art by Larry Woromay - Marvel Tales #119 - Atlas Comics, 1953.
Monday, 19 May 2014
Sunday, 18 May 2014
Untitled Poem by José Thiesen (in Portuguese)
Quando tu me sorriste
Foi o céu se abrindo
E eu corri por campinas
Verdes, verdes,
Gloriosamente verdes.
Quando tu te chegaste
Eu quiz fugir assustado,
Mas te recebi como se
Fosses uma chuva de
Pétalas de rosas.
Quando tu te foste
Eu morri um pouco.
Corvos negros voaram
Em torno de mim.
Corvos que matei, lentamente.
Foi o céu se abrindo
E eu corri por campinas
Verdes, verdes,
Gloriosamente verdes.
Quando tu te chegaste
Eu quiz fugir assustado,
Mas te recebi como se
Fosses uma chuva de
Pétalas de rosas.
Quando tu te foste
Eu morri um pouco.
Corvos negros voaram
Em torno de mim.
Corvos que matei, lentamente.
Saturday, 17 May 2014
"A Manhã Negra" by José Thiesen (in Portuguese)
Aquela manhã de agosto surgiu negra.
O vento uivava, correndo louco pelas esquinas e a própria natureza se encolhia, dobrava-se sobre si mesma com frio e medo.
Ele acendeu o toco de vela, encontrado a custo, pois já a dias não havia eletricidade. Tremia, por causa da febre alta.
Não tinha forças nem disposição para procurar um castiçal, então apenas pingou um pouco da própria cera sobre o topo do ecrã de seu computador, aplicando a vela sobre os pingos,
A luz da vela revelou o estampado bonito da cortina que caia por trás do computador, escolhida por Marta, sua esposa, morta ali no quarto, já a algumas semanas. Ninguém havia para promover enterros e ele estava fraco demais para o fazer.
O cão era uma bola de pelos negra, morta a dias, depois da febre alta
Estranho como não se importava mais com o cheiro dos cadáveres.
Estranho como não se importava mais com o cheiro dos cadáveres.
Tentou jogar o o fósforo longe, mas estava fraco demais para isso e o fósforo caiu ao seus pés. Tremia de febre e pavor, pois sabia que ia morrer.
Dez meses antes o noticiário anunciava uma gripe forte que virara epidemia e depois pandemia. Doença nova, febre alta e morte; tudo muito lento, para que se sentisse morrer. Crueldade de Deus, diziam.
...e Morte triunfava!
Já não há mais eletricidade, mas antes disso já não havia quem anunciasse o noticiário na TV ou imprimisse jornais e ele não podia saber se ainda havia cientistas a trabalhar numa cura para a febre.
Por algum tempo ele ligara a esmo para os números telefônicos do catálogo que tinha em casa, mas em vão. Alguns não atendiam, outros, eternamente ocupados.
Febre, morte e solidão.
Talvez ele fosse o último ser humano vivo.
Mas agora, estava em pé, trêmulo, olhando a chama da vela a tremilicar.
Por quanto tempo não comia? Sem importância. Os olhos perdidos dentro da chama da vela.
Uma fraqueza súbita afloxou-lhe os joelhos e ele caiu; bateu com a cabeça na mesa do computador que estremeceu ao choque e fez a vela cair para o chão, para perto das cortinas.
Apesar de sua fraqueza, ele tentou até sorrir do fato de que, com todo esse movimento a chama se não apagou, mas alcaçou a cortina e começou a lambê-la, escalando-a e atingindo o teto, correndo pelas paredes e detendo-se por um algum tempo na estante com livros para depois prosseguir adiante..
Lentamente, o pequeno pingo de luz tornou-se um mundo de chamas que o cercava lenta, pacientemente.
Subitamente compreendeu que não morreria por causa da febre, mas estava fraco demais para reagir e começou a chorar convulsiva, amargamente, consciente da culpa de desistir de viver.
Deixou-se ficar ali, dobrado sobre si mesmo, a chorar sem outro consolo que aquele oferecido pelos braços de fogo prestes a abraça-lo.
Friday, 16 May 2014
"Maracangalha" by Dorival Caymmi (in Portuguese)
Eu vou pra
Maracangalha eu vou
Eu vou de liforme
branco eu vou
Eu vou de chapéu
de palha eu vou
Eu vou convidar
Anália eu vou
Se Anália não
quiser ir eu vou só
Eu vou só
Eu vou só
Se Anália não
quiser ir eu vou só
Eu vou só
Eu vou só
Sem Anália, mas
eu vou.
