Sunday, 22 December 2013

Duas Histórias do Ladrão Gaião by Ruth Guimarães (in Portuguese)


            in Os filhos do medo. Porto Alegre, Editora Globo, 1950 (Coleção Autores Brasileiros, 34), p.33-35.

            Um homem não sabia a quem convidar para compadre de tantos filhos que já tinha.Quando nasceu o caçula, falou à mulher que convidaria até o diabo para padrinho do menino. Saiu e encontrou um homem muito bem apessoado. Convidou-o para compadre e ele aceitou.

            Depois do batizado, o padrinho carregou o afilhado. Ficou com ele sete anos. O pai ficou meio assustado, porque o padrinho nunca mais aparecia com o garoto e então veio a madrinha, que era Nossa Senhora, e se ofereceu para procurá-lo.

            Foi. O menino estava no inferno e o padrinho tinha lhe mostrado todos os quartos. Em cada quarto estava uma cama cheia de fogo. A cama onde havia mais labaredas estava separada das outras. O diabo falou: "Esta cama é para o maior ladrão do mundo. O ladrão Gaião".

            Nossa Senhora apareceu e levou o menino para a casa dos pais. Ele contou então que o padrinho era o diabo e contou tudo o que tinha visto no inferno.

            O ladrão Gaião soube e veio conversar com ele. "Menino, é verdade que você viu no inferno a cama cheia de labaredas que era para mim?" "Vi, sim. Meu padrinho é o diabo e me mostrou." Então o ladrão tornou a perguntar: "Você tem coragem?" "Tenho, sim." "Tem coragem de me cortar em pedacinhos?" "Tenho."

            Foram os dois para o meio do mato. O ladrão Gaião puxou uma faca e disse: "Vá me cortando em pedaços. Cada gemido ou cada grito que eu der, diga: 'Seja tudo pelo amor de Deus'."

            O garoto assim fez.Cortou o ladrão em pedacinhos. Quando ele gemia, o menino falava: "Seja tudo pelo amor de Deus!" Em vista do seu arrependimento e do seu martírio, Deus o perdoou e o grande ladrão foi para o céu.

            Acontece que no alto de um morro deserto morava um monge que fazia penitência. A vida que levava era tão agradável a Deus, que era servido pelos anjos. Estes lhe traziam o sustento de cada dia.

            No dia da morte do ladrão, o almoço demorou mais. "Vocês já ficaram brincando pelo caminho, outra vez?" ralhou quando os anjos chegaram. "Não, senhor. Hoje nos demoramos porque houve festa no céu. O senhor não soube da morte do ladrão Gaião? Pois ele se arrependeu do que fez e foi perdoado." O monge então falou:"Se o ladrão entrou no céu, quanto mais eu, que já em vida sou servido pelos anjos!"

            Só por isso, o monge se perdeu e a cama cheia de labaredas do inferno ficou para ele.
(Colhida no vale do Paraíba em 1940)
* * *
            O ladrão Gaião era o maior ladrão do mundo. E era atrevido, arrogante e perverso.

            Pois esse mau tinha um irmão que era um santo. Tão santo, que, em vida, já comia pela mão dos anjos. Todos os dias, nem bem dava meio-dia, vinham os anjos trazer-lhe maná do céu, para o seu sustento.

            Foi um dia, morreu uma criança sem batizar. Bateu no céu mas foi-lhe negada entrada. Mas tanto chorou, tanto pediu, que Deus ficou com muita pena e disse: "Tome este copo e volte à terra. Quando você o tiver enchido de água limpa, bem limpa, pode voltar que eu abro a porta".

            O menino saiu chorando e, em todas as fontes enchia o copo. Olhava-o contra o sol — a água estava suja. Então começou a clamar:

                                                              Hoje mesmo nasci
                                                              Hoje mesmo me criei
                                                              Hoje mesmo morri
                                                              Hoje mesmo me perdi

            O ladrão Gaião que estava sentado em cima de uma pedra escutou aquilo e pensou: "Se aquele que hoje mesmo nasceu e morreu, assim mesmo se perdeu, o que será de mim que sou tão pecador?"
         
         Começou a pensar nos seus crimes e teve um arrependimento tão profundo que chorou. O menino passou por ele e viu as lágrimas. Aparou-as com o copo. Quando o colocou diante da luz, estavam tão limpas que cintilavam. Louco de alegria, correu ao céu e pôde entrar.

            Nesse mesmo dia o ladrão morreu e também foi para o céu. E, com tudo isso, os anjos atrasaram o almoço do santo. Bateu meio-dia e nada de almoço. Bateu uma hora e nada. Lá pelas três horas vieram os anjos. O santo pergunto: "O que foi que vocês andaram fazendo no caminho, que só agora é que estão chegando?"

