonia do meu pranto,
Ó nênias amorosas, nênias imortais!
Que compreende-las tu não podes nunca mais.

Oh, como sou tão desgraçado
ver nosso amor todo desfeito, quanta vez tenho chorado
na pedra fria do teu leito, velando a tua sepultura,
quantas noites já perdi! Chorando a minha desventura
pois quero morrer junto de ti. O vento agora passa soluçando
as flores que morreram carregando
O próprio vento entende a minha solidáo
e a viuvez do meu dorido coração.

 You can listen "Nênias" sung by Vicente Celestino here.

 

 You can listen "Nênias" sung by Gilberto Alves here.

 

Thursday, 2 May 2024

Thursday's Serial: "Os Exercícios Espirituais" by Saint Ignatius of Loyola (translated into Portuguese) - the end

 

14 REGRAS PARA VÁRIOS DISCERNIMENTOS DAS MOÇÕES DA ALMA

313 Regras para de alguma maneira sentir e conhecer as várias moções que se causam na alma: as boas para as aceitar e as más para as rejeitar, e são mais próprias para a Primeira Semana.

314 1. Nas pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma ordinariamente o inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo-lhes imaginar deleites e prazeres sensuais, para mais as conservar e fazer crescer em seus vícios e pecados. Com estas pessoas o bom espírito usa um modo contrário: punge-lhes e remorde-lhes a consciência pelo instinto da razão.

315 2. Nas pessoas que se vão intensamente purificando de seus pecados, e subindo de bem em melhor no serviço de Deus nosso Senhor, o modo de agir é contrário ao da primeira regra. Porque então é próprio do mau espírito morder, entristecer e pôr impedimentos, inquietando com falsas razões, para que não se vá para frente. E é próprio do bom espírito dar ânimo e forças, consolações, lágrimas, inspirações e quietude, facilitando e tirando todos os impedimentos, para que ande para diante na prática do bem.

316 3. Consolação espiritual. Chamo consolação, quando na alma se produz alguma moção interior, com a qual vem a alma a inflamar-se no amor de seu Criador e Senhor; e quando, conseqüentemente, nenhuma coisa criada sobre a face da terra pode amar em si mesma, a não ser no Criador de todas elas. E também, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, quer seja pela dor se seus pecados ou da Paixão de Cristo nosso Senhor, quer por outras coisas diretamente ordenadas a seu serviço e louvor. Finalmente, chamo consolação todo o aumento de esperança, fé e caridade e toda a alegria interior que chama e atrai às coisas celestiais e à salvação de sua própria alma, aquietando-a e pacificando-a em seu Criador e Senhor.

317 4. Desolação espiritual. Chamo desolação a todo o contrário da terceira regra, como obscuridade da alma, perturbação, inclinação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam a falta de fé, de esperança e de amor; achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste, e como que separada de seu Criador e Senhor. Porque assim como a consolação é contrária à desolação, da mesma maneira os pensamentos que provêm da consolação são contrários aos pensamentos que provêm da desolação.

318 5. Em tempo de desolação, nunca fazer mudança, mas estar firme e constante nos propósitos e determinação em que estava, no dia anterior a essa desolação, ou na determinação em que estava na consolação antecedente. Porque, assim como, na consolação, nos guia e aconselha mais o bom espírito, assim, na desolação, nos guia e aconselha o mau, com cujos conselhos não podemos tomar caminho para acertar.

319 6. Uma vez que no tempo de desolação não devemos mudar as resoluções anteriores, aproveita muito reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo insistindo mais na oração, na meditação, em examinar-se muito e em alargar-nos nalgum modo conveniente de fazer penitência.

320 7. O que está em desolação considere como o Senhor o deixou em prova, nas suas potências naturais, para que resista às várias agitações e tentações do inimigo; pois pode fazê-lo com o auxílio divino, que sempre lhe fica, ainda que o não sinta claramente; porque o Senhor lhe subtraiu o seu muito fervor, o grande amor e a graça intensa, ficando-lhe, contudo, graça suficiente para a salvação eterna.

