[dedicado] a Mário de Alencar.
Oh! dia de ira, aquele dia!
Di-lo Davi, e a Pitonisa:
Revolve o mundo em cinza fria.
Mas que pavor haverá quando
Vier Aquele que pesquisa
As obras do homem miserando!
Pelas regiões do eterno sono
Soa a fatal tuba da Crença,
Reunindo a todos ante o Trono.
A morte e a natureza, pasmas,
Veem, ante Deus que os julga, a imensa
Ressurreição desses fantasmas.
Tudo que tem de ser julgado
Há de surgir num livro de onde
O clamor se ouve do pecado.
E Aquele que os mortos reúne
Há de julgar o que se esconde,
E nada ficará impune.
Que direi ante o Trono augusto?
Só tu, com as tuas vestes alvas,
Não sofrerás, Alma do Justo!
Rei de tremenda majestade,
Os que serão salvos tu salvas:
Salva-me, ó fonte da piedade.
Da tua Sacrossanta Via
A causa fui, Jesus Piedoso:
Não me percas naquele dia.
Com fadigas, suores e pranto,
Tu me buscaste sem repouso:
Não se perca trabalho tanto.
Oh! meu Senhor Deus de vingança,
Antes daquele dia extremo
O teu perdão sobre mim lança.
Como réu, eis-me suplicante…
Com o rosto em fogo choro e gemo:
Perdoa esta alma agonizante.
Como, Jesus, me esperançaste
Quando ouviste o ladrão contrito
E a Madalena tu perdoaste!
É indigna a prece que em mim clama:
Faze por teu favor bendito
Que me não queime a eterna chama.
A mim entre as ovelhas deita,
Longe dos bodes condenados,
De ti, Jesus, à mão direita.
Ah! se os malditos tu condenas,
Põe-me com os bem-aventurados,
Livre das sempiternas penas.
Cuida em mim na hora derradeira…
Dia de lágrimas! pois o homem
Há de surgir da cinza e poeira.
Do teu perdão abrindo os portos,
Livra-o das chamas que o consomem…
Réquiem eterno aos que estão mortos!
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