Sunday, 21 September 2014

Letter from Guigo I to a Friend About the Life in Solitude (translated into Portuguese)


    Ao Reverendo…, Guigo, o menor dos servos da Cruz que estão em Chartreuse: « Viver e morrer por Cristo » (Cf. Fl 1,21).
    Um imagina feliz o outro. A meu ver, aquele que o é verdadeiramente não é o ambicioso que luta para conseguir honras altivas num palácio, mas aquele que escolhe levar uma vida simples e pobre no deserto, que gosta de aplicar-se à sabedoria no repouso, e deseja com ardor permanecer sentado e solitário no silêncio (Cf. Lm 3,28).
    Porque, brilhar nas honras, estar elevado em dignidade, é, a meu ver, cosia pouco tranqüila, exposta a perigos, sujeita a cuidados, suspeita para muitos, e para ninguém segura. Alegre no princípio, equívoca com a prática, é triste no seu termo. Aplaude os indignos, indigna-se contra os bons, e a maioria das vezes, zomba de uns e de outros. Fazendo muitos infelizes, não faz ninguém feliz, nem satisfeito.
    Em compensação, a vida pobre e solitária, pesada no começo, fácil no seu curso, torna-se no fim celeste. Está firme nas provas, confiante nas incertezas, modesta no êxito. É frugal na alimentação, simples no vestir, reservada nas palavras, casta nos costumes, e objeto dos maiores desejos porque não deseja absolutamente nada. Sente muitas vezes o aguilhão do arrependimento pelos seus pecados passados, evita-os no presente e previne-se contra eles no futuro. Espera na misericórdia, mas não contam com os seus méritos. Aspirando vivamente aos bens celestiais, rejeita os da terra. Esforça-se por adquirir uma conduta provada, mantém-se nela com perseverança, e guarda-a para sempre. Entrega-se aos jejuns pelo hábito da Cruz, mas aceita alimentos por exigência do corpo. Dispõe uma e outra coisa com a mais perfeita medida; com efeito, domina a gula sempre que decide comer, e o orgulho, sempre que quer jejuar. Dedica-se ao estudo, mas sobretudo das Escrituras e de obras religiosas nas quais o miolo do sentido a mantém mais ocupada que a escuma das palavras. E, o que é mais surpreendente e mais admirável, permanece sem cessar no repouso, e, ao mesmo tempo, nunca está ociosa. Multiplica as suas ocupações, de modo a faltar-lhe a maioria das vezes o tempo mais que atividades diversas. E lamenta-se mais freqüentemente da falta de tempo que do aborrecimento do trabalho.
    E que mais dizer? É um belo tema aconselhar o repouso, mas semelhante exortação exige um espírito senhor de si que, cuidadoso com o seu próprio bem, desdenhe intrometer-se nos assuntos públicos ou alheios; um espírito que sirva sob Cristo na paz de forma a evitar ser simultaneamente soldado de Deus e defensor do mundo, e que saiba perfeitamente que não pode gozar aqui com este século e reinar no outro com o Senhor.
    Mas estas coisas e outras semelhantes são muito pouco se te lembras do que bebeu sobre o patíbulo Aquele que te convida a reinar com Ele. De bom ou mal grado, importa-te seguir o exemplo de Cristo na sua pobreza, se queres ter parte em Cristo nas suas riquezas. « Se participamos nos seus sofrimentos, diz o Apóstolo, « reinaremos também com Ele » (Rm 8,17), « Se morremos com Cristo, viveremos também com Ele » (2Tim 2, 11-12). O próprio Mediador respondeu aos dois discípulos que Lhe pediam para se sentarem um à sua direita e o outro à sua esquerda : « Podeis beber o cálice que Eu vou beber? » (Mt. 20, 21-22). Mostrava-nos deste modo que se chega aos festins prometidos dos Patriarcas e ao néctar das taças celestes pelos cálices das amarguras terrestres.
    E porque a amizade já alimenta a confiança e que tu, meu apreciado amigo em Cristo, sempre me foste caro desde o dia em que te conheci, exorto-te, animo-te e peço-te, visto que és prudente, ponderado, sábio e muito hábil, que subtraias ao mundo esse pouco da tua vida que ainda não foi consumido; não tardes em queimá-lo para Deus, como um sacrifício vespertino (Ps 140,2), depondo-o sobre o fogo da caridade (Cf. Lv 1,17), a fim de que, a exemplo de Cristo, sejas tu próprio sacerdote e também « Vitima (em sacrifício de) agradável odor para Deus » (Ef 5,2) e para os homens.
    Mas, a fim de compreenderes mais plenamente para onde tende o ardor de todo este discurso, indico brevemente à prudência do teu juízo qual é o voto do meu coração e ao mesmo tempo o seu conselho: como homem de coração generoso e nobre, abraça o nosso gênero de vida, tendo em vista a tua salvação eterna, e, feito novo recruta de Cristo, vigiarás, fazendo uma guarda santa no campo da milícia celeste, depois de teres posto à cinta a tua espada (2Tm 2,11-12), por causa dos temores da noite (Ct 3,8).
    Portanto, como se trata para ti duma coisa boa no seu empreendimento, fácil na sua realização e feliz no seu acabamento, peço-te que ponhas na consecução de um tão justo “negócio” tanta aplicação quanta a graça divina para tal te conceder. Onde e quando deves fazê-lo, deixo a escolha decisiva disso à tua sagacidade. Mas não creio de forma nenhuma que um prazo ou demora nisso seja algo vantajoso para ti.
    Mas não me alongarei mais sobre tal assunto, receoso de que este discurso rude e deselegante te moleste como freqüentador do Palácio e da Corte. Tenha, pois, esta carta um fim e uma medida, coisa que não terá nunca o meu grande afeto por ti.