321 8. O que está em desolação trabalhe por manter-se na paciência que é contrária às vexações que lhe advêm, e pense que será depressa consolado, se puser a diligência contra essa desolação, como se disse na Sexta regra.

322 9. Três são as causas principais por que nos achamos desolados: A primeira é por sermos tíbios, preguiçosos ou negligentes em nossos exercícios espirituais. E assim, por nossas faltas, se afasta de nós a consolação espiritual. A segunda, para nos mostrar de quanto somos capazes e até onde nos alargamos no seu serviço e louvor, sem tanto dispêndio de consolações e grandes graças. A terceira, para nos dar verdadeira informação e conhecimento, com que sintamos internamente que não depende de nós fazer vir ou conservar devoção grande, amor intenso, lágrimas nem nenhuma outra consolação espiritual, mas que tudo é dom e graça de Deus nosso Senhor. E para que não façamos ninho em propriedade alheia, elevando o nosso entendimento a alguma soberba ou vanglória, atribuindo a nós a devoção ou as outras formas de consolação espiritual.

323 10. O que está em consolação pense como se haverá na desolação que depois virá, e tome novas forças para então.

324 11. O que está consolado procure humilhar-se e abater-se quanto puder, pensando para quão pouco é, no tempo da desolação, sem essa graça ou consolação. Pelo contrário, o que está em desolação pense que pode muito com a graça suficiente para resistir a todos os seus inimigos, e tome forças no seu Criador e Senhor.

325 12. O inimigo porta-se como uma mulher: fraco ante a resistência, e forte, ante a condescendência. Porque assim como é próprio da mulher, quando briga com um homem, perder ânimo e pôr-se em fuga, quando o homem lhe mostra rosto firme; e, pelo contrário, se o homem começa a fugir e perde a coragem, a ira, a vingança e a ferocidade da mulher é muito grande e se torna desmedida. Da mesma maneira, é próprio do inimigo enfraquecer e perder ânimo, dando em fuga com suas tentações, quando a pessoa que se exercita nas coisas espirituais enfrenta, sem medo, as tentações do inimigo, fazendo o diametralmente oposto. E, pelo contrário, se a pessoa que se exercita começa a ter temor e a perder ânimo em sofrer as tentações, não há besta tão feroz sobre a face da terra, como o inimigo da natureza humana, no prosseguimento da sua perversa intenção, nem com uma tão grande malícia.

326 13. Porta-se também como um namorado frívolo, querendo ficar no segredo e não ser descoberto. Porque, assim como um homem frívolo, que, falando com má intenção, solicita a filha dum bom pai ou a mulher dum bom marido, quer que as suas palavras e insinuações fiquem secretas; e, muito lhe desagrada, pelo contrário, quando a filha descobre ao pai, ou a mulher ao marido, suas palavras frívolas e sua intenção depravada, porque facilmente deduz que não poderá realizar a empresa começada. Da mesma maneira, quando o inimigo da natureza humana vem com as suas astúcias e sugestões à alma justa, quer e deseja que sejam recebidas e tidas em segredo; mas pesa-lhe muito, quando a alma as descobre ao seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual que conheça seus enganos e maldades, porque conclui que não poderá levar a cabo a maldade começada, ao serem descobertos seus evidentes enganos.

327 14. Comporta-se também como um chefe militar para vencer e roubar o que deseja. Porque, assim como um capitão e chefe dum exército, em campanha, depois de assentar arraiais e examinar as forças ou a disposição dum castelo, o combate pela parte mais fraca, da mesma maneira o inimigo da natureza humana, fazendo a sua ronda, examina todas as nossas virtudes teologais, cardeais e morais, e por onde nos acha mais fracos e mais necessitados para a nossa salvação eterna, por aí nos atacam e procuram tomar-nos.

 

8 REGRAS PARA UM MAIOR DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

328 Regras para o mesmo efeito com maior discernimento de espíritos, e são mais convenientes para a Segunda Semana.

329 1. É próprio de Deus e dos seus anjos, em suas moções, dar verdadeira alegria e gozo espiritual, tirando toda a tristeza e perturbação que o inimigo suscita. Deste é próprio lutar contra a alegria e consolação espiritual, apresentando razões aparentes, subtilezas e contínuas falácias.

