TERCEIRA SEMANA
Seguimento de Cristo no Mistério Pascal
A. CONTEMPLAÇÃO DA PAIXÃO PASSO A PASSO
190 Primeiro Dia. A Primeira Contemplação, à meia noite, é como Cristo Nosso Senhor foi desde Betânia à Jerusalém até a Última Ceia, inclusive [289], compreende a oração preparatória, três preâmbulos, seis pontos e um colóquio Oração preparatória, a habitual [46; 49].
191 Primeiro preâmbulo. Recordar a história; que é aqui como Cristo nosso Senhor, desde Betânia, enviou dois discípulos a Jerusalém, a preparar a ceia e, depois, ele mesmo foi a ela com os outros discípulos; e como, depois de ter comido o cordeiro pascal e ter ceado, lhes lavou os pés e deu seu Sacratíssimo Corpo e Precioso Sangue a seus discípulos, e lhes fez um sermão, depois que Judas foi vender o seu Senhor.
192 Segundo preâmbulo. Composição, vendo o lugar; será aqui considerar o caminho desde Betânia a Jerusalém, se era largo, se estreito, se plano, etc. Assim mesmo o lugar da ceia, se era grande, se pequeno, se duma maneira ou se de outra.
193 Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; será aqui dor, sentimento e confusão, porque por meus pecados vai o Senhor à Paixão.
194 Primeiro ponto. Ver as pessoas da ceia; e, refletindo em mim mesmo, procurar tirar algum proveito delas.
Segundo ponto. Ouvir o que falam; e, de igual modo, tirar algum proveito.
Terceiro ponto. Observar o que fazem; e tirar também algum proveito.
195 Quarto ponto. Considerar o que Cristo nosso Senhor padece na humanidade ou quer padecer, segundo o passo que se contempla; e, aqui, começar com muita força e esforçarme por me condoer, entristecer e chorar; e trabalhar assim nos outros pontos que se seguem.
196 Quinto ponto. Considerar como a divindade se esconde, a saber, como poderia destruir os seus inimigos e não o faz, e como deixa padecer a sacratíssima humanidade tão cruelmente.
197 Sexto ponto. Considerar como tudo isto padece por meus pecados, etc; e que devo eu fazer e padecer por ele.
198 Colóquio. A Cristo nosso Senhor e, ao fim, com um Pai nosso.
199 Nota. É de advertir, como antes, e em parte, está declarado [54], que nos colóquios devemos argumentar e pedir, segundo a matéria proposta, a saber, conforme me acho tentado ou consolado, e conforme desejo ter uma virtude ou outra, conforme quero dispor de mim a uma ou a outra parte, conforme quero sentir dor ou gozo da coisa que contemplo, finalmente pedindo aquilo que mais eficazmente desejo acerca de algumas coisas particulares; e, desta maneira, pode fazer um só colóquio a Cristo, nosso Senhor, ou, se a matéria ou a devoção o move, pode fazer três colóquios, um à Mãe, outro ao Filho, outro ao Pai, pela mesma forma que está dito na segunda semana, na meditação das Duas Bandeiras [147] com a nota que se segue aos Binários [157].
SEGUNDA CONTEMPLAÇÃO
200 Pela manhã, será desde a ceia ao Horto inclusive [290].
Oração preparatória. A habitual [46].
201 Primeiro preâmbulo. História; e será aqui como Cristo nosso Senhor desceu com os seus onze discípulos, desde o monte Sião, onde celebrou a ceia, para o vale de Josafat, deixando oito deles numa parte do vale, e os outros três noutra parte do horto; e, pondo-se em oração, sua um suor como gotas de sangue; e depois que, três vezes, fez oração ao Pai, e despertou os seus três discípulos, e depois que, à sua voz, caíram os inimigos, e Judas lhe deu a paz, e S. Pedro cortou a orelha a Malco, e Cristo a pôs em seu lugar, sendo preso como malfeitor, o levam pelo vale a baixo, e depois pela encosta acima para a casa de Anás.