Saturday, 20 September 2014

“The Crosses Grow On Anzio” by Audie Murphy (in English)



Oh, gather 'round me, comrades; and
listen while I speak
Of a war, a war, a war where hell is
six feet deep.
Along the shore, the cannons roar. Oh
how can a soldier sleep?
The going's slow on Anzio. And hell is
six feet deep.

Praise be to God for this captured sod that
rich with blood does seep.
With yours and mine, like butchered
swine's; and hell is six feet deep.
That death awaits there's no debate;
no triumph will we reap.
The crosses grow on Anzio, where hell is
six feet deep.

1948

Friday, 19 September 2014

“Rosa Morena” by Dorival Caymmi (in Portuguese)



Onde vais morena Rosa
Com essa rosa no cabelo
E esse andar de moça prosa

Morena
Morena Rosa

Rosa morena o samba está esperando
Esperando pra te ver
Deixa de lado esta coisa de dengosa
Anda, Rosa, vem me ver

Deixa de lado esta pose
Vem pro samba vem sambar
Que o pessoal tá cansado de esperar
Ó Rosa
Que o pessoal tá cansado de esperar
Morena Rosa
Que o pessoal tá cansado de esperar
Viu Rosa?

"Rosa Morena" sung by João Gilberto

Thursday, 18 September 2014

“A Esmola” by Belmiro Braga (in Portuguese)



Ao pobre dando esmola não procuro
transformar o meu ato num troféu,
porque ela apenas representa o juro
de quantia maior que devo ao céu.

À minha esmola, muito embora pouca,
junto palavras de consolação:
assim como alimenta o pão à boca,
alimenta o carinho ao coração.

A esmola sempre deve ser oculta
aos olhares do próximo, porque,
quanto mais a escondermos, mais avulta
ela aos olhos de Deus, que tudo vê...

Wednesday, 17 September 2014

“The Divine Comedy” by Dante Alighieri (Inferno: Canto XIII) (in Italian)



Inferno: Canto XIII

Non era ancor di la` Nesso arrivato,
  quando noi ci mettemmo per un bosco
  che da neun sentiero era segnato.

Non fronda verde, ma di color fosco;
  non rami schietti, ma nodosi e 'nvolti;
  non pomi v'eran, ma stecchi con tosco:

non han si` aspri sterpi ne' si` folti
  quelle fiere selvagge che 'n odio hanno
  tra Cecina e Corneto i luoghi colti.

Quivi le brutte Arpie lor nidi fanno,
  che cacciar de le Strofade i Troiani
  con tristo annunzio di futuro danno.

Ali hanno late, e colli e visi umani,
  pie` con artigli, e pennuto 'l gran ventre;
  fanno lamenti in su li alberi strani.