330 2. Só a Deus nosso Senhor pertence dar consolação à alma sem causa precedente. Porque é próprio do Criador entrar, sair, produzir moção na alma, trazendo-a toda ao amor de sua divina majestade. Digo: sem causa, isto é, sem nenhum prévio sentimento ou conhecimento de algum objeto pelo qual venha essa consolação, mediante seus atos de entendimento e vontade.

331 3. Com causa, pode consolar a alma, assim o anjo bom como o mau, para fins contrários: o bom anjo para proveito da alma, afim de que cresça e suba de bem em melhor; e o mau anjo para o contrário, e para ulteriormente trazê-la à sua perversa intenção e maldade.

332 4. É próprio do anjo mau, que se disfarça em anjo de luz, entrar com o que se acomoda à alma devota e sair com o que lhe convém a si, isto é, trazer pensamentos bons e santos, acomodados a essa alma justa, e, depois, pouco a pouco, procurar sair-se, trazendo a alma aos seus enganos encobertos e perversas intenções.

333 5. Devemos estar muito atentos ao decurso dos pensamentos. Se o princípio, meio e fim são inteiramente bons, inclinando a tudo bem, é sinal do bom anjo. Mas se no decurso dos pensamentos que traz, acaba nalguma coisa má, ou menos boa que aquela que a alma antes propusera fazer, ou a enfraquece, ou inquieta, ou perturba, tirando-lhe a sua paz, tranqüilidade e quietude que antes tinha, é claro sinal que procede do mau espírito, inimigo do nosso proveito e salvação eterna.

334 6. Quando o inimigo da natureza humana for sentido e conhecido pela sua cauda serpentina e pelo mau fim a que induz, aproveita à pessoa que por ele foi tentada, verificar logo o decurso dos pensamentos que ele lhe trouxe, e o princípio deles, e como, pouco a pouco, procurou fazê-la descer da suavidade e gozo espiritual em que estava, até trazê-la à sua intenção depravada. Para que, com tal experiência, conhecida e notada, se guarde, daí por diante, de seus habituais enganos.

335 7. Naqueles que progridem de bem em melhor, o bom anjo toca-lhes a alma doce, leve e suavemente, como gota de água que penetra numa esponja; e o mau anjo toca agudamente, com ruído e agitação, como quando a gota de água cai sobre a pedra; e aos que vão de mal em pior, os mesmos espíritos tocam-nos de modo oposto. A causa desta diversidade está na disposição da alma ser contrária ou semelhante à dos ditos anjos. Porque, quando é contrária, entram com ruído e comoção, de maneira perceptível; e quando é semelhante, entram silenciosamente, como em casa própria, de porta aberta.

336 8. Quando a consolação é sem causa, embora nela não haja engano, por provir só de Deus nosso Senhor, como dissemos [330]; contudo a pessoa espiritual, a quem Deus dá essa consolação, deve observar e distinguir, com muita vigilância e atenção, o tempo próprio dessa consolação do tempo que se lhe segue, em que a alma fica quente e favorecida com o favor e os restos da consolação passada. Porque, muitas vezes, neste segundo tempo, por seu próprio raciocínio feito de relações e deduções de conceitos e juízos, ou pelo bom espírito ou pelo mau, forma diversas resoluções e opiniões que não são dadas imediatamente por Deus nosso Senhor. E, portanto, é necessário examiná-las muito bem, antes de se lhes dar pleno crédito e de se porem em prática.

 

7 REGRAS PARA SE DISTRIBUIR ESMOLAS

337 No ministério de distribuir esmolas devem-se guardar as regras seguintes.

338 1. Se eu faço a distribuição a parentes ou amigos ou a pessoas a quem tenho afeição, deverei atender a quatro coisas das quais se falou, em parte, ao tratar da eleição [184-187]. A primeira é que o amor que me move e me faz dar a esmola, desça do alto, do amor de Deus nosso Senhor, de forma que eu sinta primeiro em mim que o amor maior ou menor que tenho a essas pessoas é por Deus, e que na causa por que as amo, transpareça Deus.