You can hear "Maracangalha" sung by Dorival Caymmi here.
Thursday, 15 May 2014
"Benedícite" by Olavo Bilac (in Portuguese)
Bendito o que, na
terra, o fogo fez, ereto
E o que uniu a
charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou
a enxada e o que no chão abjeto,
Fez, aos beijos
do sol, o ouro brotar do trigo;
E o que o ferro
forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois
do berço e do lar, o jazigo;
E que os fios
urdiu; e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma
esmola ao primeiro mendigo.
E o que soltou ao
mar a quilha, e ao vento o pano;
E o que inventou
o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o
raio; e o que alçou o aeroplano.
Mas, bendito
entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a
esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o
dom de suportar o mundo.
Wednesday, 14 May 2014
"The Divine Comedy" by Dante Alighieri (Inferno: Canto VIII) (in Italian)
Inferno: Canto
VIII
Io dico,
seguitando, ch'assai prima
che noi fossimo al pie` de l'alta torre,
li occhi nostri n'andar suso a la cima
per due fiammette che i vedemmo porre
e un'altra da lungi render cenno
tanto ch'a pena il potea l'occhio torre.
E io mi volsi al
mar di tutto 'l senno;
dissi: <<Questo che dice? e che
risponde
quell'altro foco? e chi son quei che 'l
fenno?>>.
Ed elli a me:
<<Su per le sucide onde
gia` scorgere puoi quello che s'aspetta,
se 'l fummo del pantan nol ti
nasconde>>.
Corda non pinse
mai da se' saetta
che si` corresse via per l'aere snella,
com'io vidi una nave piccioletta
venir per l'acqua
verso noi in quella,
sotto 'l governo d'un sol galeoto,
che gridava: <<Or se' giunta, anima
fella!>>.
<<Flegias,
Flegias, tu gridi a voto>>,
disse lo mio segnore <<a questa volta:
piu` non ci avrai che sol passando il
loto>>.
Qual e` colui che
grande inganno ascolta
che li sia fatto, e poi se ne rammarca,
fecesi Flegias ne l'ira accolta.
Lo duca mio
discese ne la barca,
e poi mi fece intrare appresso lui;
e sol quand'io fui dentro parve carca.
Tosto che 'l duca
e io nel legno fui,
segando se ne va l'antica prora
de l'acqua piu` che non suol con altrui.
Mentre noi
corravam la morta gora,
dinanzi mi si fece un pien di fango,
e disse: <<Chi se' tu che vieni anzi
ora?>>.
E io a lui:
<<S'i' vegno, non rimango;
ma tu chi se', che si` se' fatto
brutto?>>.
Rispuose: <<Vedi che son un che
piango>>.
E io a lui:
<<Con piangere e con lutto,
spirito maladetto, ti rimani;
ch'i' ti conosco, ancor sie lordo
tutto>>.
Allor distese al
legno ambo le mani;
per che 'l maestro accorto lo sospinse,
dicendo: <<Via costa` con li altri
cani!>>.
Lo collo poi con
le braccia mi cinse;
basciommi 'l volto, e disse: <<Alma
sdegnosa,
benedetta colei che 'n te s'incinse!
Quei fu al mondo
persona orgogliosa;
bonta` non e` che sua memoria fregi:
cosi` s'e` l'ombra sua qui furiosa.
Quanti si tegnon
or la` su` gran regi
che qui staranno come porci in brago,
di se' lasciando orribili dispregi!>>.
E io:
<<Maestro, molto sarei vago
di vederlo attuffare in questa broda
prima che noi uscissimo del lago>>.
Ed elli a me:
<<Avante che la proda
ti si lasci veder, tu sarai sazio:
di tal disio convien che tu goda>>.
Dopo cio` poco
vid'io quello strazio
far di costui a le fangose genti,
che Dio ancor ne lodo e ne ringrazio.
Tutti gridavano:
<<A Filippo Argenti!>>;
e 'l fiorentino spirito bizzarro
in se' medesmo si volvea co' denti.
Quivi il
lasciammo, che piu` non ne narro;
ma ne l'orecchie mi percosse un duolo,
per ch'io avante l'occhio intento sbarro.
Lo buon maestro
disse: <<Omai, figliuolo,
s'appressa la citta` c'ha nome Dite,
coi gravi cittadin, col grande
stuolo>>.