E 'l buon maestro <<Prima che piu` entre,
  sappi che se' nel secondo girone>>,
  mi comincio` a dire, <<e sarai mentre

che tu verrai ne l'orribil sabbione.
  Pero` riguarda ben; si` vederai
  cose che torrien fede al mio sermone>>.

Io sentia d'ogne parte trarre guai,
  e non vedea persona che 'l facesse;
  per ch'io tutto smarrito m'arrestai.

Cred'io ch'ei credette ch'io credesse
  che tante voci uscisser, tra quei bronchi
  da gente che per noi si nascondesse.

Pero` disse 'l maestro: <<Se tu tronchi
  qualche fraschetta d'una d'este piante,
  li pensier c'hai si faran tutti monchi>>.

Allor porsi la mano un poco avante,
  e colsi un ramicel da un gran pruno;
  e 'l tronco suo grido`: <<Perche' mi schiante?>>.

Da che fatto fu poi di sangue bruno,
  ricomincio` a dir: <<Perche' mi scerpi?
  non hai tu spirto di pietade alcuno?

Uomini fummo, e or siam fatti sterpi:
  ben dovrebb'esser la tua man piu` pia,
  se state fossimo anime di serpi>>.

Come d'un stizzo verde ch'arso sia
  da l'un de'capi, che da l'altro geme
  e cigola per vento che va via,

si` de la scheggia rotta usciva insieme
  parole e sangue; ond'io lasciai la cima
  cadere, e stetti come l'uom che teme.

<<S'elli avesse potuto creder prima>>,
  rispuose 'l savio mio, <<anima lesa,
  cio` c'ha veduto pur con la mia rima,

non averebbe in te la man distesa;
  ma la cosa incredibile mi fece
  indurlo ad ovra ch'a me stesso pesa.

Ma dilli chi tu fosti, si` che 'n vece
  d'alcun'ammenda tua fama rinfreschi
  nel mondo su`, dove tornar li lece>>.

E 'l tronco: <<Si` col dolce dir m'adeschi,
  ch'i' non posso tacere; e voi non gravi
  perch'io un poco a ragionar m'inveschi.

Io son colui che tenni ambo le chiavi
  del cor di Federigo, e che le volsi,
  serrando e diserrando, si` soavi,

che dal secreto suo quasi ogn'uom tolsi:
  fede portai al glorioso offizio,
  tanto ch'i' ne perde' li sonni e ' polsi.

La meretrice che mai da l'ospizio
  di Cesare non torse li occhi putti,
  morte comune e de le corti vizio,

infiammo` contra me li animi tutti;
  e li 'nfiammati infiammar si` Augusto,
  che ' lieti onor tornaro in tristi lutti.

L'animo mio, per disdegnoso gusto,
  credendo col morir fuggir disdegno,
  ingiusto fece me contra me giusto.

Per le nove radici d'esto legno
  vi giuro che gia` mai non ruppi fede
  al mio segnor, che fu d'onor si` degno.

E se di voi alcun nel mondo riede,
  conforti la memoria mia, che giace
  ancor del colpo che 'nvidia le diede>>.

Un poco attese, e poi <<Da ch'el si tace>>,
  disse 'l poeta a me, <<non perder l'ora;
  ma parla, e chiedi a lui, se piu` ti piace>>.

Ond'io a lui: <<Domandal tu ancora
  di quel che credi ch'a me satisfaccia;
  ch'i' non potrei, tanta pieta` m'accora>>.

Percio` ricomincio`: <<Se l'om ti faccia
  liberamente cio` che 'l tuo dir priega,
  spirito incarcerato, ancor ti piaccia

di dirne come l'anima si lega
  in questi nocchi; e dinne, se tu puoi,
  s'alcuna mai di tai membra si spiega>>.

Allor soffio` il tronco forte, e poi
  si converti` quel vento in cotal voce:
  <<Brievemente sara` risposto a voi.

Quando si parte l'anima feroce
  dal corpo ond'ella stessa s'e` disvelta,
  Minos la manda a la settima foce.

Cade in la selva, e non l'e` parte scelta;
  ma la` dove fortuna la balestra,
  quivi germoglia come gran di spelta.

Surge in vermena e in pianta silvestra:
  l'Arpie, pascendo poi de le sue foglie,
  fanno dolore, e al dolor fenestra.