339 2. Quero imaginar um homem a quem nunca tenha visto nem conhecido; e, desejando-lhe eu toda a perfeição, no cargo e estado que tem, que procedimento desejaria eu que ele seguisse, na sua maneira de distribuir esmolas, para a maior glória de Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma, e, procedendo eu assim, nem mais nem menos, guardarei a mesma regra e a medida que desejaria que ele seguisse e que julgo ser a melhor [185].

340 3. Quero considerar, como se estivesse em artigo de morte, a forma e medida que quereria então ter seguido, no cargo da minha administração; e regulando-me por ela, segui-la-ei nos atos da minha distribuição [186].

341 4. Considerando como me acharei no dia de Juízo, pensar bem como então quereria ter usado deste ofício e cargo de distribuir esmolas. A regra que então desejaria ter tido, tê-la agora [187].

342 5. Quando alguém se sente inclinado ou afeiçoado a algumas pessoas às quais quer distribuir esmolas, detenha-se e reflita bem sobre as quatro regras precedentes [184-187], examinando e verificando, à luz delas, a sua afeição. E, não dê a esmola, até que, conforme a essas regras, tenha totalmente tirado e afastado a sua afeição desordenada.

343 6. Ainda que não há culpa em tomar os bens de Deus nosso Senhor, para os distribuir, quando a pessoa é chamada por nosso Deus e Senhor, para este ministério; contudo no cálculo e quantidade do que há de tomar e aplicar a si mesmo do que tem para dar a outros, há lugar para dúvida de culpa e excesso. Por isso pode reformar-se no que se refere à sua vida e estado, pelas regras acima mencionadas.

344 7. Pelas razões já expostas e por muitas outras, é sempre melhor e mais seguro, no que se refere às despesas pessoais e domésticas, restringir e reduzir, o mais possível, e conformar-se quanto puder com o nosso Sumo Pontífice, modelo e regra nossa, que é Cristo nosso Senhor. Conforme a isto, o terceiro Concílio Cartaginês (no qual esteve S. Agostinho) determina e manda que a mobília do bispo seja comum e pobre. A mesma consideração se deve fazer, em todos os estados de vida, guardando as proporções e tendo em conta a condição, nível social e estado das pessoas. Assim, no estado matrimonial, temos o exemplo de S. Joaquim e S. Ana que dividiam os seus bens em três partes, a primeira davam aos pobres, a segunda ao ministério e serviço do templo, e tomavam a terceira para sustento de si mesmos e de sua família.

 

6 NOTAS PARA O DISCERNIMENTO DOS ESCRÚPULOS

345  As Notas seguintes ajudam a discernir e compreender os escrúpulos e as insinuações do nosso inimigo.

346 1. Chama-se vulgarmente escrúpulo o que provém do nosso próprio juízo e liberdade, a saber: quando eu livremente imagino que é pecado aquilo que não é pecado. Assim, por exemplo, acontece que alguém, depois de ter pisado casualmente uma cruz de palha, imagina, por seu próprio juízo, que pecou; isto é propriamente um juízo errôneo e não propriamente um escrúpulo.

347 2. Depois de ter pisado aquela cruz, ou depois de ter pensado ou dito ou feito qualquer outra coisa, vem-me de fora um pensamento de que pequei e, por outro lado, parece-me a mim que não pequei. Contudo sinto nisto perturbação, a saber, enquanto por um lado duvido e por outro não duvido. Isto é que é propriamente um escrúpulo e uma tentação que o inimigo me sugere. [32,351].

348 3. O primeiro escrúpulo, o da primeira nota, deve muito se aborrecer, porque é um verdadeiro erro; mas o segundo, o da segunda nota, durante algum tempo, não é de pouco proveito para a alma que se dá a exercícios espirituais. Pelo contrário, em grande maneira, purifica e limpa essa alma, separando-a muito de toda a aparência de pecado, conforme a palavra de S. Gregório: "É próprio das almas boas ver falta onde não há nenhuma".