202 Segundo preâmbulo. Ver o lugar; aqui será considerar o caminho, desde o monte Sião ao vale de Josafat, e assim mesmo o horto, se era largo, se comprido, se de uma maneira, se de outra.
203 Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; o que é próprio pedir na Paixão: dor com Cristo doloroso, quebranto com Cristo quebrantado [48,3], lágrimas, pena interna de tanta pena que Cristo passou por mim.
INDICAÇÕES TÉCNICAS
A. Escalonamento da oração
204 Primeira nota. Nesta Segunda Contemplação, depois de feita a oração preparatória com os três preâmbulos já mencionados, ter-se-á a mesma forma de proceder, nos pontos e no colóquio, que se teve na Primeira Contemplação da Ceia; e à hora da Missa e à das Vésperas, se farão duas repetições sobre a primeira e segunda contemplação, e, depois, antes de jantar, se aplicarão os sentidos sobre as duas sobreditas contemplações; antepondo sempre a oração preparatória e os três preâmbulos, conforme a matéria exposta, da mesma forma que está dito e declarado na segunda semana [119, 159, cfr. 72].
205 Segunda nota. Segundo a idade, disposição e temperamento ajudem à pessoa que se exercita, fará, cada dia, os cinco exercícios ou menos.
B. Ambientação da oração
206 Terceira nota. Nesta terceira semana, se mudarão, em parte, a segunda e a sexta adição [74, 78; cf. 130].
A segunda adição será: logo ao despertar, pôr diante de mim aonde vou e a quê, resumindo, um pouco, a contemplação que quero fazer, conforme for o mistério [74]; esforçando-me, enquanto me levanto e visto, por me entristecer e me condoer de tanta dor e de tanto padecer de Cristo nosso Senhor.
A sexta adição se mudará, procurando não fomentar pensamentos alegres, ainda que bons e santos, como os de ressurreição e de glória, mas antes, induzir-me a mim mesmo a dor e a pena e abatimento, trazendo freqüentemente à memória os trabalhos, fadigas e dores que Cristo nosso Senhor passou, desde o momento em que nasceu até ao mistério da Paixão em que, ao presente, me encontro [78, 130].
207 O exame particular sobre os exercícios e adições presentes se fará como na semana passada [160].
208 Segundo Dia - À meia-noite, a contemplação será desde o Horto à Casa de Anás Inclusive [291]; e, de manhã, da Casa de Anás à Casa de Caifás Inclusive [292]; e, depois, as Duas Repetições e a Aplicação de Sentidos, conforme está já dito [204].
Terceiro Dia - À meia noite, da Casa de Caifás a Pilatos Inclusive [293], e, de manhã, de Pilatos a Herodes Inclusive [294]; e depois, as Repetições e a Aplicação dos Sentidos, pela mesma forma que já foi dito [204].
Quarto Dia - À meia-noite, de Herodes a Pilatos [295], fazendo a contemplação dos mistérios até metade dos da mesma casa de Pilatos; e, depois, no exercício da manhã, os outros Mistérios que ficaram da mesma casa, e as Repetições e a Aplicação de Sentidos, como foi dito [204].
Quinto Dia - À meia-noite, da casa de Pilatos até ser Pregado na Cruz [296], e, de manhã, desde que foi levantado na Cruz até que Expirou [297]; depois, as duas Repetições e a Aplicação de Sentidos [204].
Sexto Dia - À meia-noite, desde a Descida da Cruz até o Sepulcro Inclusive [298]; e, de manhã, desde o Sepulcro Inclusive até à Casa para onde Nossa Senhora foi, depois de sepultado seu Filho.
Sétimo Dia - Contemplação de toda a Paixão, no exercício da meia noite e da manhã; e, em lugar das duas Repetições e da Aplicação de Sentidos, considerar, todo aquele dia, o mais freqüentemente que puder, como o corpo sacratíssimo de Cristo nosso Senhor ficou desatado e apartado da alma, e onde e como ficou sepultado. Considere-se assim mesmo, a solidão de nossa Senhora, com tanta dor e aflição; depois, por outra parte, a dos discípulos.