Come l'altre verrem per nostre spoglie,
  ma non pero` ch'alcuna sen rivesta,
  che' non e` giusto aver cio` ch'om si toglie.

Qui le trascineremo, e per la mesta
  selva saranno i nostri corpi appesi,
  ciascuno al prun de l'ombra sua molesta>>.

Noi eravamo ancora al tronco attesi,
  credendo ch'altro ne volesse dire,
  quando noi fummo d'un romor sorpresi,

similemente a colui che venire
  sente 'l porco e la caccia a la sua posta,
  ch'ode le bestie, e le frasche stormire.

Ed ecco due da la sinistra costa,
  nudi e graffiati, fuggendo si` forte,
  che de la selva rompieno ogni rosta.

Quel dinanzi: <<Or accorri, accorri, morte!>>.
  E l'altro, cui pareva tardar troppo,
  gridava: <<Lano, si` non furo accorte

le gambe tue a le giostre dal Toppo!>>.
  E poi che forse li fallia la lena,
  di se' e d'un cespuglio fece un groppo.

Di rietro a loro era la selva piena
  di nere cagne, bramose e correnti
  come veltri ch'uscisser di catena.

In quel che s'appiatto` miser li denti,
  e quel dilaceraro a brano a brano;
  poi sen portar quelle membra dolenti.

Presemi allor la mia scorta per mano,
  e menommi al cespuglio che piangea,
  per le rotture sanguinenti in vano.

<<O Iacopo>>, dicea, <<da Santo Andrea,
  che t'e` giovato di me fare schermo?
  che colpa ho io de la tua vita rea?>>.

Quando 'l maestro fu sovr'esso fermo,
  disse <<Chi fosti, che per tante punte
  soffi con sangue doloroso sermo?>>.

Ed elli a noi: <<O anime che giunte
  siete a veder lo strazio disonesto
  c'ha le mie fronde si` da me disgiunte,

raccoglietele al pie` del tristo cesto.
  I' fui de la citta` che nel Batista
  muto` il primo padrone; ond'ei per questo

sempre con l'arte sua la fara` trista;
  e se non fosse che 'n sul passo d'Arno
  rimane ancor di lui alcuna vista,

que' cittadin che poi la rifondarno
  sovra 'l cener che d'Attila rimase,
  avrebber fatto lavorare indarno.

Io fei gibbetto a me de le mie case>>.

Tuesday, 16 September 2014

"O Sorriso do Tio Pavel Pleffel" (Chapter IX) by José Thiesen (in Portuguese)



            A nuvem estendia-se  para além da vista e sobre ela, uma infinidade de aves em torno de uma grande mesa repleta da melhor comida e bebida.
            Ao verem que o sr. Pavel chegara, as aves vieram em vôo ou corrida para ele e o rodearam, cumprimentando-o num coro uníssono cuja beleza jamais voltei a ouvir.
            - Heis que sempre viestes, exclamou uma ave esquisita.
            - Venerável Dodô! Eu jamais faltaria a um convite seu!
            - E este é o seu novo amigo?
            - Um dos filhos da Terra.
            - E o filho da Terra não fala?
            - Falo, sim, disse quase atrevido, para afastar de mim qualquer idéia de intimidação.
            - E como é o teu nominho?
            - Sérgio. E o teu?
            - Sou o Venerável Dodô.
            - Venerável?
           - Porque sou o último de minha espécie. Mas venham, Pavel e Sério! Desfrutem de nossa festa no céu!
            A festa no céu!
           O sr. Pavel logo deixou-me só, solicitado que era por todas as aves que, obviamente, lhe davam a mais alta importância.
           Acerquei-me da mesa, repleta de a comida mais extravagante que comida, colorida, perfumada e muito, muito gostosa.
            Eu sentia-me desajustado, ali, pois nunca estivera tão só, rodeado de seres estranhos a mim. Estava acostumado a espantar pardais e pombos na calçada, mas aqui, eram eles que me poderiam jogar para fora da nuvem. Mas este sentimento de desajustamento parecia ser somente meu, pois as aves aceitavam-me com a indiferença de eu ser um igual a elas.

"The Return of The Fugitive" by Eric Freiwald and Robert Schaefer (in English)

art by  Russ Manning - Four Color #1291 – Dell, March 1962.