349 4. O inimigo observa muito se a alma é grosseira ou delicada. Se é delicada, procura torná-la ainda mais delicada, até ao extremo, para mais a perturbar e arruinar; por exemplo, se vê que uma alma não consente em pecado mortal nem venial nem sequer em aparência de pecado deliberado, então o inimigo, quando vê que não a pode fazer cair em coisa que pareça pecado, procura fazê-la imaginar pecado onde não há pecado, como, por exemplo, numa palavra ou pensamento sem importância. Se a alma é grosseira, o inimigo procura engrossá-la mais, por exemplo: se antes não fazia caso dos pecados veniais, procurará que faça pouco dos mortais, e se algum caso fazia antes, procurará que muito menos ou nenhum faça agora.

350 5. A alma que deseja progredir na vida espiritual, deve sempre proceder de maneira contrária à do inimigo [319, 351], a saber: se o inimigo quer embotá-la, a alma deve procurar tornar-se mais delicada; e também se o inimigo procura afiná-la, para a levar ao excesso, a alma procure consolidar-se no meio termo, para totalmente se tranqüilizar.

351 6. Quando essa boa alma quiser dizer ou fazer alguma coisa, em conformidade com a Igreja, e com as tradições dos nossos maiores, que seja para glória de Deus nosso Senhor, e lhe vem de fora um pensamento ou tentação para não dizer nem fazer essa coisa, trazendo-lhe razões aparentes de vanglória ou de outra coisa, etc., então deve elevar o pensamento para o seu Criador e Senhor; e se vê que essa palavra ou ação é para seu devido serviço, ou ao menos não lhe é contrária, deve agir de maneira diametralmente oposta a essa tentação, e como S. Bernardo responder ao inimigo: "nem o comecei por ti, nem por ti o acabarei".

 

18 REGRAS PARA SE SENTIR COM A IGREJA

352 Para o verdadeiro sentido que devemos ter na igreja militante, guardem-se as regras seguintes:

353 1. Deposto todo o juízo próprio, devemos ter o espírito preparado e pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo, nosso Senhor, que é a nossa santa Mãe a Igreja hierárquica. [170].

354 2. Louvar a confissão ao sacerdote e a recepção do Santíssimo Sacramento, uma vez no ano, e muito mais, em cada mês, e muito melhor, de oito em oito dias, com as condições requeridas e devidas. [18].

355 3. Louvar a assistência freqüente à missa, e igualmente cantos, salmos e longas orações, na igreja e fora dela; e também a determinação de horas destinadas para todo o ofício divino e para toda a oração e todas as horas canônicas.

356 4. Louvar muito a vida religiosa, a virgindade e a continência, e não louvar tanto o matrimônio como nenhuma destas. [14,15].

357 5. Louvar os votos religiosos, de obediência, pobreza e castidade e de outras perfeições. É de notar que, como os votos se fazem sobre coisas que se aproximam mais da perfeição evangélica, não se devem fazer de coisas que nos apartam dessa perfeição, como de ser comerciante ou de casar-se, etc.

358 6. Louvar as relíquias dos Santos, venerando-as a elas e rezando-lhes a eles. Louvar estações, peregrinações, indulgências, jubileus, bulas da cruzada e velas acesas nas igrejas.

359 7. Louvar constituições sobre jejuns e abstinências, como as da quaresma, das quatro têmporas, vigílias, sexta e sábado; e também as penitências, não somente internas, mas também externas. [82].

360 8. Louvar os ornamentos e os edifícios das igrejas e também as imagens e venerá-las pelo que representam.

361 9. Louvar finalmente todos os preceitos da Igreja, tendo prontidão de espírito para buscar razões para os defender, e, de modo nenhum para os criticar.

