Um rapaz e seu irmão foram tirar penas de um filhote de passarão para emplumar flechas. Chegaram ao pé da rocha Téu-téu e derrubaram uma árvore, para servir de escada. Emendaram o pau e os dois subiram.
Um queria arrancar penas de filhote de passarão mas o outro se recusou, pois preferia penas grandes e compridas. Ficou com raiva do irmão e deixou-o a depenar o filhote de passarão. Desceu, embaixo derrubou a escada e abandonou o mano lá em cima.
O coitado chorou, mas o irmão não podia levantar a escada, pois a mesma pesava muito. Então o pobre ficou lá no alto da pedra, até que chegou a mãe do filhote.
— Que estás fazendo aqui?
— Vim tirar penas do filhote de passarão.
— Por que maltratas meu filho?
O índio ficou morando com o passarão. Passou lá cerca de um ano, casou com sua filha. Depois, tirou xiririca, mastigou-a e esfregou-a nos braços, o que fez nascerem penas. O passarão começou a ensiná-lo a voar até que ele voou, chegando à beira de uma lagoa.
O passarão, que era sogro do rapaz, pois a mulher dele era sua filha, determinou:
— Leva a tarrafa de cipó que está debaixo do cajueiro bravo e enfia a mão na boca da jiboia.
Foi ao pé do cajueiro bravo e encontrou a jibóia. Esta mostrou a língua e sibilou. O rapaz ficou com medo mas, assim mesmo, enfiou-lhe a mão na boca. Então ela virou tarrafa, ele apanhou-a para pescar.
Depois da pesca, deixou a tarrafa no seu lugar, como o sogro havia aconselhado. Assim que a tarrafa foi largada, virou cobra e o rapaz tomou o caminho da casa.
Lá chegando, o sogro mandou-o buscar água na lagoa dos mururus. Ele obedeceu e de volta comeu peixe cru. Mais tarde, o sogro mandou-o buscar beijus de farinha e beijus de tapioca em sua casa.
Quando o índio voltou à sua aldeia, todos ficaram pasmos.
— Venho aqui buscar beijus de tapioca para fumar; para o passarão, fumo é beiju...
A mãe do rapaz perguntou:
— Onde ficaste tanto tempo, meu filho? Chorei tanto por tua causa!
Ele respondeu:
— Na casa de meu sogro, o passarão.
— Não é teu sogro, pois passarão não é gente.
— Pois eu fiquei lá de verdade. Não quero beiju, quero tabaco para êle pitar.
Quando o rapaz chegou à rocha Téu-téu, o sogro foi perguntando:
— Trouxeste tabaco, beiju de tapioca, para eu pitar bastante?
Ele entregou o que trazia. Então o sogro fumou e tornou a mandá-lo à casa do pai, dizendo:
— Queres levar um anzol para pescar na volta?
A mulher dele assanhou:
— Eu quero ir também, atrás de ti!
— Ora essa! Pois vamos! Partiram e chegaram à casa da mãe dele.
Pôs-se a gritar:
— Acorda logo, mãe!
— Eu já acordei. Tu por aqui? Voltaste?
— Vim passear de novo.
— Então, entra.
— Com quem foi que vieste?
— Vim com minha mulher.
— Onde está tua mulher?
— Vai espiar a fala com ela. A mãe saiu para o terreiro.
— É esta a tua mulher? Só vejo um passarão!
Diante disso, a mulher zangou-se e voou para a casa do pai. Este ao vê-la, perguntou:
— Por quê voltaste tão cedo? Deixaste lá o marido?
Ela respondeu:
— A mãe dele insultou-me. Meu marido está chegando, a pé. O sogro esbravejou:
— Pois há de voltar, também a pé!
Dali a pouco, o índio apareceu na rocha Téu-téu e quis subir, mas não pôde. O passarão gritou-lhe lá de cima:
— Não gosto mais de ti, genro. Tu és feio. Tua mãe zangou-se com minha filha. Chamou-a de passarão... Volta já para tua casa!
Ele obedeceu, chegou à casa da mãe, pendurou a patrona no poste. Dali a pouco o irmão chegou, bêbedo, pois tinha estado em outra casa. Tirou do poste a patrona pintada e atirou-a no meio da sala, remexendo nos guardados. E riu:
— Que anzol é este? Quem pode pescar com um anzol assim?
O irmão respondeu:
— Experimenta na tua boca.
O bêbedo botou o anzol na boca e sentiu uma grande dor. Quis tirar o anzol mas não pôde, pois estava enganchado.
Então o outro, que fora abandonado na rocha Téu-téu, disse:
— Isso é para pagar o que me fizeste!
E o outro chorou por causa do anzol. Então o irmão tirou-lhe o anzol da boca, porque doía muito.
Diante disso, fizeram as pazes e o marido do passarão ficou morando na casa da mãe.
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