209 Nota. É de notar que, quem se quiser alongar mais na Paixão, há de tomar, em cada contemplação, menos mistérios [cf. 162], a saber, na primeira contemplação, somente a Ceia; na segunda, o lava-pés; na terceira, o dom do Sacramento da Eucaristia; na quarta, o sermão que Cristo fez aos discípulos; e assim nas outras contemplações e mistérios. Assim mesmo, depois de acabada a Paixão, tome, um dia inteiro, metade de toda a Paixão; e, no segundo dia, a outra metade; e no terceiro dia, toda a Paixão.
Pelo contrário, quem quiser abreviar mais a Paixão, tome, à meia-noite, a Ceia; de manhã, o horto; à hora da missa, a casa de Anás; à hora de vésperas, a casa de Caifás; na hora antes do jantar, a casa de Pilatos; de maneira que, não fazendo repetições nem a aplicação de sentidos, faça, cada dia, cinco exercícios distintos, e, em cada um dos exercícios, distinto mistério de Cristo nosso Senhor; e depois de acabada assim toda a Paixão, pode fazer, outro dia, toda a Paixão junta, num exercício ou em diversos, como mais lhe parecer que poderá aproveitar-se.
ACHEGAS PARA A REFORMA DE VIDA
8 REGRAS PARA SE ORDENAR DORAVANTE NO COMER
210 Primeira regra. Do pão convém menos se abster, porque não é alimento sobre o qual o apetite se costuma tanto desordenar, ou em que a tentação insista como a outros manjares.
211 Segunda regra. No beber parece mais conveniente a abstinência do que no comer pão; portanto deve reparar-se muito no que traz proveito para o admitir, e no que traz dano, para o rejeitar.
212 Terceira regra. Nos alimentos deve ter-se a maior e mais inteira abstinência, porque assim o apetite em desordenar-se como as tentações em instigar são mais perceptíveis nesta parte; e assim a abstinência nos alimentos, para evitar desordem, pode ter-se de duas maneiras: uma, habituando-se a comer alimentos ordinários, a outra, tratando-se de delicados, em pequena quantidade.
213 Quarta regra. Guardando-se de não cair em enfermidade, quanto mais uma pessoa tirar do conveniente, mais depressa alcançará a justa medida que deve ter em seu comer e beber, por duas razões: a primeira, porque, tomando estes meios e dispondo-se assim, muitas vezes sentirá mais as luzes interiores, consolações e divinas inspirações, a mostrarlhe a justa medida que lhe convém; a segunda, porque se a pessoa, na tal abstinência, se vê sem tanta força corporal nem tanta disposição para os exercícios espirituais, facilmente virá a julgar o que mais convém ao seu sustento corporal.
214 Quinta regra. Enquanto a pessoa come, considere que vê a Cristo nosso Senhor comer com seus apóstolos, e como bebe, e como olha, e como fala; e procure imitá-lo. De maneira que a parte principal do entendimento se ocupe na consideração de nosso Senhor, e a menor no sustento corporal, para que assim alcance maior equilíbrio e ordem sobre a maneira de se haver e governar à mesa.
215 Sexta regra. Outras vezes, enquanto come, pode tomar outra consideração, ou da vida de santos, ou de alguma piedosa consideração, ou de algum assunto espiritual que tenha de tratar. Porque, estando a atenção fixa em tais coisas, tomará menos deleite e menos sentido no alimento corporal.
216 Sétima regra. Guarde-se, sobretudo de que não esteja todo o seu espírito posto no que come, nem ao comer vá apressado pelo apetite, mas seja senhor de si, assim na maneira de comer como na quantidade que come.
217 Oitava regra. Para tirar desordem, muito aproveita que, depois do almoço ou depois do jantar, ou noutra hora em que não sinta apetite de comer, determine consigo, para o almoço ou para o jantar seguintes, e, assim sucessivamente, cada dia, a quantidade que convém que coma; e não ultrapasse esta, por nenhum apetite nem tentação, mas antes, para mais vencer qualquer apetite desordenado e tentação do inimigo, se é tentado a comer mais, coma menos.
No comments:
Post a Comment