362 10. Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar tanto as diretrizes e recomendações como o comportamento dos nossos Superiores do que para os criticar. Porque, mesmo que a conduta de alguns não fosse tal como deveria ser, falar contra ela, ou em pregações públicas ou em conversas, na presença de simples fiéis, originaria mais críticas e escândalo do que proveito. E assim, o povo viria a irritar-se contra os seus superiores, quer temporais quer espirituais. De maneira que assim como é prejudicial falar mal dos Superiores, na sua ausência, diante do povo humilde, assim pode ser proveitoso falar da sua má conduta às pessoas que lhes podem dar remédio. [41].

363 11. Louvar a doutrina positiva e escolástica, porque assim como é mais próprio dos doutores positivos, tais como S. Jerónimo, S. Agostinho e S. Gregório, etc. mover os afetos, para em tudo amar e servir a Deus, nosso Senhor, assim é mais próprio dos escolásticos, tais como S. Tomás, S. Boaventura e o Mestre das Sentenças, etc., definir ou explicar para os nossos tempos [369], as coisas necessárias à salvação eterna, e refutar e explicar mais todos os erros e todos os sofismas. Porque os doutores escolásticos, como são mais modernos, não só se aproveitam da exata inteligência da Sagrada Escritura e dos Santos Doutores positivos, mas ainda iluminados e esclarecidos pela graça divina, ajudam-se também dos concílios, cânones e constituições da nossa Santa Mãe Igreja.

364 12. Devemos evitar fazer comparações entre os que estamos vivos e os bem aventurados de outrora. Porque não pouco nos enganamos neste ponto, quando dizemos, por exemplo: "Este sabe mais que Santo Agostinho é outro ou mais que São Francisco, é outro São Paulo, em bondade, em santidade, etc". [2].

365 13. Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a que o branco, que eu vejo, acreditar que é negro, se a Igreja hierárquica assim o determina. Porque creio que entre Cristo, nosso Senhor, esposo, e a Igreja, sua esposa, não há senão um mesmo Espírito que nos governa e dirige para a salvação das nossas almas. Porque é pelo mesmo Espírito e Senhor nosso, que nos deu os dez mandamentos que é dirigida e governada a nossa Santa Mãe Igreja.

366 14. Embora seja muita verdade que ninguém se pode salvar sem ser predestinado, e sem ter a fé e a graça, contudo deve-se ter muito cuidado no modo de falar e de se expressar sobre todas estas coisas.

367 15. Habitualmente não devemos falar muito de predestinação; mas se, de alguma maneira e algumas vezes, se falar, faça-se de maneira que o povo simples não venha a cair nalgum erro, como acontece, algumas vezes, ao dizer: "se tenho de me salvar ou condenar, já está determinado, e não é por eu fazer bem ou mal que pode acontecer outra coisa. E assim relaxam-se e descuidam as obras que conduzem à salvação e ao proveito espiritual de suas almas".

368 16. Da mesma forma, devemos acautelar-nos de que, ao falar muito da fé, e com muita insistência, sem alguma distinção e explicação, não demos ao povo ocasião de ser desleixado e preguiçoso nas obras, quer antes da fé ser informada pela caridade quer depois.

369 17. Também não devemos falar tão abundantemente nem com tanta insistência, da graça que se gere o veneno de suprimir a liberdade. De maneira que da fé e da graça pode falar-se, quanto seja possível, com ajuda da graça divina, para maior louvor de sua divina majestade, mas não de tal forma e com tais modos, sobretudo nos nossos tempos tão perigosos, que as obras e o livre arbítrio sofram algum prejuízo ou sejam tidos por coisa de nenhuma importância.

370 18. Embora devamos estimar, sobretudo o serviço intenso de Deus, nosso Senhor, por puro amor, devemos, contudo louvar muito o temor de sua divina Majestade [65]. Porque não somente o temor filial é coisa piedosa e santíssima, mas mesmo o temor servil, quando outra coisa melhor e mais útil não se pode conseguir, ajuda muito a sair do pecado mortal. E, uma vez que se sai dele, facilmente se chega ao temor filial que é totalmente aceite e agradável a Deus, nosso Senhor, por ser inseparável do amor divino.

 

 

FIM