Wednesday, 21 May 2014

"Noites Rubras" by José Thiesen (in Portuguese)

TRECHO DO DEPOIMENTO DE NORTON OLIVEIRA DO NASCIMENTO, PRESTADO SOB JURAMENTO, EM RELAÇÃO AO ASSASSINATO DE SUA IRMÃ MÔNICA OLIVEIRA DO NASCIMENTO, EM 15 DE MAIO DE 1975 EM PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL.

DEPOIMENTO PRESTADO EM 17 DE MAIO DE 1975 NO PALÁCIO DA POLÍCIA DE PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL.

P.: Seu nome?

R.: Norton Oliveira do Nascimento.

P.: Data de nascimento?

R.: 24 de Outubro de 1956.

P.: Seu endereço?

R.: Moro com meus pais na rua Anita Garibaldi, nº64, apartamento 12.

P.: Como o sr. soube da morte de sua irmã?

R.: Estávamos à mesa para o jantar, por volta das 20 horas e Mônica não vinha,  apesar dos chamados de minha mãe. Então ela, minha mãe resolveu bater na porta do quarto de Mônica, mas não teve resposta. Eu e meu pai estávamos sentados à mesa e ouvimos os gritos de horror de mamãe. Corremos a acudi-la, eu e meu pai e...

P.:Pode descrever como encontrou sua irmã?

R.: Ela estava no solo, as pernas dobradas, viradas pra sua esquerda, assim como a sua cabeça. O... o pescoço estava... aberto... 

P.: Algo lhe chamou a atenção em particular?

R.: Acho que... acho que a primeira coisa que reparei foi espressão de sua face.

P.: O que, exatamente?

R.: Ela tinha a... garganta rasgada, mas sua espressão não era de dor, mas serena, com um quê de surpresa. Coisa louca, não? ela não pareceu sentir dor!

P.: O legista estabeleceu que a ferida foi feita enquanto ela estava viva. Ele também percebeu a expressão serena de sua irmã.

R.: Sabem o que foi que ele usou para a matar?

P.: Ele quem?

R.: Jairo!

P.: Segundo o legista, a laceração que sua irmã sofreu foi feita com... uma garra ou unha.

R.: O quê?

P.: A morte de sua irmã nos tem colocado diante de muitas questões estranhas. Não temos nenhuma razão para pensar que Jairo Alencar seja o assassino. Sua irmã morreu no décimo segundo andar de seu prédio, como sabe, e ninguém viu Jairo entrar ou sair do prédio.

R.: Mas tem que ser ele! Ele já matou aquele amigo dele, não matou?

Tuesday, 20 May 2014

"12 Angry Men" by Reginald Rose (in English)



Juror #8: [justifying his reason for voting "not guilty"] I just think we owe him a few words, that's all.

Juror #10: I don't mind telling you this, mister: we don't owe him a thing. He got a fair trial, didn't he? What do you think that trial cost? He's lucky he got it. Know what I mean? Now, look - we're all grown-ups in here. We heard the facts, didn't we? You're not gonna tell me that we're supposed to believe this kid, knowing what he is. Listen, I've lived among them all my life - you can't believe a word they say, you know that. I mean they're born liars.

Juror #9: Only an ignorant man can believe that.

Juror #10: Now, listen...

Juror #9: [gets up] Do you think you were born with a monopoly on the truth? [turns to Juror #8, indicating #10]  I think certain things should be pointed out to this man.


Juror #3: It's these kids - the way they are nowadays. When I was a kid I used to call my father, "Sir". That's right. "Sir". You ever hear a kid call his father that anymore?

Juror #8: Fathers don't seem to think it's important anymore.

Juror #3: [looking at him] You got any kids?

Juror #8: Three.

Juror #3: I got one. Twenty-two years old. [takes photo from his wallet and shows it to Juror #8]  Aah. When he was nine years old he ran away from a fight. I saw it; I was so embarrassed I almost threw up. I said, "I'm gonna make a man outta you if I have to break you in two tryin'". And I made a man out of him. When he was sixteen, we had a fight. Hit me in the jaw - a big kid. Haven't seen him for two years. Kids... work your heart out...

Sunday, 18 May 2014

Untitled Poem by José Thiesen (in Portuguese)

Quando tu me sorriste
Foi o céu se abrindo
E eu corri por campinas
Verdes, verdes,
Gloriosamente verdes.