            Então os anjos contaram: "O senhor não sabe. Hoje houve festa no céu". "Por que?" "Porque o ladrão Gaião se arrependeu e salvou-se. Foi para o céu e nós fizemos uma festa." O santo teve um pequenino pensamento vaidoso. Um só e foi o bastante. Pensou: "Se o ladrão Gaião, que era tão pecador, se salvou, e eu então que já como pela mão dos anjos..."

            No outro dia, o santo esperou, e no outro, e, depois, no outro. Os anjos nunca mais lhe apareceram para trazer comida.
             (Contada pela mãe da autora)


Saturday, 21 December 2013

"A Lament" by Oscar Wilde (in English)



O well for him who lives at ease
With garnered gold in wide domain,
Nor heeds the splashing of the rain,
The crashing down of forest trees. -
O well for him who ne'er hath known
The travail of the hungry years,
A father grey with grief and tears,
A mother weeping all alone. -
But well for him whose feet hath trod
The weary road of toil and strife,
Yet from the sorrows of his life
Builds ladders to be nearer God.

Friday, 20 December 2013

"Androcles" by Aesop (in English)

          A slave named Androcles once escaped from his master and fled to the forest.  As he was wandering about there he came upon a Lion lying down moaning and groaning. At first he turned to flee, but finding that the Lion did not pursue him, he turned back and went up to him. As he came near, the Lion put out his paw, which was all swollen and bleeding, and Androcles found that a huge thorn had got into it, and was causing all the pain. He pulled out the thorn and bound up the paw of the Lion, who was soon able to rise and lick the hand of Androcles like a dog. Then the Lion took Androcles to his cave, and every day used to bring him meat from which to live. But shortly afterwards both Androcles and the Lion were captured, and the slave was sentenced to be thrown to the Lion, after the latter had been kept without food for several days. The Emperor and all his Court came to see the spectacle, and Androcles was led out into the middle of the arena. Soon the Lion was let loose from his den, and rushed bounding and roaring towards his victim. But as soon as he came near to Androcles he recognised his friend, and fawned upon him, and licked his hands like a friendly dog. The Emperor, surprised at this, summoned Androcles to him, who told him the whole story. Whereupon the slave was pardoned and freed, and the Lion let loose to his native forest.


            Gratitude is the sign of noble souls.

Thursday, 19 December 2013

"Como Sombras de Nuvens que Passam" (Canto I) by José Thiesen (Song I in Portuguese)

Canto I

     Enquanto vagava solitário por aqueles caminhos arenosos ladeados por plátanos frondosos, meditava sobre as emoções revoltas no meu coração.

     Ouvia o Argento correr célere alguns metros à minha direita. Um rapaz de rosto desagradável passou por mim a pedalar bicicleta velha, rangenta.

     Parei por um momento e o rosto de Cláudio dançou à minha frente.

     Corri a mão por meus cabelos. Alguns garotos, filhos de camponeses, corriam para a praia.

     Respirei fundo aquele ar e senti cheiro de saudade, polenta, New York, mamma Rosa e de homem. De Luciano.

Wednesday, 18 December 2013

"The Song of Songs of Solomon" (Chapter III in English)


1 Bride: On my bed at night I sought him
whom my heart loves -
I sought him but I did not find him.

2 I will rise then and go about the city;
in the streets and crossings I will seek
Him whom my heart loves.
I sought him but I did not find him.

3 The watchmen came upon me
as they made their rounds of the city:
Have you seen him whom my heart loves?

4 I had hardly left them
when I found him whom my heart loves.
I took hold of him and would not let him go
till I should bring him to the home of my mother,
to the room of my parent.

5 Bridegroom:I adjure you, daughters of Jerusalem,
by the gazelles and hinds of the field,
Do not arouse, do not stir up love
before its own time.

(Third Poem)
6  What is this coming up from the desert,
like a column of smoke
Laden with myrrh, with frankincense,
and with the perfume of every exotic dust?

7 Ah, it is the litter of Solomon;
sixty valiant men surround it,
of the valiant men of Israel:

8 All of them expert with the sword,
skilled in battle,
Each with his sword at his side
against danger in the watches of the night.

9 King Solomon made himself a carriage
of wood from Lebanon.

10 He made its columns of silver,
its roof of gold,
Its seat of purple cloth,
its framework inlaid with ivory.

11 Daughters of Jerusalem, come forth
and look upon King Solomon
In the crown with which his mother has crowned him
on the day of his marriage,
on the day of the joy of his heart.


Tuesday, 17 December 2013

Soneto da Fidelidade by Vinicius de Moraes (in Portuguese)




De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

"The Steel Mask" by Unknown Writer (in English)

Captain America #35 vol.1 - February 1944. Timely.