E io:
<<Maestro, gia` le sue meschite
la` entro certe ne la valle cerno,
vermiglie come se di foco uscite
fossero>>.
Ed ei mi disse: <<Il foco etterno
ch'entro l'affoca le dimostra rosse,
come tu vedi in questo basso inferno>>.
Noi pur giugnemmo
dentro a l'alte fosse
che vallan quella terra sconsolata:
le mura mi parean che ferro fosse.
Non sanza prima
far grande aggirata,
venimmo in parte dove il nocchier forte
<<Usciteci>>, grido`: <<qui
e` l'intrata>>.
Io vidi piu` di mille in su le porte
da ciel piovuti, che stizzosamente
dicean: <<Chi e` costui che sanza morte
va per lo regno
de la morta gente?>>.
E 'l savio mio maestro fece segno
di voler lor parlar segretamente.
Allor chiusero un
poco il gran disdegno,
e disser: <<Vien tu solo, e quei sen
vada,
che si` ardito intro` per questo regno.
Sol si ritorni
per la folle strada:
pruovi, se sa; che' tu qui rimarrai
che li ha' iscorta si` buia contrada>>.
Pensa, lettor, se
io mi sconfortai
nel suon de le parole maladette,
che' non credetti ritornarci mai.
<<O caro
duca mio, che piu` di sette
volte m'hai sicurta` renduta e tratto
d'alto periglio che 'ncontra mi stette,
non mi
lasciar>>, diss'io, <<cosi` disfatto;
e se 'l passar piu` oltre ci e` negato,
ritroviam l'orme nostre insieme
ratto>>.
E quel segnor che
li` m'avea menato,
mi disse: <<Non temer; che' 'l nostro
passo
non ci puo` torre alcun: da tal n'e` dato.
Ma qui m'attendi,
e lo spirito lasso
conforta e ciba di speranza buona,
ch'i' non ti lascero` nel mondo
basso>>.
Cosi` sen va, e
quivi m'abbandona
lo dolce padre, e io rimagno in forse,
che si` e no nel capo mi tenciona.
Udir non potti quello ch'a lor porse;
ma ei non stette la`
con essi guari,
che ciascun dentro a pruova si ricorse.
Chiuser le porte
que' nostri avversari
nel petto al mio segnor, che fuor rimase,
e rivolsesi a me con passi rari.
Li occhi a la terra
e le ciglia avea rase
d'ogne baldanza, e dicea ne' sospiri:
<<Chi m'ha negate le dolenti
case!>>.
E a me disse:
<<Tu, perch'io m'adiri,
non sbigottir, ch'io vincero` la prova,
qual ch'a la difension dentro s'aggiri.
Questa lor
tracotanza non e` nova;
che' gia` l'usaro a men segreta porta,
la qual sanza serrame ancor si trova.
Sovr'essa
vedestu` la scritta morta:
e gia` di qua da lei discende l'erta,
passando per li cerchi sanza scorta,
tal che per lui
ne fia la terra aperta>>.
Tuesday, 13 May 2014
"Como Nuvens que Passam" (Final) by José Thiesen (in Portuguese)
Canto XII
Um ano depois de nossa declaração de amor, eu e Berto compramos um pedacito
de terra em Treviso. Continha uma bela casa que ficaria melhor depois de alguns
reparos; então Berto foi reparar o telhado, caiu e quebou o pescoço.
Ao contrário de mim, não sentiu dor.
Desabafei minha mágoa com Eduardo por carta e agarrei-me àquela terra com
fúria! Passaram-se anos como se fossem horas e nelas não tive tempo de pensar em nada. Trabalhava como bebe o ébrio para fugir à sua dor.
Uma carta de Eduardo avisa-me de sua chegada para uma longa estadia.
Alguns meses depois de sua chegada, começaram os tremores em minhas mãos,
muito levemente.
Hoje, enquanto escrevo, minhas mãos tremem ainda mais. Devia ser
reumatismo, mas foi um engano do médico e o resultado de um longo tratamento
errado foi que a infecção tomou conta de meu corpo.
Sei que estou morrendo, mas não tenho medo. Espero-a como se fora minha noiva. Eduardo se tem desdobrado em cuidados de mim.
...estou mesmo muito cansado.
Sem ciúmes, Berto entra em nosso quarto e choro quando ele me beija.
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