Quando tu te chegaste
Eu quiz fugir assustado,
Mas te recebi como se
Fosses uma chuva de
Pétalas de rosas.

Quando tu te foste
Eu morri um pouco.
Corvos negros voaram
Em torno de mim.
Corvos que matei, lentamente.


Saturday, 17 May 2014

"A Manhã Negra" by José Thiesen (in Portuguese)

     Aquela manhã de agosto surgiu negra.

     O vento uivava, correndo louco pelas esquinas e a própria natureza se encolhia, dobrava-se sobre si mesma com frio e medo.

     Ele acendeu o toco de vela, encontrado a custo, pois já a dias não havia eletricidade. Tremia, por causa da febre alta.

     Não tinha forças nem disposição para procurar um castiçal, então apenas pingou um pouco da própria cera sobre o topo do ecrã de seu computador, aplicando a vela sobre os pingos,

      A luz da vela revelou o estampado bonito da cortina que caia por trás do computador, escolhida por Marta, sua esposa, morta ali no quarto, já a algumas semanas. Ninguém havia para promover enterros e ele estava fraco demais para o fazer.

     O cão era uma bola de pelos negra, morta a dias, depois da febre alta

     Estranho como não se importava mais com o cheiro dos cadáveres.

    Tentou jogar o o fósforo longe, mas estava fraco demais para isso e o fósforo caiu ao seus pés. Tremia de febre e pavor, pois sabia que ia morrer.

     Dez meses antes o noticiário anunciava uma gripe forte que virara epidemia e depois pandemia. Doença nova, febre alta e morte; tudo muito lento, para que se sentisse morrer. Crueldade de Deus, diziam.

                    ...e Morte triunfava!

     Já não há mais eletricidade, mas antes disso já não havia quem anunciasse o noticiário na TV ou imprimisse jornais e ele não podia saber se ainda havia cientistas a trabalhar numa cura para a febre.

     Por algum tempo ele ligara a esmo para os números telefônicos do catálogo que tinha em casa, mas em vão. Alguns não atendiam, outros, eternamente ocupados.

     Febre, morte e solidão.

     Talvez ele fosse o último ser humano vivo.

     Mas agora, estava em pé, trêmulo, olhando a chama da vela a tremilicar.

     Por quanto tempo não comia? Sem importância. Os olhos perdidos dentro da chama da vela.

    Uma fraqueza súbita afloxou-lhe os joelhos e ele caiu; bateu com a cabeça na mesa do computador que estremeceu ao choque e fez a vela cair para o chão, para perto das cortinas.

     Apesar de sua fraqueza, ele tentou até sorrir do fato de que, com todo esse movimento a chama se não apagou, mas alcaçou a cortina e começou a lambê-la, escalando-a e atingindo o teto, correndo pelas paredes e detendo-se por um algum tempo na estante com livros para depois prosseguir adiante..

   Lentamente, o pequeno pingo de luz tornou-se um mundo de chamas que o cercava lenta, pacientemente.

    Subitamente compreendeu que não morreria por causa da febre, mas estava fraco demais para reagir e começou a chorar convulsiva, amargamente, consciente da culpa de desistir de viver.

      Deixou-se ficar ali, dobrado sobre si mesmo, a chorar sem outro consolo que aquele oferecido pelos braços de fogo prestes a abraça-lo.

      






     
    
    

Friday, 16 May 2014

"Maracangalha" by Dorival Caymmi (in Portuguese)



Eu vou pra Maracangalha eu vou
Eu vou de liforme branco eu vou
Eu vou de chapéu de palha eu vou
Eu vou convidar Anália eu vou

Se Anália não quiser ir eu vou só
Eu vou só
Eu vou só
Se Anália não quiser ir eu vou só
Eu vou só
Eu vou só
Sem Anália, mas eu vou.


You can hear "Maracangalha" sung by Dorival Caymmi here.

Thursday, 15 May 2014

"Benedícite" by Olavo Bilac (in Portuguese)



Bendito o que, na terra, o fogo fez, ereto
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada e o que no chão abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E que os fios urdiu; e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo.

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano;
E o que inventou o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o raio; e o que alçou o aeroplano.

Mas, bendito entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo.